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Governos sobem juros para poder rolar suas dívidas
Nos EUA, salto na remuneração de títulos de longo prazo é o maior em 15 anos; Alemanha e Reino Unido seguem tendência
Gastos em alta e receitas em queda devem levar a relação
entre dívida federal e PIB
nos EUA dos atuais 44%
para cerca de 65% em 2010
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
O Tesouro norte-americano
deve emitir US$ 5 trilhões em
novos títulos neste ano e no
próximo para financiar pacotes
de estímulo fiscal e de ajuda ao
setor financeiro.
Já os 16 países da zona do euro emitirão US$ 2,6 trilhões em
novas dívidas. O Reino Unido,
US$ 800 bilhões.
Com as recentes medidas de
socorro à economia, os gastos
federais dos EUA aumentaram
37,6% neste ano. Mas as receitas com impostos caíram cerca
de 18%. Os títulos vendidos pelo Tesouro visam levantar dólares com investidores para tapar
esse rombo. O mesmo ocorre,
em diferentes proporções, em
vários outros países.
É essa combinação de gastos
maiores e receitas em queda
que deve elevar a dívida pública
dos EUA como proporção do
PIB (Produto Interno Bruto)
dos atuais 44% para 65% em
2010, segundo o Comitê de Orçamento do Congresso.
Segundo a Standard & Poor's,
essa relação chegará a 77% nos
próximos quatro anos. No Reino Unido, a proporção entre dívida e PIB praticamente dobrará, de 49% para 97%.
Nos EUA, isso significará um
aumento do endividamento
público dos já sem precedentes
US$ 6,3 trilhões para mais de
US$ 10 trilhões, o equivalente a
mais de oito PIBs do Brasil.
Na semana passada, o presidente do Fed (o banco central
dos EUA), Ben Bernanke, disse
que os EUA têm pela frente "escolhas difíceis a fazer", já que o
país "não pode continuar emprestando indefinidamente no
mercado".
Neste momento, a explosão
do endividamento, combinada
à expectativa de uma recuperação (ainda que fraca) da economia mundial, faz com que os juros que investidores exigem para comprar títulos dos EUA e
de outras economia avançadas
comecem a subir rapidamente.
Embora ainda em níveis historicamente baixos, o salto nos
juros pagos pelos "T-Bonds"
dos Estados Unidos entre o final de 2008 e a semana passada
foi o maior em 15 anos. A remuneração pulou de 2% ao ano em
dezembro para 3,5%. Na Alemanha, de 2,9% ao ano para
3,7%. No Reino Unido, de 3,4%
para 3,8% anuais.
Há dois motivos principais
para essa tendência de aumento dos juros exigidos de títulos
de governos: mais competição
pelo dinheiro dos investidores
em um cenário de recuperação
futura (com mais inflação) e o
aumento do risco de emprestar
para governos endividados.
Um problema adicional é que
juros maiores tendem a aprofundar ainda mais o nível de
endividamento dos EUA e de
outros países. Para tornar suas
dívidas sustentáveis, eles terão
em breve que fazer o que o Brasil faz: superávits primários,
economizando do Orçamento
para abater dívidas.
No médio prazo, os governos
terão de cortar gastos e aumentar impostos para combater esses rombos. "Daqui a pouco,
ouviremos cada vez mais a conversa sobre a necessidade de
aumentar impostos para trazer
esses déficits para uma zona de
controle", afirma Don Rissmil
ler, da Strategas Research.
Cada ponto percentual de
elevação na taxa de juros paga
pelos "T-Bonds" norte-americanos representa aumento de
US$ 50 bilhões na dívida.
Em dez anos, segundo o Orçamento dos EUA, o total de juros pagos pela dívida anualmente vai saltar de US$ 170 bilhões para US$ 806 bilhões.
O aumento dos juros dos títulos também visa atrair investidores que buscam opções
mais rentáveis, como as Bolsas
de Valores de países emergentes -o que explica o recente
salto nos mercados de Brasil,
Rússia, Índia e China.
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