São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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Governos sobem juros para poder rolar suas dívidas

Nos EUA, salto na remuneração de títulos de longo prazo é o maior em 15 anos; Alemanha e Reino Unido seguem tendência

Gastos em alta e receitas em queda devem levar a relação entre dívida federal e PIB nos EUA dos atuais 44% para cerca de 65% em 2010

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

O Tesouro norte-americano deve emitir US$ 5 trilhões em novos títulos neste ano e no próximo para financiar pacotes de estímulo fiscal e de ajuda ao setor financeiro.
Já os 16 países da zona do euro emitirão US$ 2,6 trilhões em novas dívidas. O Reino Unido, US$ 800 bilhões.
Com as recentes medidas de socorro à economia, os gastos federais dos EUA aumentaram 37,6% neste ano. Mas as receitas com impostos caíram cerca de 18%. Os títulos vendidos pelo Tesouro visam levantar dólares com investidores para tapar esse rombo. O mesmo ocorre, em diferentes proporções, em vários outros países.
É essa combinação de gastos maiores e receitas em queda que deve elevar a dívida pública dos EUA como proporção do PIB (Produto Interno Bruto) dos atuais 44% para 65% em 2010, segundo o Comitê de Orçamento do Congresso.
Segundo a Standard & Poor's, essa relação chegará a 77% nos próximos quatro anos. No Reino Unido, a proporção entre dívida e PIB praticamente dobrará, de 49% para 97%.
Nos EUA, isso significará um aumento do endividamento público dos já sem precedentes US$ 6,3 trilhões para mais de US$ 10 trilhões, o equivalente a mais de oito PIBs do Brasil.
Na semana passada, o presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, disse que os EUA têm pela frente "escolhas difíceis a fazer", já que o país "não pode continuar emprestando indefinidamente no mercado".
Neste momento, a explosão do endividamento, combinada à expectativa de uma recuperação (ainda que fraca) da economia mundial, faz com que os juros que investidores exigem para comprar títulos dos EUA e de outras economia avançadas comecem a subir rapidamente.
Embora ainda em níveis historicamente baixos, o salto nos juros pagos pelos "T-Bonds" dos Estados Unidos entre o final de 2008 e a semana passada foi o maior em 15 anos. A remuneração pulou de 2% ao ano em dezembro para 3,5%. Na Alemanha, de 2,9% ao ano para 3,7%. No Reino Unido, de 3,4% para 3,8% anuais.
Há dois motivos principais para essa tendência de aumento dos juros exigidos de títulos de governos: mais competição pelo dinheiro dos investidores em um cenário de recuperação futura (com mais inflação) e o aumento do risco de emprestar para governos endividados.
Um problema adicional é que juros maiores tendem a aprofundar ainda mais o nível de endividamento dos EUA e de outros países. Para tornar suas dívidas sustentáveis, eles terão em breve que fazer o que o Brasil faz: superávits primários, economizando do Orçamento para abater dívidas.
No médio prazo, os governos terão de cortar gastos e aumentar impostos para combater esses rombos. "Daqui a pouco, ouviremos cada vez mais a conversa sobre a necessidade de aumentar impostos para trazer esses déficits para uma zona de controle", afirma Don Rissmil ler, da Strategas Research.
Cada ponto percentual de elevação na taxa de juros paga pelos "T-Bonds" norte-americanos representa aumento de US$ 50 bilhões na dívida.
Em dez anos, segundo o Orçamento dos EUA, o total de juros pagos pela dívida anualmente vai saltar de US$ 170 bilhões para US$ 806 bilhões.
O aumento dos juros dos títulos também visa atrair investidores que buscam opções mais rentáveis, como as Bolsas de Valores de países emergentes -o que explica o recente salto nos mercados de Brasil, Rússia, Índia e China.


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