São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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PERDAS E DANOS

Valor de ações e volume de negócios desabam, e Bovespa tem o menor número de companhias listadas desde 79

Empresas encolhem US$ 40 bi em 6 meses


FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Algumas dezenas de bilhões de dólares desapareceram do mercado acionário paulista no 1º semestre do ano. As ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo viram evaporar US$ 40,2 bilhões de seu valor de mercado no período. À expressiva perda de valor dos papéis somou-se a regressão no número de empresas com capital aberto na Bovespa.
Até agora, 18 companhias deixaram de ter seus papéis negociados no pregão paulista em 2002. Isso levou a quantidade de empresas listadas na instituição a cair para 410 -o menor número desde 1979. Em 89, eram 592 as empresas com capital aberto.
A crise que assola o mercado de ações se reflete também no valor diário negociado no pregão. Somente em 1996 o movimento diário da Bolsa paulista foi inferior aos R$ 579 milhões registrados na média diariamente no ano.
As ações negociadas no mercado local valiam apenas US$ 145,2 bilhões no fim de junho, nível comparado apenas ao de setembro do ano passado, quando os atentados terroristas nos EUA sacudiram os mercados.
Os US$ 40,2 bilhões que as empresas listadas na Bolsa perderam de seu valor de mercado na primeira metade do ano equivalem ao preço em Bolsa das quatro maiores companhias de capital aberto do país -Petrobras, Vale do Rio Doce, Itaú e AmBev.

Sangria recorde
Nem mesmo com o preço dos papéis de empresas brasileiras no chão o investidor estrangeiro tem se interessado por eles. A fuga dos estrangeiros da Bovespa no mês passado foi a mais expressiva desde dezembro de 98. A sangria em junho superou R$ 1 bilhão.
Analistas afirmam que esse dinheiro não tem sido redirecionado para ADRs (American Depositary Receipts, certificados que representam a propriedade de ações de empresas estrangeiras), como já aconteceu em outros períodos de crise no mercado interno. O volume mensal negociado de ADRs em Nova York se manteve praticamente estável, próximo dos US$ 3 bilhões, nos últimos dois meses.
"A Bolsa local está extremamente barata em dólares, mas mesmo assim o estrangeiro não tem demonstrado interesse. Com os ADRs, o movimento de cautela é igual e deve permanecer assim até as eleições presidenciais [em outubro"", afirma o diretor de renda variável Bank Boston Asset Management, Júlio Ziegelmann.
Para o diretor de renda variável do HSBC Brain, Lúcio Graccho, o investidor estrangeiro está fugindo dos emergentes.
"Além disso, após os recentes escândalos de fraude de balanços de empresas dos EUA, a aversão ao risco do mercado acionário como um todo só tende a crescer."
No "semestre negro", a Bolsa paulista amargou seu pior desempenho em 30 anos, com queda acumulada de 18%.
Quando o valor das ações e o volume negociado caem muito, como tem acontecido neste ano, uma das principais funções da Bolsa, que é servir de fonte de recursos para as empresas de capital aberto, fica comprometida.
"Com as atuais condições do mercado, fechar o capital acaba se tornando atrativo para muitas empresas", diz Graccho.
A previsão de fortes turbulências para todo o mercado local pelo menos até a decisão das eleições deve continuar levando a Bolsa a outros recordes negativos.



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