São Paulo, domingo, 07 de julho de 2002

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FRAUDES DO CAPITAL

A fim de compensar perdas comescândalos contábeis, bancos reduzem exposição a emergentes

Brasil paga por crise de empresas nos EUA

MARCIO AITH
DE WASHINGTON

O colapso da economia argentina e a incerteza do processo eleitoral não são os únicos fatores que reduzem a disposição dos bancos a emprestar ao Brasil.
Para compensar enormes prejuízos que tiveram nos recentes escândalos contábeis nos EUA, grandes conglomerados financeiros americanos estão sendo pressionados a reduzir substancialmente o total de US$ 25 bilhões que mantêm no Brasil na forma de investimentos e empréstimos.
Dados disponíveis na SEC (a agência que policia os mercados nos EUA) e projeções de analistas mostram que existe uma identidade entre os grupos financeiros que elevaram suas exposições ao Brasil nos últimos anos e aqueles que mais sofreram com a quebra da Enron (protagonista da maior falência da história dos EUA) e com o escândalo da WorldCom (gigante das telecomunicações).
O JP Morgan Chase, um dos dois maiores conglomerados financeiros dos EUA, reconheceu que seus empréstimos à Enron somavam US$ 2,6 bilhões antes da quebra da companhia -apenas US$ 100 milhões a menos que sua exposição ao Brasil, avaliada hoje em US$ 2,7 bilhões. A instituição não divulgou o volume de seus empréstimos à WorldCom, estimados pelo mercado em torno de US$ 500 milhões.
O Citigroup, maior companhia de serviços financeiros dos EUA, tinha, em março, empréstimos e investimentos de cerca de US$ 12 bilhões no Brasil -quase a metade de toda a exposição de bancos norte-americanos no país.
Somadas, as perdas confirmadas do grupo com o colapso da Enron e seu prejuízo potencial devido aos problemas da WorldCom foram estimadas pelo mercado em US$ 2,5 bilhões.
A exposição do Bank of America ao mercado brasileiro era de US$ 2 bilhões em março. Suas perdas com a Enron foram de US$ 231 milhões. A instituição preferiu não divulgar o volume de seus empréstimos à WorldCom, o que tem gerado ilações negativas.
Os três bancos também têm operações com a Tyco International, Global Crossing, Xerox e Qwest Communications, outras companhias envolvidas em problemas contábeis recentes.
Embora um banco não esteja obrigado a reduzir sua exposição a um país devido a perdas com companhias distantes, essas compensações são corriqueiras e imediatas. Em vez de rolar empréstimos a empresas de países emergentes, instituições financeiras tendem a adotar uma postura defensiva, cortando linhas de crédito para solidificar seus balanços.
"O que está acontecendo no mundo nos grandes bancos é uma onda de conservadorismo", disse à Folha Carlos Novis Guimarães, diretor para a América Latina das operações de bancos de investimentos do Salomon Smith Barney, que pertence ao Citigroup. "Não há mais a atitude ambiciosa de investimento e de crescimento dos bancos, que ocorria quando o céu estava aberto e não havia nuvens no céu. Hoje, o céu está cinza e há trovões por todos os cantos. Está todo mundo procurando capa de chuva e guarda-chuva. A inclinação ao risco desabou."
Segundo Guimarães, as organizações financeiras norte-americanas são tão grandes que algumas falências corporativas não mudam o dia-a-dia de suas operações. "O problema é que são vários impactos juntos", disse.
O volume de novos empréstimos ao Brasil caiu de U$ 4,7 bilhões para U$ 2,9 bilhões entre os primeiros semestres de 2001 e de 2002. Para a América Latina, essa redução foi ainda mais drástica: caiu de U$ 17,32 bilhões para US$ 4,75 bilhões. Os números são da Loan Pricing Corporation, empresa que fornece informações a Wall Street e que teve acesso a dados das operações de bancos.



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