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LUÍS NASSIF
O neonacionalismo nascente
O novo pensamento estratégico brasileiro em gestação
poderia ser chamado de neonacionalismo. Emerge justo no momento em que morre o último representante do velho nacionalismo, Leonel Brizola.
Representa a soma dos estudos
sobre a integração competitiva,
desenvolvidos em meados dos
anos 80 no âmbito do BNDES
(Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da visão estratégica da Escola Superior
de Guerra, reelaborada nos anos
90, e da nova posição do Itamaraty, plasmada a partir da segunda metade dos anos 90.
Na economia, segue o pensamento do alemão Friedrick List e
do norte-americano Hamilton,
que no século 19 estudaram profundamente as raízes do desenvolvimento. List cunhou a expressão "chutando a escada", em que
demonstrava que os países hegemônicos desenvolviam determinadas práticas para conquistar o
centro. Depois, "chutavam a escada", demonizando as mesmas
práticas que adotaram para impedir que outros países viessem a
ameaçar sua hegemonia. E contavam, para tanto, com o complexo
de subdesenvolvimento da elite
da periferia -os tais que resumem projetos de país à "lição de
casa".
Os países que se industrializaram seguiram um roteiro comum:
1ª fase: país monoprodutor com
alguma vantagem comparativa,
comercializando com outros países e tentando aprender o que os
parceiros fazem.
2ª fase: defende e protege as técnicas que aprendeu, para se tornar efetivamente competitivo. É a
fase da reserva de mercado.
3ª fase: abre a economia para
preservar os empresários do ócio
do mercado conquistado.
4ª fase: integra-se no comércio
mundial e começa a preparar sua
estratégia de expansão. A dominação se estabelece na relação
centro-periferia, e o palco do embate é o controle do comércio. Os
EUA eram periféricos no século
19. Sua estratégia para enfrentar
o predomínio inglês no Atlântico
consistia em integrar as rotas
continentais dos dois oceanos. Falhou a primeira experiência de
integração, com navios a vapor.
Acertaram com as ferrovias
transcontinentais e entraram no
centro das relações comerciais. De
periferia, tornaram-se centro.
O neonacionalismo não é a favor do fechamento da economia,
é do aumento das exportações.
Não é contra as multinacionais
produtivas, mas quer transferência de tecnologia. Ao conceito de
globalização (entendido como integração dos mercados financeiros) contrapõe-se o da mundialização (a integração comercial e
diplomática do país no jogo mundial). Contra a estatização, defende a criação das grandes empresas nacionais. Não é a favor do
protecionismo dos anos 80, mas
julga que a competição deve ser
meio para impedir o acomodamento, não para matar empresas.
É contra a especulação financeira, mas não necessariamente contra os bancos. O desafio é a criação de mecanismos que canalizem para investimentos produtivos a enorme acumulação financeira dos bancos nos últimos dez
anos. E julga que cabe a um novo
e fortalecido Estado ser o agente
ativo da promoção desse modelo.
Nas próximas colunas vamos
entender esses conceitos aplicados
ao caso brasileiro.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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