São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2004

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LUÍS NASSIF

O neonacionalismo nascente

O novo pensamento estratégico brasileiro em gestação poderia ser chamado de neonacionalismo. Emerge justo no momento em que morre o último representante do velho nacionalismo, Leonel Brizola.
Representa a soma dos estudos sobre a integração competitiva, desenvolvidos em meados dos anos 80 no âmbito do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), da visão estratégica da Escola Superior de Guerra, reelaborada nos anos 90, e da nova posição do Itamaraty, plasmada a partir da segunda metade dos anos 90.
Na economia, segue o pensamento do alemão Friedrick List e do norte-americano Hamilton, que no século 19 estudaram profundamente as raízes do desenvolvimento. List cunhou a expressão "chutando a escada", em que demonstrava que os países hegemônicos desenvolviam determinadas práticas para conquistar o centro. Depois, "chutavam a escada", demonizando as mesmas práticas que adotaram para impedir que outros países viessem a ameaçar sua hegemonia. E contavam, para tanto, com o complexo de subdesenvolvimento da elite da periferia -os tais que resumem projetos de país à "lição de casa".
Os países que se industrializaram seguiram um roteiro comum:
1ª fase: país monoprodutor com alguma vantagem comparativa, comercializando com outros países e tentando aprender o que os parceiros fazem.
2ª fase: defende e protege as técnicas que aprendeu, para se tornar efetivamente competitivo. É a fase da reserva de mercado.
3ª fase: abre a economia para preservar os empresários do ócio do mercado conquistado.
4ª fase: integra-se no comércio mundial e começa a preparar sua estratégia de expansão. A dominação se estabelece na relação centro-periferia, e o palco do embate é o controle do comércio. Os EUA eram periféricos no século 19. Sua estratégia para enfrentar o predomínio inglês no Atlântico consistia em integrar as rotas continentais dos dois oceanos. Falhou a primeira experiência de integração, com navios a vapor. Acertaram com as ferrovias transcontinentais e entraram no centro das relações comerciais. De periferia, tornaram-se centro.
O neonacionalismo não é a favor do fechamento da economia, é do aumento das exportações. Não é contra as multinacionais produtivas, mas quer transferência de tecnologia. Ao conceito de globalização (entendido como integração dos mercados financeiros) contrapõe-se o da mundialização (a integração comercial e diplomática do país no jogo mundial). Contra a estatização, defende a criação das grandes empresas nacionais. Não é a favor do protecionismo dos anos 80, mas julga que a competição deve ser meio para impedir o acomodamento, não para matar empresas. É contra a especulação financeira, mas não necessariamente contra os bancos. O desafio é a criação de mecanismos que canalizem para investimentos produtivos a enorme acumulação financeira dos bancos nos últimos dez anos. E julga que cabe a um novo e fortalecido Estado ser o agente ativo da promoção desse modelo.
Nas próximas colunas vamos entender esses conceitos aplicados ao caso brasileiro.

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