São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

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Boi gordo tem o menor preço em meio século

CNA alerta para desestímulo à produção e a conseqüente diminuição do rebanho

Abate de fêmeas para repor renda do produtor deverá provocar alta no preço da carne neste semestre, estima a confederação

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A arroba do boi gordo -principal referência para a composição de renda do produtor- atingiu em maio a menor cotação dos últimos 50 anos: R$ 47,84. Somados o aumento de 5,32% na produção de janeiro a maio deste ano e o impacto do salário e a queda do preço no mercado interno, tem-se mais um capítulo na crise do agronegócio brasileiro, um dos fatores que geraram a saída de Roberto Rodrigues da pasta na semana passada.
A relativa boa notícia ficou por conta da recuperação parcial do preço da carne bovina exportada -especialmente os produtos industrializados- com a elevação do dólar durante o cenário de instabilidade dos mercados mundiais nos últimos meses.
Os dados compõem a pesquisa mensal de custos elaborada pela CNA (Confederação Nacional da Agricultura) em parceria com a USP (Universidade de São Paulo). O retrato do setor inclui, ainda, queda nos preços da carne no varejo para o consumidor interno, revelando transferência de renda da produção para o comércio.
"Isso indica perda de renda muito forte do produtor, gerando desestímulo à produção e redução de investimentos. Pode trazer, no futuro, queda na produção do rebanho brasileiro e menor oferta para exportação e para o mercado externo", diz Antenor Amorim Nogueira, presidente do Fórum Permanente da Pecuária de Corte.

Preço do bezerro
Seguindo previsões do setor, o preço do bezerro vem aumentando no mercado interno, resultado principalmente do abate de vacas para reposição de renda do produtor.
Diante de altos custos de manutenção do rebanho, muitos criadores optam por vender as fêmeas para frigoríficos em vez de mantê-las dando cria. No ano passado, chegou a 39% a taxa de fêmeas nos abatedouros, contra a média de 22% a 23% em outros países produtores.
O outro lado dessa situação é a diminuição da oferta, o aumento do preço e a conseqüente recuperação da cotação da arroba do boi no médio prazo -algo que a CNA estima para o segundo semestre deste ano. A dinâmica do mercado, assim, se encarregaria de repor as perdas dos produtores.
"A hora de o governo nos auxiliar já passou. Agora não precisa mais, o mercado vai se ajustar", afirmou Nogueira.
A diminuição de fêmeas no mercado representa um dos fatores para a queda do preço do boi gordo no mercado. Segundo a CNA, a valorização do real nos últimos anos e o aumento de oferta complementam o quadro de redução da renda dos produtores.


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