São Paulo, sábado, 07 de julho de 2007

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Argentina intervém em distribuidora de gás natural

Governo atribui a empresas crise de energia pela qual passa o país

Restrição fez ao menos 300 indústrias paralisarem a produção; prioridade tem sido garantir fornecimento para clientes residenciais

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Coerente com o discurso de atribuir às empresas distribuidoras de gás a maior responsabilidade pela crise energética na Argentina, o governo de Néstor Kirchner interveio ontem na Metrogas, maior empresa do setor, obrigada a substituir seu diretor-geral.
Pela manhã, o secretário de Comércio Interior, Guillermo Moreno, fez uma visita à empresa e ameaçou com sanções. Moreno disse que as explicações da Metrogas sobre cortes de fornecimento a indústrias "não pareceram prudentes", motivo pelo qual se reuniu com os acionistas da companhia.
À tarde, o ministro do Planejamento, Julio de Vido, anunciou que tinha havido uma intervenção temporária na empresa, que foi interrompida depois que os acionistas da Metrogas substituíram o diretor-geral Roberto Brandt por Vito Camporreale, de relação próxima com o governo.
Ontem, a Metrogas e outras distribuidoras voltaram a aplicar medidas de restrição de fornecimento de gás às indústrias. A estimativa da União Industrial Argentina é que o racionamento afete pelo menos 4.000 fábricas, sendo que 300 tiveram que paralisar completamente a produção.
As restrições são preventivas, pois os meteorologistas prevêem para amanhã o início de uma nova onda de frio, com temperaturas mínimas de até 0C, o que levaria a um aumento do consumo devido ao maior uso de aparelhos de calefação.
A prioridade do governo Kirchner tem sido garantir o fornecimento para consumidores domésticos para evitar efeitos políticos negativos da crise energética em um ano eleitoral. O presidente já disse que não haverá cortes para usuários domésticos em nenhuma hipótese, embora cresça o número de governadores que defendem essa medida -é o caso até de Julio Cobos, de Mendoza, provável candidato a vice na chapa de Cristina Fernández de Kirchner à presidência.
Analistas temem, porém, que os constantes cortes de fornecimento a indústrias possam afetar o crescimento da economia argentina, que já registrou uma desaceleração no 1º trimestre, e gerar desemprego -o que também afetaria eleitoralmente o governo Kirchner.
Os problemas energéticos na Argentina começaram com uma onda de frio no fim de maio. Na ocasião, o governo, além de cortar o fornecimento a indústrias e até de gás natural veicular aos postos, teve que interromper a exportação de gás ao Chile por dois dias, tempo máximo que as reservas do país vizinho conseguem suprir a demanda sem o gás argentino.


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