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LUÍS NASSIF
Os melindres do BC
Por que o compulsório não
baixou até agora? Tecnicamente não há razão para não
cair. Há algumas semanas, o
ministro da Fazenda, Antonio
Palocci Filho, informou a algumas fontes que o compulsório
cairia. Dias atrás foi a vez do
ministro José Dirceu (Casa Civil). Há consenso no mercado
para que isso ocorra, mas o BC
resiste de forma inexplicável.
Nesta semana o presidente do
BC, Henrique Meirelles, mandou informar os setoristas que
o compulsório cairia quando a
instituição julgasse conveniente. Isso logo depois de José Dirceu ter acenado com a possibilidade da queda.
Há cheiro no ar de que por
trás da intransigência do BC se
escondam melindres de seu
presidente pelo fato de a informação ter sido adiantada por
terceiros. E aí se entra em um
ponto delicado na questão das
expectativas do mercado e das
políticas institucionais.
Nos últimos anos radicalizou-se a idéia de que o BC precisa ser completamente independente. Levou-se a tal extremo essa posição que se jogou
para segundo plano um pré-requisito essencial para a independência do BC: a competência e a personalidade de seus
dirigentes. Quanto maior a independência e a relevância do
cargo, maiores as qualidades a
serem exigidas de seus mandatários.
Em abril alertava-se aqui para o erro de gradação do BC na
política econômica e cambial.
Os efeitos ainda não haviam
aparecido. Agora aparecem em
toda sua plenitude, acirrando a
crise social e econômica, trazendo de volta a instabilidade
cambial. E o BC resiste em acelerar a queda de juros, em
abrandar o compulsório, em
corrigir o câmbio, mesmo com
a economia em deflação e em
crise aberta. Há indícios de suscetibilidades feridas por trás
dessa teimosia.
Em qualquer parte do mundo, há que dar relevância a aspectos da personalidade dos
homens públicos que, de alguma forma, possam influir no
seu desempenho à frente do
cargo. Tudo o que não interferir no exercício da função está
preservado pelo direito à privacidade. O que interfere deve ser
objeto de avaliação.
Claramente, o BC está em
mãos pouco experientes e tem
um presidente de personalidade controvertida. Meirelles tem
componentes de grandeza no
seu temperamento que precisam ser devidamente sopesados. Ficou claro na apresentação do seu currículo, e em diversos episódios de sua vida
profissional, inclusive na pretensão, ao retornar ao país, de
aspirar nada menos que a Presidência da República.
Repito: são características
que não depõem contra a pessoa em si, mas que pesam na
avaliação da ação pública.
Quem garante que essa insistência do BC em manter esse
torniquete sobre a economia,
mesmo com ela se esvaindo em
sangue, não tenha um objetivo
de auto-afirmação?
O importante a considerar é
que existe razoável consenso no
mercado de que a política adotada pelo BC já tenha ultrapassado os limites do conservadorismo para entrar no da temeridade. Já não cola mais a cantilena de que as críticas ao BC
visam influir politicamente em
decisões técnicas. Tecnicamente, o BC está quebrando o país.
E a maioria dos analistas coerentes já sabe disso.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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