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APLICAÇÕES
Como em meados de 2002, houve depreciação dos títulos públicos que compõem as carteiras; para o BC, fato é normal
Fundos de investimento voltam a ter perdas
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Banco Central percebeu a
iminência de uma nova crise nos
fundos de investimento na segunda-feira passada, assim como
ocorreu em meados de 2002.
A turbulência verificada no
mercado financeiro na sexta-feira
passada provocou a depreciação
de grande parte dos títulos públicos que compõem as carteiras dos
fundos de investimento. O resultado foi que muitos aplicadores tinham na segunda-feira menos dinheiro do que na semana passada
-muitos fundos ficaram com cotas negativas.
Temendo derrubar ainda mais
o preço dos papéis, o Banco Central suspendeu anteontem o leilão
regular de títulos do Tesouro que
seria realizado. Procurado por
meio da assessoria de imprensa, o
BC não quis se manifestar.
Segundo a consultoria Fortuna,
especializada em acompanhar
fundos de investimento, todos os
principais fundos com grande
parcela dos recursos aplicada em
títulos prefixados tiveram forte
queda na segunda-feira.
A segunda maior baixa registrada pela consultoria foi a de um
fundo da Caixa Econômica Federal, que perdeu, no dia, 0,59%. Entre as cinco maiores quedas, três
foram de fundos administrados
pelo BankBoston -os três tiveram variação negativa de 0,55%.
Mesmo fundos convencionais
de renda fixa tiveram perdas, como dois do Bradesco (quedas de
0,09% e de 0,07%) e um do Itaú
(menos 0,01%).
No fechamento de ontem, o
mercado financeiro voltou a ficar
conturbado, mas em menor proporção do que na sexta-feira. As
taxas de juros no mercado futuro
subiram novamente, o que pode
vir a afetar o rendimento dos fundos renda fixa mais uma vez.
Preocupação do BC
Os fundos de investimento são
hoje os grandes financiadores da
dívida interna do governo. Segundo dados do Tesouro, os fundos
detêm 40% de toda a dívida pública federal em títulos. Essa proporção cresceu bastante nos últimos
meses, devido à fuga de recursos
da poupança -por conta da baixa rentabilidade- e de outros ativos, como o dólar, em direção aos
fundos.
Com o aumento da captação de
recursos, os fundos tiveram de
comprar mais títulos públicos,
superando inclusive o total em
posse das tesourarias dos bancos.
Em dezembro, os fundos detinham 32% do total de títulos do
Tesouro, contra 35% dos bancos.
Em junho, a proporção dos bancos caiu para 32%, enquanto a dos
fundos subiu para 40%.
Os fundos de renda fixa aplicam
basicamente em títulos do Tesouro que rendem juros variáveis
(pós-fixados) e em papéis com taxas definidas (prefixados) e também realizam operações no mercado futuro (derivativos).
O presidente do BC, Henrique
Meirelles, disse ontem à noite, em
entrevista à GloboNews, que não
viu nada de anormal no comportamento do mercado em relação
às perdas de sexta e de segunda-feira. Para ele, foi uma reação normal dos investidores diante da votação da reforma da Previdência.
Meirelles deu a entender que
não haverá queda abrupta dos juros nos próximos meses. Ele disse
que o BC manterá a política gradualista na condução das taxas.
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