São Paulo, sexta-feira, 07 de agosto de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Volta o zunzum sobre a poupança



Mercado e BC recomeçam a pressionar governo a mudar o rendimento da caderneta e os impostos sobre fundos


COM O ZUNZUM a respeito do aumento "recorde" das aplicações na poupança, parece recomeçar a querela entre Ministério da Fazenda, Banco Central e mercado a respeito da taxa de juros da caderneta e da tributação dos fundos de investimento. O governo volta a ser "alertado" sobre o risco de fuga de dinheiro dos fundos. Lula ficou de "marcar uma reunião".
Note-se que o fato de o governo voltar a vazar rumores sobre as cadernetas deve ter também o objetivo de assustar quem aplica em poupança. O governo toureia o problema por meio de "propaganda & marketing", em vez de tomar uma decisão, necessariamente impopular. Segundo gente da Fazenda, o Banco Central quer que o governo tanto reduza o rendimento da poupança como o imposto sobre ganhos nos fundos.
Informalmente é mesmo essa a posição do Banco Central, embora o BC preferisse uma redução pura e simples da taxa de juros da poupança, em vez do projeto estrambótico apresentado pelo governo em maio. Segundo o projeto, a taxação dos ganhos na caderneta variaria de acordo com a Selic, o valor da caderneta e a renda do contribuinte. O BC quer ao menos que o governo tome logo alguma atitude, qualquer uma, sobre a poupança, a fim de "desincentivar" a migração.
No limite, uma emigração maciça do dinheiro de fundos causaria problemas para a dívida pública. O governo toma dinheiro emprestado emitindo títulos de dívida, parte dos quais é comprada por fundos de investimento, que repassam parte dos juros pagos pelo governo aos investidores dos fundos. Na prática, quem investe em fundos empresta ao governo e, em parte menor e a depender do fundo, a empresas. A Fazenda não gosta nada da ideia de reduzir impostos.
Ainda quer espremer os bancos, de modo que baixem as taxas cobradas nos fundos. Houve reduções de taxas de administração, ali e aqui, as mais extorsivas, ao menos. Mas os bancos também colocam mais papéis de empresa nas carteiras de certos fundos, papéis mais rentáveis e de risco maior que o de títulos do governo.
A fatia limite de cada tipo de papel na carteira de cada fundo é publicada pelos fundos. Mas a clientela comum em geral tem escassa ideia de como funciona um fundo e sabe ainda menos sobre a mudança da composição das carteiras. Vai perceber só quando houver rolo (quando uma empresa der calote, por exemplo). Como ocorreu no caso da perdas da "marcação a mercado", em 2002. Por fim, ainda não é patente a migração dos fundos para a poupança. É verdade que os fundos DI sangram, no acumulado do ano.
Mas não é tanto o caso dos fundos de renda fixa e de curto prazo, embora estes tenham apanhado nos últimos 30 dias, segundo a Anbid. Como a ficha dos juros ainda menores vai cair mesmo em agosto, é possível que a sangria cresça nessas aplicações.
Porém, como o ano foi de turbulências financeiras, não se sabe muito bem o quanto dos vazamentos e dos ganhos de cada tipo de aplicação está relacionado às necessidades de caixa circunstanciais dos aplicadores. Mas, a continuar tudo como está, é muito razoável supor que o tabelamento dos juros da poupança será de fato um problema. Macroeconômico também.

vinit@uol.com.br


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