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São Paulo, domingo, 07 de setembro de 2003

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Setor está destroçado, afirma Maksoud

DA REPORTAGEM LOCAL

Henry Maksoud, 74, empresário do setor hoteleiro, não tem muito o que comemorar no ano em que o seu hotel -o Maksoud Plaza- completa 25 anos. "A indústria hoteleira está destroçada."
A crise econômica e a superoferta de hotéis e flats levaram a rede hoteleira de São Paulo a enfrentar a maior crise da sua história. "Se quisesse, amanhã mesmo competiria com os flats, que chegam a cobrar R$ 40 para ter cinco pessoas em um quarto. Isso não vou fazer. Queremos manter a alta qualidade do serviço porque somos o melhor hotel do Brasil em qualidade, serviço e avanço tecnológico."
A seguir, os principais trechos da entrevista de Maksoud. (FF)

Folha - Qual é a situação da indústria hoteleira no Brasil?
Henry Maksoud -
A verdadeira indústria hoteleira está destroçada. Quando falo da indústria hoteleira, falo dos hotéis de verdade, daqueles que foram registrados para operarem como hotéis.

Folha - Por que está destroçada?
Maksoud -
Porque, ao longo dos anos, muitos hotéis e flats, que operam como hotéis, foram implantados sem considerar a demanda do mercado.

Folha - Os flats são os principais culpados pela crise hoteleira?
Maksoud -
A idéia dos flats não é errada. Eles nasceram porque, com o fim do filão financiador da construção, como o BNH [Banco Nacional da Habitação], os incorporadores buscaram um negócio financiado pelo consumidor final e que funcionasse como investimento para pessoas físicas e jurídicas. Em vez de estar sujeito à Lei do Inquilinato, que favorecia mais o inquilino, o imóvel poderia ser alugado por dia, como os hotéis, apesar de ser registrado na prefeitura como condomínio residencial. Só que o correto seria o flat ser catalogado como empreendimento hoteleiro e obedecer às normas de construção e de zoneamento urbano estabelecidas para o hotel.

Folha - Qual é a ocupação média do Maksoud hoje?
Maksoud -
Da ordem de 35%, quando deveria ser acima de 60%. Sempre ficamos entre 65% e 67%.

Folha - Por quanto tempo dá para continuar nessa situação?
Maksoud -
Gradualmente, o hotel tem de melhorar a produtividade da mão-de-obra. Chegamos a ter 800 pessoas empregadas. Hoje, temos cerca de 300.

Folha - O sr. foi obrigado a reduzir o preço das diárias?
Maksoud -
Todo mundo teve de reduzir, inclusive em dólar. As pessoas sabem que alguns flats cobram preços baixíssimos. Mas elas não sabem que os flats funcionam como falsos hotéis. Hoje, a tarifa mais baixa é de R$ 180, sem café da manhã. É um preço muito baixo em relação ao que deveríamos cobrar.

Folha - O sr. pensa em se associar a alguma rede internacional?
Maksoud -
De jeito nenhum. Ao contrário, teríamos mais prejuízo. Ninguém opera um hotel melhor do que nós, considerando os hotéis independentes. Essa é uma empresa de capital fechado e eu sou o dono do boteco.

Folha - Qual seria a saída para a indústria hoteleira?
Maksoud -
A saída é o crescimento econômico. Seria importante que as condições tributárias e de regulamentação dos hotéis fossem as mesmas das dos flats.

Folha - O sr. acha que tem fôlego por mais quanto tempo?
Maksoud -
O quanto eu quiser aguentar. O hotel Maksoud Plaza não foi construído ontem. Se quisesse, amanhã mesmo competiria com os flats, que chegam a cobrar R$ 40 para ter cinco pessoas em um quarto. Isso não vou fazer.


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