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TRABALHO
Governo federal e cúpula do PT negociam com a federação dos bancos
"Saída honrosa" pode pôr fim à greve
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal e a cúpula do
PT negociam com a Febraban
(Federação Brasileira de Bancos)
uma saída honrosa para os bancários que estão em greve, especialmente os do Banco do Brasil e da
Caixa Econômica Federal, principais bancos federais.
Como o presidente Lula e a Febraban rejeitam pagar os dias parados (23 até hoje), acena-se com
uma troca. Compensar esses dias
por meio de horas extras. Ministros já conversaram com a Febraban, que concorda, até porque a
greve está praticamente restrita
aos bancos oficiais. Ou seja, a
oferta afetará mais o governo do
que os bancos privados.
Para evitar uma derrota acachapante dos grevistas, ministros do
PT com origem sindical, como Ricardo Berzoini (Trabalho), tentam negociar algum tipo de abono que permita ao comando de
greve dizer à base que obteve algo
além da proposta oficial da Fenaban, o braço sindical da Febraban.
Os grevistas pedem 19% de reajuste, com data-base em setembro. A Fenaban ofereceu reajustes
que variam de 8,5% a 11,8%, conforme o salário. Um abono "simbólico" do BB e da CEF poderia
dourar a pílula da saída honrosa.
A Folha apurou que Berzoini, o
ministro José Dirceu (Casa Civil)
e o presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), trocaram
telefonemas entre si e com os banqueiros na terça-feira e ontem.
Um time de parlamentares do
PT com origem sindical, como o
deputado federal Paulo Bernardo
(PR), fez um verdadeiro périplo
por gabinetes ministeriais.
"Há um forte trabalho do governo e do PT para que a greve termine logo. Pela primeira vez em 11
anos, houve uma proposta da Febraban que acenou com aumento
real. Ao mesmo tempo, os bancários demonstram vontade de chegar logo a um acordo, porque a
greve prejudica a população", diz
Bernardo.
Bastidores e erros
A greve dos bancários é um episódio com erros dos grevistas e de
parte do governo. Primeiro, dirigentes sindicais procuraram políticos do PT para pedir que o BB e a
CEF participassem da negociação
liderada pela Febraban.
A Folha apurou que as diretorias dos dois bancos mais os ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Guido Mantega (Planejamento) eram contra, mas cederam aos apelos de interlocutores
dos bancários no governo.
Quando a Febraban oficializou
uma proposta, o comando da greve a julgou satisfatória, mas a base
a rejeitou. Nesse período, Lula ficou contrariado com declarações
dadas à Folha pelos ministros Olívio Dutra (Cidades) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo),
que davam a entender que havia
apoio político do governo à greve.
Isso levou parte dos bancários a se
sentir forte e a radicalizar, especialmente os dos bancos oficiais.
Lula bateu o pé. Disse que o governo não podia deixar de cortar
os dias parados, sob pena de incentivar greves futuras. "Greve
sem risco de cortar o ponto é férias", repetiu o ex-sindicalista Lula nos últimos dias.
Nesse descompasso, a intervenção de políticos do PT e de ministros cuja carreira política tem origem no sindicalismo bancário
busca costurar uma saída honrosa para ser anunciada em breve.
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