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Aumenta a exigência de "selo verde" para negócio ambiental
Por força de regra internacional, bancos condicionam crédito à exploração responsável
Florestas devem gerar
R$ 7 bi por ano até 2010;
carteira de clientes deve
ter apenas madeireiros
que respeitarem normas
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
De olho na floresta amazônica, grandes bancos estão colocando em prática um plano para liberar mais recursos a empresas que pretendem explorar
a mata de forma responsável.
Uma das exigências é que os
candidatos aos créditos tenham o "selo verde" -atestado
de que a exploração florestal é
feita de forma responsável.
O ABN-Amro fechou uma
parceria com o Imazon (Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia) para convencer os madeireiros a cumprir as regras.
"Hoje não há dinheiro para
quem age sem responsabilidade com o ambiente", afirma
Christopher Wells, superintendente de risco socioambiental
do ABN-Amro, que cortou 22
madeireiros da carteira de
clientes nos últimos cinco anos.
Para melhorar essa atuação,
o banco e o Imazon querem ensinar os madeireiros a ganhar
dinheiro sem estragar a floresta
ou poluir o ambiente.
Quem aceitar o negócio não
terá como enganá-los porque
suas atividades serão monitoradas via satélite. "Qualquer intervenção na floresta deixa rastros, e iremos investigá-los",
diz Paulo Amaral, pesquisador
do Imazon responsável pelo
projeto com o ABN.
O Basa (Banco da Amazônia),
com o JBIC (Japan Bank for
International Cooperation),
está selecionando 11 projetos
que receberão US$ 100 milhões
ainda neste ano. A primeira exigência: ter o "selo verde". O holandês Rabobank, especializado em crédito para investimentos no setor agrícola, também
faz questão do certificado.
O Itaú está se preparando para entrar com mais força nesse
setor. A instituição abriu consulta pública para implementar
uma nova política de crédito
ambiental. Qualquer projeto
destinado à área ambiental -e
particularmente os projetos relacionados à exploração florestal- acima de R$ 5 milhões seguirá padrões mais rigorosos.
Sem mercado paralelo
A iniciativa dos bancos acontece no momento em que o governo federal implementa um
projeto de expansão do setor
madeireiro legal.
Estimativas do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
Renováveis) revelam que 80%
da madeira consumida no Brasil é extraída de forma predatória. Esse índice é mais alto no
comércio realizado entre as cidades -principalmente nos
Estados da região Norte- e baixa para cerca de 60% nas compras realizadas entre governos.
Segundo Antônio Carlos
Hummel, diretor de florestas
do Ibama, o índice de legalidade só passa dos 90% entre os
exportadores, que trazem US$
3,3 bilhões em divisas por ano
ao país. "A maior parte dos importadores só compra de quem
tem o selo", afirma Hummel.
"Europeus e americanos são
mais exigentes nesse quesito."
Acontece que a imagem do
selo no país está ameaçada. Há
casos de empresas certificadas
denunciadas pelo MPF (Ministério Público Federal) e multadas pelo Ibama por infrações
ambientais. Mas, na opinião
dos especialistas, não é o caso
de dispensar o selo. "Ele não é
um instrumento perfeito, mas
um mecanismo de controle",
afirma Marcelo Marchesini, especialista do Greenpeace. "Sem
ele, seria pior ainda."
Os bancos concordam, mas
continuam cada vez mais atentos ao histórico das empresas
antes de abrir o caixa. "Uma
multa ambiental não significa,
necessariamente, que a empresa agiu de má-fé", explica Wells.
"Se fosse assim, teríamos de fechar a carteira para as madeireiras."
Potencial
Para os bancos, a ampliação
dos negócios nesse ramo não
pode ser um dilema. Embora
boa parte deles tenha assinado
os Princípios do Equador -um
conjunto de políticas do Banco
Mundial que proíbe a liberação
de recursos a empresas "inimigas do verde"-, essas instituições não querem perder as
oportunidades de um mercado
que deverá movimentar anualmente cerca de R$ 7 bilhões.
É quanto as florestas estarão
gerando até 2010, segundo cálculos de Tasso Azevedo, diretor-executivo do SFB (Serviço
Florestal Brasileiro).
Essa cifra leva em conta as
atividades relacionadas ao corte e à transformação de madeira em florestas públicas, áreas
que o governo está licenciando
às empresas interessadas em
planejar o corte respeitando o
ciclo de crescimento e reprodução das árvores. Essa prática,
conhecida como manejo, prevê
cortes em intervalos que variam de 20 a 30 anos em florestas nativas da Amazônia. As florestas plantadas estão sob critérios diferentes.
A primeira licitação do gênero foi aberta há 20 dias. Foram
90 mil hectares concedidos na
Floresta Nacional do Jamari
(RO). Até 2008, outras seis
áreas deverão ser licenciadas.
Quem ganhar o direito de exploração não será o proprietário das terras, mas responderá
por elas. Também pagará royalties ao governo, que prevê arrecadar R$ 150 milhões por ano
em 2010. Os bancos não querem perder essa chance.
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