São Paulo, domingo, 07 de outubro de 2007

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Meganegócio cria 3º maior banco no país

Venda do ABN deve levar à demissão de 19 mil pessoas no mundo, sendo pelo menos 1.500 no Brasil, segundo sindicalistas

Fusão de Santander e Real pode estimular disputa no mercado de crédito do Brasil, que deve crescer em razão da queda dos juros

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A provável venda do holandês ABN Amro por US$ 100 bilhões será o maior negócio da história da indústria bancária no mundo e levará à criação do terceiro maior banco no Brasil, lugar hoje do Itaú.
A desistência do Barclays na sexta abriu caminho para o consórcio formado pelo escocês RBS (Royal Bank of Scotland), o espanhol Santander e o belga-holandês Fortis levarem o holandês. Segundo o "Financial Times", a proposta do consórcio teve aprovação de 85% dos acionistas do ABN, que ainda não anunciou o resultado da votação na sexta.
A proposta prevê a divisão do ABN Amro em três partes, entre as quais as operações do banco Real no Brasil, que ficarão com o Santander. Hoje, Real e Santander estão na quinta e sétima colocação no ranking das instituições financeiras que operam no país. Após a fusão, os dois bancos juntos saltarão para o terceiro lugar, atrás do Banco do Brasil e do Bradesco, posição nunca antes alcançada por estrangeiros.
Diferentemente da maioria dos negócios de fusão e aquisição, onde as duas partes são interessadas na transação, os gestores do ABN são contra a venda para o consórcio. Isso porque o negócio representa o fim de sua presença mundial.
O ABN tem cerca de 4.500 agências e emprega 105 mil pessoas em 53 países. A divisão do banco deve levar à demissão de cerca de 19 mil bancários, sendo 13 mil na Holanda.
No Brasil, sindicalistas estimam que a fusão das operações entre o ABN e o Santander leve a pelo menos 1.500 demissões, somando os dois bancos, por conta da duplicidade de agências e de áreas administrativas.
O Santander minimiza a sobreposição e afirma que os cortes serão mínimos por conta da alta complementaridade geográfica das redes e de segmentos diferentes de atuação. "Não esperamos um número significativo de baixas. Qualquer redução se produzirá mediante adiantamento de aposentadorias ou desligamentos voluntários", disse o banco em documento aos acionistas.
"O clima é de muita insegurança tanto no Real quanto no Santander. Queremos um acordo para que nenhuma demissão seja feita até que o negócio seja aprovado pelos órgãos reguladores", disse Rita Berlofa, diretora dos bancários de SP.

Brasil
No Brasil, o negócio chega num momento de profunda mudança no sistema financeiro, após a transição do modelo de negócio em que os bancos ganhavam dinheiro fácil com os juros altos para a concessão de empréstimos, essência da atividade bancária.
Com os juros decrescentes, a exploração do crédito depende de ganhos de escala para manter a lucratividade. A união dos estrangeiros deve levar a uma onda de compras no país.
Se por um lado a fusão ABN-Santander concentra o sistema e diminui o poder de barganha dos órgãos reguladores e clientes, a emergência de um grande banco estrangeiro renova o otimismo com o aumento da concorrência no crédito brasileiro, que cresce a um ritmo de 20% ao ano. Para os bancos, o negócio é um dos mais lucrativos do mundo por contar com diferenças altas entre juros captados e repassados -em agosto, essa diferença média era de 31,5 pontos percentuais, diz o BC.
A expectativa é que nos próximos anos os juros ao consumidor caiam mais e os prazos aumentem, condições para fomentar o investimento em infra-estrutura e o financiamento imobiliário, grande filão do crédito internacional. "Só não vale a tupiniquinzação dos estrangeiros, que também gostam de ganhar dinheiro com juro alto", disse Carlos Daniel Coradi, da EFC Consultores.
A fusão pega ainda a queda de braço dos bancos com o governo, que tenta impor limites à cobrança de tarifas. Só no primeiro semestre deste ano, os bancos faturaram R$ 23,286 bilhões com a cobrança de serviços, o suficiente para mais que cobrir seus gastos com a folha de pagamento, segundo a consultoria Austin Rating.
Segundo o matemático Marcos Crivelaro, especialista em finanças da Fiap (Faculdade de Informática e Administração Pública), os juros devem realmente cair no Brasil como aconteceu no México, no início da década. "O lado ruim é que as tarifas explodiram."
Para Hessia Castilla, da ProTeste, o maior impacto na concorrência virá quando o governo criar instrumentos de mobilidade para o consumidor mudar com facilidade de um banco para outro. "Ninguém deixa o banco porque acha tarifa menor em outro. A burocracia e o custo são enormes."


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