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Banco Central contratará gestor para carteiras
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Banco Central terá de contratar um gestor para administrar eventuais carteiras compradas diretamente de bancos
pequenos. O BC não tem experiência nem equipe para assumir um trabalho que demanda
rede de atendimento de varejo.
Na maioria dos casos, as carteiras desses bancos são ativos
de boa qualidade e baixa inadimplência, como o consignado
do INSS. O problema é que esses bancos precisam de dinheiro para fechar o caixa e manter
operações, mas não conseguem
recursos com outros bancos.
Segundo Alexandre Jorge
Chaia, especialista em risco do
Ibmec-SP, uma das possibilidades é que o BC contrate o próprio banco que cedeu a carteira
de crédito para fazer esse trabalho. No caso, o banco já conhece o cliente, o que facilita a
análise de crédito, e não corre o
risco de perdê-lo para outro
que entre no negócio.
Outra possibilidade comentada ontem é o BC fazer um esforço para repassar a cessão de
crédito para o Banco do Brasil e
para a Caixa Econômica Federal. A medida não seria de fácil
implementação porque os dois
bancos federais também têm limitações de caixa para assumir
mais crédito. O BB é o agente
do governo para a agricultura e
a Caixa está mais empenhada
no crédito imobiliário.
Para Luis Miguel Santacreu,
analista da Austin Ratings, o
BC percebeu tardiamente que a
flexibilização do compulsório
não facilitou a compra de carteiras de crédito dos bancos
menores. Isso porque a cessão
demanda uma análise de risco e
um parecer de auditores.
"Não me surpreende que o
BC tenha de entrar nesse negócio. A coisa tem de ser rápida.
Os bancos grandes não quiseram comprar essas carteiras.
Uma carteira de consignado
demora três dias para ser analisada. Uma carteira de veículo
demora mais. Tem de fazer
uma análise criteriosa e ter
uma auditoria. Dependendo de
como estão, não sei se os bancos grandes têm condições de
parar para analisar", disse.
"As medidas de flexibilização
do compulsório não tiveram
efeito para fazer os bancos pequenos retomarem os créditos.
Alguns desses bancos ainda estão capitalizados, mas não conseguem captar recursos. Os
bancos grandes fecharam as
portas. O Banco Central quer
evitar que as carteiras sejam
depois vendidas a preço muito
baixo", disse Chaia.
Para Sergio Vale, economista
da MB Associados, as medidas
anunciadas são boas para destravar o crédito, especialmente
aos exportadores. "As medidas
são boas num momento de falta
de liquidez para o mercado externo. Não creio que acalme totalmente, mas é positivo ver o
BC aumentando a liquidez neste momento", disse.
Vale faz uma ressalva para o
caso do BNDES, que não teria
caixa suficiente para assumir o
vácuo do sistema privado. "Não
creio que seja saudável tentar
abraçar o mundo e ocupar um
espaço de investimento que é
maior que suas pernas. Não me
parece que o banco tenha tanto
funding assim e nessa hora de
aperto esperaria uma política
mais cautelosa", disse.
"De fato, não há linhas de
crédito externo. O BC oferecer
essas linhas acalma um pouco,
pois mostra que as empresas
vão poder fazer frente a compromissos em dólares no exterior", disse Tomás Málaga, economista do Banco Itaú.
Para Alkimar Moura, ex-diretor do Banco Central, o crédito secou no Brasil porque o
mercado "interbancário travou" no exterior. "O crédito é o
sangue do sistema, o oxigênio.
O multiplicador de crédito é exponencial em época de expansão. Só que, quando seca, acontece também na mesma proporção", disse.
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