São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Banco Central contratará gestor para carteiras

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Banco Central terá de contratar um gestor para administrar eventuais carteiras compradas diretamente de bancos pequenos. O BC não tem experiência nem equipe para assumir um trabalho que demanda rede de atendimento de varejo.
Na maioria dos casos, as carteiras desses bancos são ativos de boa qualidade e baixa inadimplência, como o consignado do INSS. O problema é que esses bancos precisam de dinheiro para fechar o caixa e manter operações, mas não conseguem recursos com outros bancos.
Segundo Alexandre Jorge Chaia, especialista em risco do Ibmec-SP, uma das possibilidades é que o BC contrate o próprio banco que cedeu a carteira de crédito para fazer esse trabalho. No caso, o banco já conhece o cliente, o que facilita a análise de crédito, e não corre o risco de perdê-lo para outro que entre no negócio.
Outra possibilidade comentada ontem é o BC fazer um esforço para repassar a cessão de crédito para o Banco do Brasil e para a Caixa Econômica Federal. A medida não seria de fácil implementação porque os dois bancos federais também têm limitações de caixa para assumir mais crédito. O BB é o agente do governo para a agricultura e a Caixa está mais empenhada no crédito imobiliário.
Para Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Ratings, o BC percebeu tardiamente que a flexibilização do compulsório não facilitou a compra de carteiras de crédito dos bancos menores. Isso porque a cessão demanda uma análise de risco e um parecer de auditores.
"Não me surpreende que o BC tenha de entrar nesse negócio. A coisa tem de ser rápida. Os bancos grandes não quiseram comprar essas carteiras. Uma carteira de consignado demora três dias para ser analisada. Uma carteira de veículo demora mais. Tem de fazer uma análise criteriosa e ter uma auditoria. Dependendo de como estão, não sei se os bancos grandes têm condições de parar para analisar", disse.
"As medidas de flexibilização do compulsório não tiveram efeito para fazer os bancos pequenos retomarem os créditos. Alguns desses bancos ainda estão capitalizados, mas não conseguem captar recursos. Os bancos grandes fecharam as portas. O Banco Central quer evitar que as carteiras sejam depois vendidas a preço muito baixo", disse Chaia.
Para Sergio Vale, economista da MB Associados, as medidas anunciadas são boas para destravar o crédito, especialmente aos exportadores. "As medidas são boas num momento de falta de liquidez para o mercado externo. Não creio que acalme totalmente, mas é positivo ver o BC aumentando a liquidez neste momento", disse.
Vale faz uma ressalva para o caso do BNDES, que não teria caixa suficiente para assumir o vácuo do sistema privado. "Não creio que seja saudável tentar abraçar o mundo e ocupar um espaço de investimento que é maior que suas pernas. Não me parece que o banco tenha tanto funding assim e nessa hora de aperto esperaria uma política mais cautelosa", disse.
"De fato, não há linhas de crédito externo. O BC oferecer essas linhas acalma um pouco, pois mostra que as empresas vão poder fazer frente a compromissos em dólares no exterior", disse Tomás Málaga, economista do Banco Itaú.
Para Alkimar Moura, ex-diretor do Banco Central, o crédito secou no Brasil porque o mercado "interbancário travou" no exterior. "O crédito é o sangue do sistema, o oxigênio. O multiplicador de crédito é exponencial em época de expansão. Só que, quando seca, acontece também na mesma proporção", disse.


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