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Indústria de base tem pedidos cancelados
Falta de crédito para compra de máquinas e equipamentos e para financiar o capital de giro afeta setor de bens de capital
Por falta de financiamento, fabricante de máquinas para setor sucroalcooleiro teve cancelado pedido
de 30 equipamentos
AGNALDO BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise do crédito começa a
provocar os primeiros cancelamentos de encomendas e dificuldades na obtenção de capital
de giro para financiamento da
produção na indústria de bens
de capital. A Santal Equipamentos, uma das fabricantes de
colhedoras e implementos para
o setor sucroalcooleiro -com
sede em Ribeirão Preto (SP)-,
teve um pedido de 30 equipamentos de transporte para uma
companhia de açúcar e álcool
cancelado por falta de crédito
ao comprador. "Estamos sentindo os primeiros pingos [da
crise]", disse Walfner Leitão,
presidente da Santal.
De acordo com Leitão, a indústria sucroalcooleira é um
dos setores mais endividados
da economia brasileira, resultado de uma expansão sem precedentes, e por isso começa a
enfrentar problemas para obter crédito num cenário de menos oferta de recursos. A empresa explica que tem enfrentado atrasos de até três meses nos
repasses do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) pela linha
do Finame. Cerca de 90% das
vendas de equipamentos feitas
pela Santal são financiadas e
sem esses recursos há impacto
direto na produção.
Um efeito da crise de crédito
já sentido está na falta de encomendas para 2009. "Para quem
quer colher a cana que acabou
de plantar, o pedido dos equipamentos deve ser feito agora e
praticamente não há nenhum
pedido", explicou. Das vendas
estimadas de máquinas para
2009 (previsão de mil unidades, segundo o mercado), há
pedidos de apenas 5%.
Outro problema enfrentado
neste momento pela indústria
de bens de capital é a falta de linhas para o financiamento de
capital de giro. O investimento
industrial feito até agora encheu as carteiras de pedidos,
mas ampliou também a necessidade de capital de giro para a
aquisição dos insumos necessários à montagem dos equipamentos. "O setor de bens de capital requer muitos recursos.
Várias indústrias estão com
problemas para renovar suas linhas ou mesmo obter acesso a
novo crédito. É uma situação
muito preocupante e que pode
afetar a produção do setor",
disse José Velloso, vice-presidente da Abimaq (Associação
Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
O desconto de duplicatas,
uma opção de financiamento,
tampouco tem servido. Muitos
bancos só aceitam fazer a operação se as duplicatas forem de
empresas de primeira linha.
Paulo Godoy, presidente da Abdib (Associação Brasileira da
Infra-Estrutura e Indústrias de
Base), cobrou ontem do governo o "restabelecimento" imediato das linhas de financiamento. "É preciso saber quando será restabelecido o crédito
para as empresas", disse. Além
do funcionamento das linhas
do BNDES, a Abdib quer mecanismos para oferta de "créditos
complementares" que sejam
capazes de suprir a demanda
por recursos retidos agora pelas instituições financeiras.
Eletroeletrônicos
Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação
Brasileira da Indústria Elétrica
e Eletrônica), afirmou que a
preocupação do setor aumenta
a cada dia. "Em um primeiro
momento, parecia que a crise
não iria incomodar demais o
Brasil e a economia real, mas
está ficando claro que não é
bem assim."
Segundo ele, a volatilidade do
câmbio é extremamente prejudicial para os negócios. "A cada
barreira que a taxa de câmbio
bate, o empresário pensa na necessidade de revisão de seus
preços. Há muitos componentes que são importados e, evidentemente, isso cria uma certa apreensão no que tange ao
fechamento de negócios de
maior prazo. Essa sucessão de
dias de pânico no mercado é
horrível, pois faz todo mundo
parar, sem um norte sobre o
que vai decidir. Dá uma paralisada geral." Segundo ele, se a
volatilidade permanecer, a tendência é que haja revisões de
preços no mercado interno.
Colaborou MAELI PRADO, da Reportagem Local
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