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ARTIGO
Pânico mostra que crise é de 1ª grandeza
TONY JACKSON
DO "FINANCIAL TIMES", EM LONDRES
O
NOVO surto de pânico
que aconteceu ontem
nos mercados mundiais oferece a prova final de
que, em termos de crise financeira, estamos agora enfrentando um evento de primeira
grandeza. As comparações com
a bolha da internet ou mesmo
com a crise asiática de 1997 são
inadequadas. Devemos pensar
em 1987 ou 1929.
Em retrospecto, a crise de
1987 foi muito mais contida
que a atual. A queda breve e feroz das ações de todo o mundo
parecia prenunciar uma retração igualmente severa na economia real. Mas o mundo real
seguiu em frente e as demais
categorias de ativos escaparam
em larga medida incólumes.
Em comparação a 1929, temos duas grandes diferenças,
hoje. Primeiro, as autoridades
mundiais compreenderam a
escala da ameaça de maneira
mais rápida e estão preparadas
para tomar medidas muito
mais drásticas. Por outro lado,
o sistema financeiro se tornou
muito mais complexo. E graças
às comunicações modernas, o
ritmo se acelerou imensamente. Assim, qualquer dada ação
política é incerta em seus efeitos e em geral tardia quando
por fim é adotada.
Como um exemplo dessa
complexidade, agora parece
claro que as autoridades dos
Estados Unidos estavam erradas ao permitir a quebra do
Lehman Brothers. O efeito do
colapso do banco foi o mesmo
que o da quebra de uma peça
que opere em alta velocidade
em uma máquina de precisão:
voaram estilhaços em todas as
direções.
Um efeito grande e inesperado foi a severa perda de confiança dos investidores nos
mercados de crédito de curto
prazo, com uma congestão
muito pronunciada no setor.
O fato de que um desfecho
como esse não tenha sido previsto pelo secretário do Tesouro norte-americano, Henry
Paulson, teoricamente o homem mais bem informado do
mundo, oferece nova prova de
que o sistema se tornou complexo demais para que se possa
controlá-lo.
Um segundo efeito perverso
surgiu com o resgate às instituições de crédito hipotecário
norte-americanas Freddie Mac
e Fannie Mae. A decisão causou
caos no enorme e obscuro
mundo dos derivativos de crédito -e a quebra do Lehman
Brothers agravou ainda mais a
situação.
A existência dos derivativos
de crédito e do mundo bancário
fantasma representado por entidades excluídas de balanços
como os veículos para propósitos especiais significam que os
investidores ainda estão no escuro quanto a que parte do sistema bancário foi efetivamente
danificada. Uma vez mais, o fato de que isso continue a ser
verdade 15 meses depois que a
crise irrompeu sugere que reparar esses danos será um processo muito lento.
Alguns detalhes do comportamento do mercado ontem
também nos lembram de que a
crise avançou para bem além
do sistema bancário. As ações
das mineradoras despencaram
ontem em Londres, e a mineradora de cobre cazaque Kazakhmys -que integra o índice
londrino FTSE100- fechou
com perda de 27% no dia.
Isso, somado às quedas profundas nos mercados emergentes ontem, oferece nova prova
de que os investidores agora
antecipam uma grave desaceleração na economia real do planeta. E, ao contrário de 1929, as
causas são bastante claras.
Embora ainda se discuta por
que o crash de Wall Street em
1929 foi seguido pela Grande
Depressão, desta vez a história
é de simples endividamento excessivo. Os países desenvolvidos assumiram dívidas demais
e agora estão passando por um
processo brutal de liquidação.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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