São Paulo, terça-feira, 07 de outubro de 2008

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Crédito mais escasso tira força do varejo neste Natal

Associação reduz previsão de crescimento de vendas

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O crédito mais escasso e mais caro, como reflexo da crise financeira internacional, deve reduzir o fôlego financeiro do consumidor neste final de ano e atingir as vendas para o Natal.
"A crise começa a ter impacto no bolso do consumidor já neste mês. Com prazos mais curtos e juros maiores para obter financiamento, o consumidor tem de desembolsar mais para comprar a crédito ou simplesmente parar de comprar. Não há dúvida de que as vendas para o Natal serão afetadas", afirma Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac, associação dos executivos de finanças, administração e contabilidade.
Na compra de um produto no valor de R$ 1.500, o consumidor pagava, no mês passado, uma prestação de R$ 105,42, considerando um prazo de financiamento de 36 meses oferecido no mercado e uma taxa de juros de 6,17% ao mês (taxa média de juros em setembro). Nesse caso, o consumidor teria ter ter uma renda mínima de R$ 421,68 para poder comprometer, com a prestação, no máximo 25% de sua renda.
Neste mês, considerando que a taxa de juros média subiu para 6,23% ao mês e que os prazos vão até 24 meses, o valor da prestação para aquisição de um produto de R$ 1.500 subiria para R$ 122,07 e, para obter esse financiamento, precisaria ter renda mínima de R$ 488,28.
"Vale lembrar que a maioria das lojas parcela a compra hoje em até 12 meses. Nesse caso, a prestação seria de R$ 181,18 ao mês e a renda mínima necessária para obter esse financiamento seria de R$ 724,72. Isto é, pessoas com renda menor ficarão excluídas do crediário." A Anefac refez a previsão de vendas para o Natal. A expectativa agora é de crescimento de 5% ante 2007. A previsão anterior era de alta entre 6% e 10%.
A Eletros, associação dos fabricantes de produtos eletroeletrônicos, também prevê um Natal mais fraco. "Os empresários estão preocupados e é bem possível que em 2009 terá de haver reprogramação de compras e produção. Neste ano não acontece nada porque já está tudo comprado e programado", afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros.

Revisão
A Eletros chegou a prever aumento de 15% nas vendas neste ano na comparação com o ano passado. Reviu esse número para 12% e agora está com números que variam de 8% a 10%. "Muitas indústrias já tentam repassar o mínimo possível o aumento de custos, devido à alta do dólar, para tentar manter o consumo", diz Kiçula.
Segundo Cassiana Fernandes, economista da Mauá Consultoria, as férias coletivas anunciadas por algumas montadoras chamaram a atenção, pois o setor automobilístico "foi o motor da atividade econômica nos últimos 12 meses".
Para ela, as vendas para este Natal serão mais fracas por causa da menor disponibilidade de crédito. "Juros mais altos também tiram poder de compra do consumidor, mesmo que o emprego esteja garantido. Vamos sentir já esse efeito neste final de ano e com maior intensidade no ano que vem", diz.
Fábio Silveira, diretor da RC Consultores, afirma que as compras a prazo estão menos atraentes por conta do aumento do valor das prestações. "O otimismo que havia em relação ao Natal deste ano vai ser arrefecido e o impacto maior será no ano que vem", diz.
Os economistas estão refazendo as projeções de crescimento da economia brasileira para 2009 por conta do agravamento da crise internacional.
A expectativa da Mauá para o PIB (Produto Interno Bruto) foi revista de 3,5% para 3%.


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