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ETERNO REGRESSO
Segundo Fundo, pacote com governo Lula mantém "as mesmas políticas" que vêm sendo cobradas hoje
FMI diz que novo acordo é igual ao atual
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
O FMI (Fundo Monetário Internacional) disse ontem que o novo
acordo com o Brasil "mantém as
mesmas políticas" que vêm sendo
cobradas do país até agora.
"Ficaríamos surpresos se o
acordo, ao contrário, contivesse
mudanças radicais", disse Thomas Dawson, porta-voz do FMI.
Embora o governo brasileiro
venha "vendendo" o acordo à
opinião pública como algo diferenciado, o novo entendimento
segue, no geral, todas as regras vigentes no pacote de US$ 30 bilhões ainda em vigor e aprovado
na gestão de FHC.
Na prática, o acordo pode até
ser considerado pior do que esperava o governo Lula, que acabou
recebendo menos dinheiro novo.
Entre as duas principais ""inovações" do acordo, segundo o governo brasileiro, constam: 1) a
possibilidade de o setor de saneamento básico utilizar R$ 2,9 bilhões em investimentos em 2004
e; 2) o alongamento dos prazos de
pagamento das dívidas do Brasil
com o Fundo.
No primeiro caso, os R$ 2,9 bilhões poderiam ser gastos pelo
Brasil como bem entendesse.
O valor representa dinheiro
economizado neste ano acima da
meta de superávit primário (economia para pagar juros) de 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto)
acertada em 2002.
A segunda ""vantagem" seria o
alongamento do prazo de uma
parte da dívida que o Brasil tem
de pagar ao Fundo em 2005 e em
2006. Dos cerca de US$ 32 bilhões
que o Brasil deve ao FMI, quase
US$ 20 bilhões vencem ao longo
desses dois anos.
Desse total, o Fundo concordou
em alongar os prazos de cerca de
US$ 5,5 bilhões. O Brasil, no entanto, também poderia ter feito
algo nessa linha ao utilizar, no final de 2003, os US$ 8 bilhões a que
teria direito pelo acordo em vigor
para refinanciar os pagamentos.
Esses US$ 8 bilhões a que o país
ainda teria direito pelo acordo firmado pelo governo FHC agora
foram incorporados ao novo pacote, de US$ 14 bilhões no total.
Na prática, portanto, o Brasil vai
receber no novo pacote US$ 6 bilhões em dinheiro novo.
Antes de o Fundo usar os US$ 8
bilhões do acordo em vigor para
compor a nova ajuda, o Ministério da Fazenda admitiu mais de
uma vez que o Brasil considerava
US$ 10 bilhões um valor razoável
para dar segurança às contas externas do país no ano que vem.
Segundo a Folha apurou, o FMI
levou em conta a alta exposição
da instituição no Brasil para decidir emprestar menos dinheiro
novo. O Brasil é hoje o maior tomador individual de recursos do
Fundo. Os US$ 32 bilhões de sua
dívida representam quase um terço do capital utilizável do FMI para empréstimos a países.
O ponto fundamental de qualquer programa com o FMI, que é
a meta de superávit fiscal para pagar juros, também foi mantido
inalterado, em 4,25% do PIB.
Ontem, Dawson afirmou que
todos os pontos do acordo ""refletem o forte compromisso do país
e a perseverança do Brasil", qualificado por ele como ""país-modelo" em sua relação com o Fundo.
O porta-voz também tratou de
minimizar o mal-estar causado
anteontem pelas declarações de
Lula na África, de que não seria
possível um acordo com o presidente em viagem.
"O que o presidente [Lula] disse
foi coerente com o que também
foi dito no Brasil. Sei que houve
um certo barulho em torno desse
tema, mas não vi contradição."
Segundo ele, a número dois do
FMI, Anne Krueger, foi ao Brasil
convidada pelas autoridades locais. "Se ela tivesse ido e voltado
sem anunciar nada, aí, sim, teríamos uma história bem diferente."
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