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Lula libera só 2,33% do Orçamento
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Privilegiados em 2004 pelo esboço do novo acordo com o Fundo Monetário Internacional, os
investimentos em saneamento tiveram o pior momento dos últimos tempos no primeiro ano de
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até a véspera da
chegada da missão do FMI, haviam sido liberados apenas 2,33%
dos gastos autorizados pelo Orçamento da União.
O Siafi (sistema informatizado
de acompanhamento de gastos
federais) registra pagamentos de
R$ 19,5 milhões dos programas de
saneamento básico dos ministérios das Cidades e da Saúde. O Orçamento deste ano autoriza gastos de R$ 834,1 milhões. Parte do
dinheiro foi bloqueada por conta
do ajuste fiscal. Até o último dia
24, o governo só indicara a disposição de gastar R$ 39,2 milhões: o
valor dito "empenhado" não chega a 5% do total da lei.
O Ministério do Planejamento
não se manifestou sobre os dados
até o fechamento desta edição.
Não está contabilizado pelo Siafi o pagamento de contas pendentes do governo Fernando Henrique Cardoso, que registrou desempenho melhor do que o de
Lula, pelo menos em volume de
gastos, durante seus dois mandatos. O legado tucano, no entanto,
foi de falta de investimentos, cujo
resultado chegou a ser comparado ao "apagão" da energia elétrica
em 2001.
A principal fonte de financiamento público para obras de saneamento -os recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço- secou a partir de 98 e ainda
enfrenta restrições de crédito ao
setor público impostas pelo Conselho Monetário Nacional. Os
contratos fechados com a Caixa
Econômica Federal neste ano só
terão o dinheiro liberado no ano
que vem.
E é sobretudo com o dinheiro
do FGTS que o governo Lula conta nos próximos anos para tentar
fazer o saneamento chegar à parte
da população sem acesso à coleta
de esgoto (25% dos domicílios
brasileiros) e à água potável (8,5%
dos domicílios).
O PPA (Plano Plurianual de Investimentos) prevê investimentos
de R$ 7,2 bilhões do FGTS -quase o dobro do dinheiro do Orçamento- entre 2004 e 2007. Mas a
previsão só tem chances de virar
realidade se o Conselho Monetário Nacional abrandar as restrições aos financiamentos -o que
ainda não foi formalizado. As empresas estaduais de saneamento,
que respondem por cerca dos
80% dos investimentos no setor,
também passam por um mal momento em 2003. Segundo a Aesbe
(Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais),
houve uma queda real de 21%
(descontada a inflação) nos investimentos neste ano, para cerca de
R$ 2 bilhões.
A queda se deve principalmente
à redução de crédito, segundo a
associação. A Aesbe defende que
os R$ 2,9 bilhões de economia extra deste ano que o acordo com
FMI autoriza em investimentos
em saneamento sejam usados, em
2004, para reestruturar as dívidas
das empresas estaduais, no mesmo modelo adotado para o setor
elétrico depois do apagão. Isso liberaria as empresas para voltar a
investir com recursos próprios.
Estudo encomendado pelo Ministério das Cidades estima em R$
150 bilhões os investimentos necessários para universalizar os
serviços de abastecimento de
água e esgoto no país até 2024.
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