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AMAZÔNIA
Apenas 14% da madeira extraída na região vai para o mercado externo; expectativa é chegar a 30% em dez anos
Ministério pretende dobrar exportações
DO ENVIADO AO PARÁ
Um dos fatores responsáveis
pelo alto grau de ilegalidade e dano ambiental da atividade madeireira na Amazônia é o tamanho
do mercado interno: 86% de todas as árvores que são derrubadas
nas florestas do Norte vão parar
em casas e prédios de apartamentos do resto do Brasil, especialmente do Estado de São Paulo.
Como se trata de um público mais
interessado em preço baixo do
que em sustentabilidade, os madeireiros clandestinos têm certeza
de escoamento do produto.
As exportações estão muito
aquém do potencial nacional. Hoje, o país responde por apenas 4%
da madeira consumida no mundo, e a maioria vem de florestas
plantadas no Sul e no Sudeste. De
toda a madeira extraída na Amazônia, só 14% vão parar no exterior -as empresas certificadas
exportam quase toda a produção.
"Não tem como vender uma tora 100% certificada no mercado
nacional. Ninguém paga", diz
Manoel Pereira Dias. Juntamente
com a mãe e oito irmãos, Dias é
sócio da Cikel, a maior madeireira
da Amazônia, que está caminhando para ter certificada 100% de toda a madeira que processa.
O governo acha que as concessões elevarão as exportações.
"Projetamos que 30% do produto
serrado seria exportado quando o
modelo estiver em pleno funcionamento", diz Tasso Azevedo, do
Ministério do Meio Ambiente.
Quanto isso se traduziria em receita bruta é difícil estimar. Hoje,
o valor das exportações de madeira tropical da Amazônia está em
torno de US$ 500 milhões. Mas,
com o aumento crescente na exportação de produto acabado (como pisos e esquadrias) em vez de
madeira simplesmente serrada, as
exportações estão se valorizando
cerca de 30% ao ano.
O aumento das exportações tem
um outro efeito esperado: valorizar a madeira no mercado nacional e inibir o que os cientistas e os
ambientalistas chamam de extração legal, mas predatória.
A lei brasileira prevê esse tipo de
origem de matéria-prima ao autorizar a abertura de 20% de cada
propriedade rural na Amazônia
para agricultura ou pasto. Os proprietários vendem as árvores a
preço de banana para um madeireiro, e não raro autorizações de
desmate de uma área são usadas
para "esquentar" madeira extraída clandestinamente de outra.
Ao aumentar o interesse pela
exportação, o governo espera
"elevar o nível" do manejo florestal para torná-lo mais competitivo com a madeira de desmate e a
madeira ilegal dentro do Brasil.
"Assumindo que você não melhore a fiscalização e o controle, as
concessões ampliam a oferta de
madeira legalizada e isolam a
bandidagem", afirma Adalberto
Veríssimo, do Imazon.
Impostos
Outra projeção do ministério é
que as concessões trarão uma arrecadação federal que a Amazônia da madeira ilegal nunca produziu. "Estima-se que, se chegássemos a um cenário mais provável, as florestas públicas no décimo ano gerariam R$ 5,4 bilhões.
Desse total, R$ 1,5 bilhão seria em
tributos", diz Azevedo.
(CA)
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