São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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AMAZÔNIA

Apenas 14% da madeira extraída na região vai para o mercado externo; expectativa é chegar a 30% em dez anos

Ministério pretende dobrar exportações

DO ENVIADO AO PARÁ

Um dos fatores responsáveis pelo alto grau de ilegalidade e dano ambiental da atividade madeireira na Amazônia é o tamanho do mercado interno: 86% de todas as árvores que são derrubadas nas florestas do Norte vão parar em casas e prédios de apartamentos do resto do Brasil, especialmente do Estado de São Paulo. Como se trata de um público mais interessado em preço baixo do que em sustentabilidade, os madeireiros clandestinos têm certeza de escoamento do produto.
As exportações estão muito aquém do potencial nacional. Hoje, o país responde por apenas 4% da madeira consumida no mundo, e a maioria vem de florestas plantadas no Sul e no Sudeste. De toda a madeira extraída na Amazônia, só 14% vão parar no exterior -as empresas certificadas exportam quase toda a produção.
"Não tem como vender uma tora 100% certificada no mercado nacional. Ninguém paga", diz Manoel Pereira Dias. Juntamente com a mãe e oito irmãos, Dias é sócio da Cikel, a maior madeireira da Amazônia, que está caminhando para ter certificada 100% de toda a madeira que processa.
O governo acha que as concessões elevarão as exportações. "Projetamos que 30% do produto serrado seria exportado quando o modelo estiver em pleno funcionamento", diz Tasso Azevedo, do Ministério do Meio Ambiente.
Quanto isso se traduziria em receita bruta é difícil estimar. Hoje, o valor das exportações de madeira tropical da Amazônia está em torno de US$ 500 milhões. Mas, com o aumento crescente na exportação de produto acabado (como pisos e esquadrias) em vez de madeira simplesmente serrada, as exportações estão se valorizando cerca de 30% ao ano.
O aumento das exportações tem um outro efeito esperado: valorizar a madeira no mercado nacional e inibir o que os cientistas e os ambientalistas chamam de extração legal, mas predatória.
A lei brasileira prevê esse tipo de origem de matéria-prima ao autorizar a abertura de 20% de cada propriedade rural na Amazônia para agricultura ou pasto. Os proprietários vendem as árvores a preço de banana para um madeireiro, e não raro autorizações de desmate de uma área são usadas para "esquentar" madeira extraída clandestinamente de outra.
Ao aumentar o interesse pela exportação, o governo espera "elevar o nível" do manejo florestal para torná-lo mais competitivo com a madeira de desmate e a madeira ilegal dentro do Brasil.
"Assumindo que você não melhore a fiscalização e o controle, as concessões ampliam a oferta de madeira legalizada e isolam a bandidagem", afirma Adalberto Veríssimo, do Imazon.

Impostos
Outra projeção do ministério é que as concessões trarão uma arrecadação federal que a Amazônia da madeira ilegal nunca produziu. "Estima-se que, se chegássemos a um cenário mais provável, as florestas públicas no décimo ano gerariam R$ 5,4 bilhões. Desse total, R$ 1,5 bilhão seria em tributos", diz Azevedo. (CA)


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