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Inadimplente, pioneiro aguarda certificação
DO ENVIADO AO PARÁ
O mineiro Antônio Leite, 39,
comandou a primeira experiência
de concessão florestal em terra
pública no Brasil, um contrato para a extração de madeira na Floresta Nacional do Tapajós, em
Belterra (PA). Hoje dirige uma
empresa pioneira, a Maflops, que
faz manejo florestal em terras de
assentados do Incra, dando infra-estrutura (estradas e casas) aos
colonos em troca de direitos exclusivos de exploração. O resultado? "Estou no Serasa."
Leite deve cerca de R$ 1 milhão à
Cemex, madeireira de Santarém
que financiou a constituição da
Maflops e que compra quase toda
a madeira que ele extrai no assentamento Moju, perto de Belterra.
Fez compras de maquinário e insumos com cheques pré-datados,
que foram devolvidos. Com a greve do Ibama (Instituto Brasileiro
do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis), não pôde
transportar madeira da floresta
para a serraria para ser vendida.
"Como eu não tenho garantias
reais, porque trabalho com maquinário alugado, não consigo financiamento do Basa [Banco da
Amazônia]."
Mesmo com os percalços financeiros, a Maflops, aguarda a certificação pelo FSC, que deve ocorrer no ano que vem.
O sistema de produção da Maflops é único na Amazônia. A empresa é uma prestadora de serviços, que aluga máquinas, extrai as
árvores e faz a intermediação da
venda da madeira entre associações de colonos dos assentamentos Moju 1 e Moju 2 e a Cemex.
Cada assentado tem um lote de
100 hectares, dos quais pode desmatar 20 para agricultura. A Maflops maneja a madeira nas reservas legais. Além de comprar a madeira, a empresa constrói e mantém estradas no assentamento e
ajuda a delimitar os lotes.
Pela madeira, os colonos recebem cerca de R$ 16 mil a R$ 18
mil, dependendo do quão abençoada for a sua floresta para espécies de valor comercial. "Já teve
gente que ganhou R$ 40 mil", afirma Leite, cuja presença no assentamento ajudou a frear os madeireiros clandestinos -o que já lhe
rendeu várias ameaças de morte.
O problema é que, dentro do
sistema de manejo, cada área precisa "descansar" até 30 anos para
que a floresta se regenere. Nesse
meio-tempo, o dono do lote precisa viver de outra coisa. "Ganhamos R$ 10 mil com madeira e estamos investindo em uma plantação de cacau", diz Socorro Pacatuba, 41, presidente de uma das
nove associações de assentados
que têm acordo com a Maflops.
A empresa tem quatro programas de renda para os colonos:
mecanização de lavouras, especialmente arroz, extração de óleo
de andiroba -uma andirobeira
derrubada vale R$ 70 pela madeira, mas seu óleo rende R$ 125 ao
ano-, plantação de curauá, fibra
que é a nova vedete da indústria
automobilística, e apicultura.
O sistema Maflops está tendo
sua expansão para outros locais
da Amazônia estudada pelo Ipam
(Instituto de Pesquisa Ambiental
da Amazônia). Por ser inédito,
não se enquadra em nenhuma linha de crédito dos bancos. O que
é um problema para Leite.
"Não quero nada de graça, mas,
já que estou fazendo o que o Estado deveria fazer, só queria que os
bancos me atendessem como
atendem os plantadores de soja."
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