São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BRA suspende todos os vôos e demite 1.100

Empresa aérea, a 3ª maior do país, atribui decisão a dificuldades financeiras; medida gera indignação de passageiros nos aeroportos

TAM diz que aceita endossar bilhetes da companhia concorrente; sindicato de aeronautas vê mais riscos de concentração de mercado

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

MARINA FALEIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A empresa aérea BRA anunciou ontem a suspensão de todos os seus vôos a partir de hoje. A companhia já tinha passagens vendidas até janeiro, mas não informou o número de bilhetes. Ontem, seus 1.100 funcionários foram demitidos.
A BRA justificou a decisão de interromper as operações por falta de dinheiro para pagar fornecedores e honrar compromissos. A situação se agravou nos últimos meses e culminou na saída de Humberto Folegatti, seu presidente, na semana passada. A empresa precisava de cerca de US$ 30 milhões para voltar a operar no azul.
Oficialmente, a BRA informou que está "procurando concretizar novo aporte financeiro". Na prática, especialistas afirmam que ela dificilmente voltará a operar. A BRA fazia 26 rotas nacionais e 3 internacionais, com 35 vôos domésticos de segunda a sexta.
Segundo a BRA, quem comprou seus bilhetes não deve se dirigir aos aeroportos ou às lojas antes de entrar em contato pelo telefone 0/xx/11/3583-0122 para obter informações sobre a reacomodação em outras companhias aéreas ou sobre o reembolso da passagem.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) procurou outras empresas para reacomodar passageiros. A TAM informou que, a partir de hoje, vai receber os passageiros da BRA para vôos domésticos e internacionais, de acordo com a disponibilidade. Até ontem à noite, a Gol e a Varig não haviam decidido se endossariam bilhetes.
Nos aeroportos, passageiros que iriam embarcar ontem ou que tinham passagens compradas reclamaram dos balcões fechados e da falta de orientação (leia texto nesta página).
A BRA é a terceira maior empresa do país: em setembro respondeu por 4,6% do mercado doméstico. De janeiro a setembro, transportou mais de 2 milhões de passageiros.
Criada em 1999, a BRA tinha sua imagem ligada ao perfil de baixo custo e baixa tarifa. Começou a fazer vôos regulares em 2005. No ano passado, a empresa conseguiu atrair investidores estrangeiros e anunciou como sócia, em dezembro, a Brazil Air Partners, composta por diversos fundos de investimento, como o Gávea, do ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga.
A entrada dos fundos foi divulgada à época como o início de uma gestão profissional, mas o choque de estilos acabou por arrefecer o ânimo dos fundos, que exigiram a saída de Folegatti. Segundo especialistas, eles chegaram a investir cerca de US$ 70 milhões.
"A situação vinha se deteriorando. Gastaram todo o dinheiro dos fundos, não pagavam combustível nem tarifas aeroportuárias", disse Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em aviação. Na semana passada, a empresa demitiu comissários de vôos internacionais. Já havia reduzido seu número de aviões para seis. Do total, um deles ficava de reserva.
Segundo Graziela Baggio, presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, a expectativa dos funcionários é que o governo decida intervir na empresa. "Essa crise da BRA poderá causar transtornos monstruosos, aumentando ainda mais a concentração do mercado", disse. TAM e Gol têm hoje cerca de 90% do mercado.
Segundo uma funcionária que não quis ser identificada, anteontem houve reunião às pressas com investidores para tentar manter a BRA de pé. Ela disse que foi avisada pelo chefe de que o salário, a ser pago hoje, tinha sido cancelado.
A BRA chegou a ter planos ambiciosos de expansão, como a compra de aviões da Embraer. Marcou reunião no BNDES para pedir financiamento, mas não compareceu. O problema, segundo executivos do setor, era a dificuldade para dar garantias financeiras.


Texto Anterior: Proposta sobre tarifa bancária deixa cobrança abusiva de fora
Próximo Texto: Ausência de informação causa revolta
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.