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BRA suspende todos os vôos e demite 1.100
Empresa aérea, a 3ª maior do país, atribui decisão a dificuldades financeiras; medida gera indignação de passageiros nos aeroportos
TAM diz que aceita endossar bilhetes da companhia concorrente; sindicato de aeronautas vê mais riscos de concentração de mercado
JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
MARINA FALEIROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A empresa aérea BRA anunciou ontem a suspensão de todos os seus vôos a partir de hoje. A companhia já tinha passagens vendidas até janeiro, mas
não informou o número de bilhetes. Ontem, seus 1.100 funcionários foram demitidos.
A BRA justificou a decisão de
interromper as operações por
falta de dinheiro para pagar fornecedores e honrar compromissos. A situação se agravou
nos últimos meses e culminou
na saída de Humberto Folegatti, seu presidente, na semana
passada. A empresa precisava
de cerca de US$ 30 milhões para voltar a operar no azul.
Oficialmente, a BRA informou que está "procurando concretizar novo aporte financeiro". Na prática, especialistas
afirmam que ela dificilmente
voltará a operar. A BRA fazia 26
rotas nacionais e 3 internacionais, com 35 vôos domésticos
de segunda a sexta.
Segundo a BRA, quem comprou seus bilhetes não deve se
dirigir aos aeroportos ou às lojas antes de entrar em contato
pelo telefone 0/xx/11/3583-0122 para obter informações
sobre a reacomodação em outras companhias aéreas ou sobre o reembolso da passagem.
A Anac (Agência Nacional de
Aviação Civil) procurou outras
empresas para reacomodar
passageiros. A TAM informou
que, a partir de hoje, vai receber
os passageiros da BRA para
vôos domésticos e internacionais, de acordo com a disponibilidade. Até ontem à noite, a
Gol e a Varig não haviam decidido se endossariam bilhetes.
Nos aeroportos, passageiros
que iriam embarcar ontem ou
que tinham passagens compradas reclamaram dos balcões fechados e da falta de orientação
(leia texto nesta página).
A BRA é a terceira maior empresa do país: em setembro respondeu por 4,6% do mercado
doméstico. De janeiro a setembro, transportou mais de 2 milhões de passageiros.
Criada em 1999, a BRA tinha
sua imagem ligada ao perfil de
baixo custo e baixa tarifa. Começou a fazer vôos regulares
em 2005. No ano passado, a
empresa conseguiu atrair investidores estrangeiros e anunciou como sócia, em dezembro,
a Brazil Air Partners, composta
por diversos fundos de investimento, como o Gávea, do ex-presidente do Banco Central
Armínio Fraga.
A entrada dos fundos foi divulgada à época como o início
de uma gestão profissional,
mas o choque de estilos acabou
por arrefecer o ânimo dos fundos, que exigiram a saída de Folegatti. Segundo especialistas,
eles chegaram a investir cerca
de US$ 70 milhões.
"A situação vinha se deteriorando. Gastaram todo o dinheiro dos fundos, não pagavam
combustível nem tarifas aeroportuárias", disse Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em
aviação. Na semana passada, a
empresa demitiu comissários
de vôos internacionais. Já havia reduzido seu número de
aviões para seis. Do total, um
deles ficava de reserva.
Segundo Graziela Baggio,
presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, a expectativa dos funcionários é que o
governo decida intervir na empresa. "Essa crise da BRA poderá causar transtornos monstruosos, aumentando ainda mais a concentração do mercado", disse. TAM e Gol têm hoje
cerca de 90% do mercado.
Segundo uma funcionária
que não quis ser identificada,
anteontem houve reunião às
pressas com investidores para
tentar manter a BRA de pé. Ela
disse que foi avisada pelo chefe
de que o salário, a ser pago hoje,
tinha sido cancelado.
A BRA chegou a ter planos
ambiciosos de expansão, como
a compra de aviões da Embraer.
Marcou reunião no BNDES para pedir financiamento, mas
não compareceu. O problema,
segundo executivos do setor,
era a dificuldade para dar garantias financeiras.
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