São Paulo, quarta-feira, 07 de novembro de 2007

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Planalto quer estocar gás e usar mais diesel em usinas

Governo afirma que não há risco de apagão energético devido à falta de combustível

Entre as alternativas para minimizar o risco, utilização de diesel é considerada uma medida mais cara e menos "limpa", porque polui mais

LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Reunidas na noite de anteontem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Planalto, as principais autoridades do setor energético repetiram o discurso de que não há risco de "apagão" devido à escassez de gás e reconheceram que, para que isso não aconteça, a solução a curto prazo inclui o uso de mais diesel -matriz mais poluente e mais cara- e estocar gás.
Segundo relato de assessores, na reunião os presentes discutiram alternativas para que, na próxima estação de seca, problemas de abastecimento de gás sejam minimizados. Duas possibilidades foram citadas no encontro como alternativas a curto prazo. Uma seria acelerar o processo para que todas as usinas termelétricas sejam bicombustíveis, ou seja, para que possam funcionar tanto a diesel quanto a gás. A outra seria o país estocar mais gás, importando-o de forma liqüefeita de países como Angola e Marrocos, por exemplo.
A reunião foi convocada depois que, na semana passada, a Petrobras restringiu o volume de gás entregue a distribuidoras do Rio e de São Paulo. O objetivo era cumprir um termo de compromisso com a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) que obriga a estatal a priorizar o atendimento a usinas térmicas a gás. A ação gerou temor de escassez de energia.
O governo, porém, repete à imprensa o discurso otimista já apresentado em situações anteriores. Continua repudiando a idéia de que existe uma crise de energia, culpa governos passados pela falta de investimentos em usinas e diz que há um "processo de retomada".
Apesar disso, desde que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, em 2003, a maior parte de energia elétrica contratada nos leilões de energia veio de usinas que já existiam.
Nos dois últimos leilões de energia, por falta de projetos para hidrelétricas, a maior parte da energia vendida foi de termelétricas a óleo combustível ou a carvão, que geram energia mais cara e poluem mais.
Além disso, assessores presidenciais insinuam que o "falatório do apagão" favorece os que têm energia para vender, pois a conseqüência é elevação nos preços.
A longo prazo, o governo também aposta num aumento de investimentos da Petrobras na Bolívia -eles haviam sido suspensos desde que o presidente boliviano, Evo Morales, decretou a nacionalização do gás, em maio do ano passado. Segundo assessores presidenciais, a própria Bolívia teria pedido ao Brasil que volte a investir, já que tem tido dificuldades de cumprir seus compromissos de entrega de gás por falta de produção.
Hoje, a Petrobras mantém na Bolívia a exploração de gás nos campos de San Antonio e San Alberto. O país vizinho sinalizou que a estatal brasileira poderá assumir a exploração no campo de Itaú, um dos maiores do país. Para o governo, o fato de a Bolívia buscar um entendimento é positivo.
Lula e Evo Morales deverão conversar pessoalmente no sábado, no Chile, numa agenda paralela à Cúpula Ibero-Americana. Em dezembro, o presidente pretende ir à Bolívia acompanhado de um grupo de empresários.
A semana de Lula ainda prevê uma ida ao Rio, amanhã, para que o presidente participe de reunião do conselho nacional de política energética.


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