São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Crise seca verbas e apetite para investir

Principais fontes de recursos não devem estar presentes em 2009; desde setembro, R$ 40 bi em projetos foram cancelados

BNDES surge como a fonte mais segura para os novos financiamentos ao setor produtivo; em 2007, banco respondeu por 26% do total


FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL

VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A crise econômica já levou empresas brasileiras a anunciar a suspensão de pelo menos R$ 40 bilhões em novos investimentos desde meados de setembro. O valor equivale a 31% de tudo o que as companhias do país investiram no segundo trimestre do ano (R$ 134 bilhões).
A crise também já secou quase completamente 23% do dinheiro para investimentos que as empresas captam no exterior e no mercado de capitais. Outra fonte, o autofinanciamento com o lucro (responde por 51% do investimento) está comprometido com a expectativa de queda nas vendas.
Setores como alimentos e bebidas, telecomunicações e têxtil já amargam no ano lucros expressivamente menores do que no ano passado.
A única fonte ainda fora dos efeitos da crise e que permanece intacta são os recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). No ano passado, o banco oficial proveu 26% do dinheiro que o setor privado gastou em investimentos.
Os desembolsos do BNDES para 2008 podem atingir R$ 90 bilhões. Só os investimentos suspensos pelo setor privado nos dois últimos meses e meio representam 45% desse valor.
Ao longo dos últimos trimestres, o investimento foi, ao lado do consumo das famílias, o principal carro-chefe do PIB (Produto Interno Bruto). O investimento cresce há 18 trimestres consecutivos e aumentou 16,2% no segundo trimestre -um recorde na série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Na terça-feira, o IBGE divulgará o PIB do terceiro trimestre, que ainda deve vir forte (acima de 5%), e com os investimentos elevados. Empresários e economistas ouvidos pela Folha afirmam, porém, que esse será o último período de fortes aportes na produção.
Além de as principais fontes de recursos estarem secando, a regra daqui em diante será "esperar para ver". No último trimestre de 2008, o efeito disso será uma freada significativa no crescimento do PIB.
"Estamos apenas no estágio inicial da crise e é natural que haja uma redução importante nos investimentos. Não vai parar quem não pode, quem já começou algo que não dá para interromper, e quem tem fonte de financiamento garantida", diz Paulo Francini, diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Na semana passada, a própria ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) afirmou que as empresas criaram "aversão a novos investimentos".
Para Marcelo Nascimento, economista do BNDES, o banco deverá se destacar no ano que vem como fonte de financiamento. Entre os setores com maior demanda, ele aponta a infra-estrutura e algumas áreas da indústria. Mas reconhece que o próprio banco vem fazendo uma reavaliação, para baixo, dos níveis de investimentos previstos até 15 de setembro.
"O problema com os investimentos é que devem ir para o "vinagre" principalmente os setores mais sofisticados, que vinham crescendo mais antes da crise", afirma o consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Julio Gomes de Almeida.
Nos últimos trimestres, os setores da indústria considerados de "alta" e "média-alta" tecnologias vinham liderando o aumento dos investimentos.
"A valorização do dólar vai restringir a compra de componentes nessas áreas, que são também muito dependentes de crédito. Elas serão as mais sacrificadas", diz Almeida.
Até mesmo um dos setores mais dinâmicos, a construção civil, já reviu fortemente para baixo o crescimento em 2009, que será sacrificado por uma queda nos investimentos.
O crescimento na construção deve cair pela metade no ano que vem, para 4,7%. Mais da metade disso será conseqüência ainda do forte resultado até antes do início da crise.


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