|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crise seca verbas e apetite para investir
Principais fontes de recursos não devem estar presentes em 2009; desde setembro, R$ 40 bi em projetos foram cancelados
BNDES surge como a fonte mais segura para os novos financiamentos ao setor produtivo; em 2007, banco respondeu por 26% do total
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
VERENA FORNETTI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A crise econômica já levou
empresas brasileiras a anunciar a suspensão de pelo menos
R$ 40 bilhões em novos investimentos desde meados de setembro. O valor equivale a 31%
de tudo o que as companhias do
país investiram no segundo trimestre do ano (R$ 134 bilhões).
A crise também já secou quase completamente 23% do dinheiro para investimentos que
as empresas captam no exterior e no mercado de capitais.
Outra fonte, o autofinanciamento com o lucro (responde
por 51% do investimento) está
comprometido com a expectativa de queda nas vendas.
Setores como alimentos e bebidas, telecomunicações e têxtil já amargam no ano lucros
expressivamente menores do
que no ano passado.
A única fonte ainda fora dos
efeitos da crise e que permanece intacta são os recursos do
BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social). No ano passado, o banco oficial proveu 26% do dinheiro que o setor privado gastou em investimentos.
Os desembolsos do BNDES
para 2008 podem atingir R$ 90
bilhões. Só os investimentos
suspensos pelo setor privado
nos dois últimos meses e meio
representam 45% desse valor.
Ao longo dos últimos trimestres, o investimento foi, ao lado
do consumo das famílias, o
principal carro-chefe do PIB
(Produto Interno Bruto). O investimento cresce há 18 trimestres consecutivos e aumentou
16,2% no segundo trimestre
-um recorde na série histórica
do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
Na terça-feira, o IBGE divulgará o PIB do terceiro trimestre, que ainda deve vir forte
(acima de 5%), e com os investimentos elevados. Empresários
e economistas ouvidos pela Folha afirmam, porém, que esse
será o último período de fortes
aportes na produção.
Além de as principais fontes
de recursos estarem secando, a
regra daqui em diante será "esperar para ver". No último trimestre de 2008, o efeito disso
será uma freada significativa no
crescimento do PIB.
"Estamos apenas no estágio
inicial da crise e é natural que
haja uma redução importante
nos investimentos. Não vai parar quem não pode, quem já começou algo que não dá para interromper, e quem tem fonte
de financiamento garantida",
diz Paulo Francini, diretor do
Departamento de Pesquisas e
Estudos Econômicos da Fiesp
(Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo).
Na semana passada, a própria ministra Dilma Rousseff
(Casa Civil) afirmou que as empresas criaram "aversão a novos investimentos".
Para Marcelo Nascimento,
economista do BNDES, o banco deverá se destacar no ano
que vem como fonte de financiamento. Entre os setores com
maior demanda, ele aponta a
infra-estrutura e algumas áreas
da indústria. Mas reconhece
que o próprio banco vem fazendo uma reavaliação, para baixo,
dos níveis de investimentos
previstos até 15 de setembro.
"O problema com os investimentos é que devem ir para o
"vinagre" principalmente os setores mais sofisticados, que vinham crescendo mais antes da
crise", afirma o consultor do Iedi (Instituto de Estudos para o
Desenvolvimento Industrial),
Julio Gomes de Almeida.
Nos últimos trimestres, os
setores da indústria considerados de "alta" e "média-alta" tecnologias vinham liderando o
aumento dos investimentos.
"A valorização do dólar vai
restringir a compra de componentes nessas áreas, que são
também muito dependentes de
crédito. Elas serão as mais sacrificadas", diz Almeida.
Até mesmo um dos setores
mais dinâmicos, a construção
civil, já reviu fortemente para
baixo o crescimento em 2009,
que será sacrificado por uma
queda nos investimentos.
O crescimento na construção
deve cair pela metade no ano
que vem, para 4,7%. Mais da
metade disso será conseqüência ainda do forte resultado até
antes do início da crise.
Texto Anterior: Mercado Aberto Próximo Texto: Rubens Ricupero: Crise e poder Índice
|