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Crise ameaça interromper melhora nas contas públicas
Governo terá dificuldade em cumprir previsões de redução no déficit do INSS e na dívida
Folha de pagamentos do funcionalismo superará os 5% do PIB pela primeira vez desde 1995 se o crescimento
for inferior a 3% em 2009
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A esperada desaceleração da
economia brasileira já ameaça
interromper a melhora dos
principais indicadores das contas públicas em 2009, além de
explicitar os custos da política
de expansão de gastos da União
conduzida no segundo mandato do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Enquanto as projeções de
crescimento econômico no
próximo ano caminham dos 5%
originalmente prometidos pelo
governo para os menos de 3%
esperados entre os analistas de
mercado, torna-se mais difícil
cumprir as previsões orçamentárias de redução do déficit da
Previdência Social e da dívida
pública, ambos medidos como
proporção do PIB (Produto Interno Bruto).
Fica também esvaziado o discurso petista destinado a minimizar o impacto do pacote de
reajustes salariais generalizados concedido neste ano ao
funcionalismo, cujo argumento
principal tem sido sustentar
que os gastos de pessoal, em relação ao PIB, ainda são inferiores aos deixados pelo tucano
Fernando Henrique Cardoso
em 2002.
Os dados do projeto de Orçamento de 2009, ainda em discussão no Congresso, são suficientes para pôr em xeque a expectativa de reduzir pelo terceiro ano consecutivo o déficit
do INSS (Instituto Nacional do
Seguro Social), ou seja, a diferença entre as contribuições
pagas por trabalhadores e empregadores e os pagamentos de
aposentadorias, pensões e outros benefícios.
Graças ao período de bonança iniciado em 2007, o déficit
caiu de 1,8%, no último ano do
primeiro governo Lula, para
1,31% do PIB esperado neste
ano. Mesmo com o envelhecimento da população e os reajustes do salário mínimo acima
da variação dos preços, os aumentos do PIB e da massa salarial (que compreende a quantidade de empregos e a renda dos
trabalhadores) garantiram
mais arrecadação e um déficit
mais baixo -e permitiram ao
governo adiar um debate politicamente explosivo sobre a reforma do sistema.
Na primeira versão do Orçamento, elaborada em agosto, a
estimativa de alta do PIB já havia caído dos 5% fixados pelo
PAC (Programa de Aceleração
do Crescimento) para 4,5%.
Em revisão enviada ao Congresso no final de novembro, a
previsão do Executivo caiu para 4%, enquanto o aumento calculado para a massa salarial
passou de 14,08% para 12,95%.
Mesmo mais otimistas que as
expectativas do mercado, os indicadores são suficientes para
praticamente inviabilizar a desejada queda do déficit para
1,28% do PIB. Como a arrecadação da Previdência é diretamente proporcional à massa
salarial, só a frustração de receita pode elevar o déficit a algo
como 1,34% do PIB.
A segunda maior despesa federal, depois dos benefícios
previdenciários, também mostrará piora. Se o crescimento
econômico ficar mesmo abaixo
de 3%, a folha de pagamentos
do funcionalismo, de R$ 155,3
bilhões no ano que vem, superará os 5% do PIB, teto que não
é ultrapassado desde 1995.
Dívida
Resultado do melhor momento da economia mundial
desde a década de 70, a recuperação brasileira também tem
permitido, desde 2004, uma
trajetória contínua de redução
da dívida pública em relação ao
PIB -ainda que, no período, o
governo não tenha deixado de
gastar acima de suas receitas.
Aumentando menos que a
produção nacional de bens e
serviços, a dívida deixou o patamar de pouco mais de 50% do
PIB dos anos FHC para os cerca
de 38% projetados para este final de ano. Para o ano que vem,
porém, não apenas o PIB crescerá menos: os gastos com juros subirão, e o governo já
anunciou a disposição de atenuar o aperto fiscal.
Nas contas da consultoria
LCA, criada pelo hoje presidente do BNDES, Luciano Coutinho, a dívida poderá cair de
38,6% para 37,7% do PIB com
um crescimento econômico de
3%. Em um cenário adverso,
que para a empresa tem 30% de
chance de se materializar, a
economia cresceria apenas
1,9% e a dívida não cairia.
Para Luiz Fernando Lopes,
economista do Pátria Investimentos, a dívida tende a ficar
estável em relação ao PIB, com
variações de casas decimais,
mantido um crescimento econômico médio de 3% entre
2009 e 2010. No ponto médio
das projeções dos analistas de
mercado, um crescimento esperado de 2,8% levaria a dívida
a uma queda modesta, de
38,45% para 38% do PIB.
Nem nos cenários mais pessimistas, porém, trabalha-se
com o risco de uma disparada
da dívida pública como a de dez
anos atrás, no colapso do Plano
Real, quando houve um aumento de quase 15% da relação
dívida/PIB em um ano. De lá
para cá, houve uma mudança
crucial: o governo passou de devedor a credor em dólar, e a alta
da moeda americana reduz a
dívida, ao invés de elevá-la.
"O grande risco, que era o
câmbio, foi quebrado em 2006
[quando as reservas cambiais
superaram a dívida externa]",
diz Bráulio Borges, da LCA. Por
esse raciocínio, a dívida só dispararia se o Banco Central vendesse algo como US$ 140 bilhões, mais de 70% das reservas, na tentativa de conter a alta do dólar. Para Lopes, isso não
acontecerá: "O BC já deixou
claro que não torrará reservas,
mesmo que o dólar cause alguma inflação".
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