|
Texto Anterior | Índice
Distorções na economia venezuelana permitem ascensão de "boligarcas"
Capitalistas bolivarianos fazem fortuna graças à boa relação com governo Chávez
BENEDICT MANDER
DO "FINANCIAL TIMES", EM CARACAS
Há dez anos, Wilmer Ruperti
era apenas mais um empresário ambicioso. Agora, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, está celebrando uma década no poder e Ruperti se tornou
um armador bilionário e um
dos homens mais ricos do país.
Muitos dos pares de Ruperti
alegam que o sucesso que conquistou se deve a algo mais que
seu tino empresarial. Ele costuma ser classificado como um
dos mais notórios "boligarcas",
parte de uma nova geração de
magnatas dos negócios na Venezuela. Diz-se que eles desfrutam de um relacionamento
muito estreito com o governo
"bolivarista" de Chávez.
Ruperti diz que as críticas
contra ele se relacionam ao papel que exerceu no combate à
paralisação do setor petroleiro
em 2003, engendrada pelos
oponentes de Chávez.
Depois de colocar seus petroleiros à disposição do presidente, o que permitiu a Chávez sobreviver aos esforços da oposição para cortar as receitas do
governo com a exportação de
petróleo, Ruperti se viu em posição favorável para conquistar
futuros contratos de transporte junto à estatal petroleira
PDVSA, em um momento no
qual outros empresários estavam excluídos da disputa.
"Foi uma decisão séria. Normalmente não faço apostas tão
arriscadas como aquela", afirmou Ruperti.
Daniel Helinger, historiador
e cientista político especializado em Venezuela, diz que os
surtos petroleiros anteriores
também ajudaram a gerar novas elites empresariais.
Ele distingue dois grupos de
"boligarcas": os membros da
velha ordem que "mudaram de
bandeira na hora certa" e um
novo grupo que "tomou decisões inteligentes, construiu conexões no governo, mostrou
muita astúcia e simplesmente
sabia como trabalhar o sistema
em benefício próprio".
Por outro lado, os líderes empresariais que apoiaram a greve
do petróleo e um golpe de Estado frustrado em 2002 saíram
prejudicados. A baixa mais notória é a RCTV, que foi por muito tempo a rede de televisão
mais popular do país. A concessão da rede foi cancelada no
ano passado, em parte devido
às acusações de Chávez de que
seus dirigentes estiveram envolvidos na tentativa de golpe.
A diferença entre a velha elite e a nova, dizem os observadores, é que a nova evita a política. "O governo evidentemente se sente mais confortável
trabalhando com pessoas que
não estão tentando derrubá-lo", diz Arturo Sarmiento, antigo importador de uísque e operador de petróleo e hoje presidente da Telecaribe, uma estação regional de televisão.
Alberto Cudemus, um proeminente empresário do setor
de suinocultura e bem relacionado com o governo, diz que
"muitos dos empresários tradicionais simplesmente não
compreenderam que uma
grande mudança aconteceu. As
empresas têm de voltar a fazer
o que deveriam ter feito o tempo todo: investir, gerar empregos, desenvolver tecnologias e
produzir bens e serviços. Não
cabe a nós fazer leis".
De fato, embora Chávez defina seu credo político como "socialismo do século 21", alguns
capitalistas, especialmente os
do setor de commodities, os
que estão expostos ao boom de
consumo e aqueles que se beneficiam das distorções econômicas, vêm florescendo -bancos mais especialmente.
Mas fazer uma fortuna na
Venezuela deve se tornar muito mais difícil daqui para a frente. O colapso dos preços do petróleo significa que os "boligarcas" enfrentarão momentos
mais difíceis.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: Crise ameaça interromper melhora nas contas públicas Índice
|