São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2008

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Distorções na economia venezuelana permitem ascensão de "boligarcas"

Capitalistas bolivarianos fazem fortuna graças à boa relação com governo Chávez

BENEDICT MANDER
DO "FINANCIAL TIMES", EM CARACAS

Há dez anos, Wilmer Ruperti era apenas mais um empresário ambicioso. Agora, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, está celebrando uma década no poder e Ruperti se tornou um armador bilionário e um dos homens mais ricos do país.
Muitos dos pares de Ruperti alegam que o sucesso que conquistou se deve a algo mais que seu tino empresarial. Ele costuma ser classificado como um dos mais notórios "boligarcas", parte de uma nova geração de magnatas dos negócios na Venezuela. Diz-se que eles desfrutam de um relacionamento muito estreito com o governo "bolivarista" de Chávez.
Ruperti diz que as críticas contra ele se relacionam ao papel que exerceu no combate à paralisação do setor petroleiro em 2003, engendrada pelos oponentes de Chávez.
Depois de colocar seus petroleiros à disposição do presidente, o que permitiu a Chávez sobreviver aos esforços da oposição para cortar as receitas do governo com a exportação de petróleo, Ruperti se viu em posição favorável para conquistar futuros contratos de transporte junto à estatal petroleira PDVSA, em um momento no qual outros empresários estavam excluídos da disputa. "Foi uma decisão séria. Normalmente não faço apostas tão arriscadas como aquela", afirmou Ruperti.
Daniel Helinger, historiador e cientista político especializado em Venezuela, diz que os surtos petroleiros anteriores também ajudaram a gerar novas elites empresariais.
Ele distingue dois grupos de "boligarcas": os membros da velha ordem que "mudaram de bandeira na hora certa" e um novo grupo que "tomou decisões inteligentes, construiu conexões no governo, mostrou muita astúcia e simplesmente sabia como trabalhar o sistema em benefício próprio".
Por outro lado, os líderes empresariais que apoiaram a greve do petróleo e um golpe de Estado frustrado em 2002 saíram prejudicados. A baixa mais notória é a RCTV, que foi por muito tempo a rede de televisão mais popular do país. A concessão da rede foi cancelada no ano passado, em parte devido às acusações de Chávez de que seus dirigentes estiveram envolvidos na tentativa de golpe.
A diferença entre a velha elite e a nova, dizem os observadores, é que a nova evita a política. "O governo evidentemente se sente mais confortável trabalhando com pessoas que não estão tentando derrubá-lo", diz Arturo Sarmiento, antigo importador de uísque e operador de petróleo e hoje presidente da Telecaribe, uma estação regional de televisão.
Alberto Cudemus, um proeminente empresário do setor de suinocultura e bem relacionado com o governo, diz que "muitos dos empresários tradicionais simplesmente não compreenderam que uma grande mudança aconteceu. As empresas têm de voltar a fazer o que deveriam ter feito o tempo todo: investir, gerar empregos, desenvolver tecnologias e produzir bens e serviços. Não cabe a nós fazer leis".
De fato, embora Chávez defina seu credo político como "socialismo do século 21", alguns capitalistas, especialmente os do setor de commodities, os que estão expostos ao boom de consumo e aqueles que se beneficiam das distorções econômicas, vêm florescendo -bancos mais especialmente.
Mas fazer uma fortuna na Venezuela deve se tornar muito mais difícil daqui para a frente. O colapso dos preços do petróleo significa que os "boligarcas" enfrentarão momentos mais difíceis.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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