São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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LUÍS NASSIF

A doença urbana dos bingos

No final do ano venceram as licenças para funcionamento das casas de bingo. Muitos bingos reabriram com liminares. No Congresso discute-se uma nova lei. Ontem ouvi parlamentares e autoridades defendendo a regulamentação dos bingos, para que não se perca arrecadação.
É uma indecência esse tipo de discussão. A manutenção desse vício vai depor, mais cedo ou mais tarde, contra todos aqueles que forem agentes ativos dessa imoralidade ou complacentes com ela. Antes que cometam esse crime social de reautorizar o funcionamento dos bingos, recomendo a leitura dos e-mails que recebi após escrever coluna sobre o tema, em 1º de janeiro. Dá uma idéia sobre o desespero que esse vício provoca.
De I.C., de São José do Rio Preto (SP):
"Eu frequentei o bingo diariamente por mais de três anos. Nesse período presenciei histórias horríveis. Tem uma andarilha que frequenta o Bingo São José. Tudo que ela arrecada na rua coloca nas máquinas. Os mototaxistas do Bingo Rio Preto, a cada corrida que fazem, entram no bingo e colocam nas máquinas. Dois vendedores ambulantes (balas caseiras e panelas de alumínio) vendem as mercadorias na rua, entram no bingo, jogam tudo, saem de novo para vender, jogam de novo, e assim vai o dia todo."
De G.G., de Vitória (ES):
"No Espírito Santo, por mais de dez anos a Assembléia Legislativa tem sido dominada por um esquema ligado (no mínimo) a esse tipo de contravenção, em particular pelo seu representante mais polêmico, o ainda deputado e presidente da casa por seis anos, José Carlos Gratz. Ex-bicheiro, ele próprio explica que virou empresário e é sócio de inúmeras casas de bingo do Estado."
"Uma das vantagens obtidas por Gratz (quando o governador José Ignácio estava sob ameaça de impeachment) foi envio de um projeto de lei, aprovado em tempo recorde, de criação da Loteres (Loterias do Espírito Santo), que substituiria a Caixa Econômica Federal na fiscalização dos bingos capixabas. Vale lembrar que a CEF havia fechado vários bingos por irregularidades administrativas meses antes e que a Polícia Federal e o Ministério Público investigavam essas atividades na época."
De L.K.M, de São Paulo:
"Essa praga assola de forma nefasta a população das grandes metrópoles, notadamente de pessoas da terceira idade, que, pela ausência de outras atividades sociais afins, disponibilizam suas já escassas economias nas viciadas casas de bingo. Espero, com seu alarde, outras manifestações, para que as autoridades se manifestem antes que seja tarde demais."
De T.V., de São Paulo:
"Parabéns por ter coragem de escrever sobre as camufladas consequências maléficas do jogo compulsivo provocadas pelo acesso fácil às centenas de bingos, principalmente nas grandes cidades. O bingo fica logo ali, sempre há um pertinho de casa, do trabalho etc."
De B.O., de São Paulo:
"Você teve coragem para tocar numa questão importante e delicada que muitos preferem fazer de conta que não enxergam -perfeita sua definição de "praga urbana". Utilizando-se de sua profissão de jornalista, você conseguiu contribuir como ser humano para o esclarecimento de muitos leitores com relação a essa coisa maldita que tantos ainda acreditam ser apenas "diversão"."
De W.L., de São Paulo:
"Como membro dos jogadores anônimos, pois também me viciei nessas famigeradas máquinas de bingo, venho agradecer sua reportagem, pois assim mais e mais pessoas tomarão conhecimento dessa vergonha que se chama bingo."

Desastrado
Em períodos iniciais de governo, são normais os choques de declarações pelo deslumbramento dos que ocupam cargos relevantes pela primeira vez. Mas o novo ministro de Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral, extrapolou. Ignorou completamente as amplas discussões ocorridas nos últimos anos em relação ao tema e, ao aceitar a casca de banana de repórteres e defender o direito do Brasil dominar a tecnologia de fabricação de bombas, ignora a Constituição e os tratados que o país assinou e coloca em risco o próprio futuro do programa nuclear brasileiro, um dos mais consistentes programas tecnológicos do país.
Não tem a menor noção de como se comportar como ministro.

E-mail -
lnassif@uol.com.br


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