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LUÍS NASSIF
A doença urbana dos bingos
No final do ano venceram
as licenças para funcionamento das casas de bingo. Muitos bingos reabriram com liminares. No Congresso discute-se
uma nova lei. Ontem ouvi parlamentares e autoridades defendendo a regulamentação dos
bingos, para que não se perca
arrecadação.
É uma indecência esse tipo de
discussão. A manutenção desse
vício vai depor, mais cedo ou
mais tarde, contra todos aqueles
que forem agentes ativos dessa
imoralidade ou complacentes
com ela. Antes que cometam esse crime social de reautorizar o
funcionamento dos bingos, recomendo a leitura dos e-mails
que recebi após escrever coluna
sobre o tema, em 1º de janeiro.
Dá uma idéia sobre o desespero
que esse vício provoca.
De I.C., de São José do Rio Preto (SP):
"Eu frequentei o bingo diariamente por mais de três anos.
Nesse período presenciei histórias horríveis. Tem uma andarilha que frequenta o Bingo São
José. Tudo que ela arrecada na
rua coloca nas máquinas. Os
mototaxistas do Bingo Rio Preto, a cada corrida que fazem,
entram no bingo e colocam nas
máquinas. Dois vendedores ambulantes (balas caseiras e panelas de alumínio) vendem as
mercadorias na rua, entram no
bingo, jogam tudo, saem de novo para vender, jogam de novo,
e assim vai o dia todo."
De G.G., de Vitória (ES):
"No Espírito Santo, por mais
de dez anos a Assembléia Legislativa tem sido dominada por
um esquema ligado (no mínimo) a esse tipo de contravenção,
em particular pelo seu representante mais polêmico, o ainda
deputado e presidente da casa
por seis anos, José Carlos Gratz.
Ex-bicheiro, ele próprio explica
que virou empresário e é sócio
de inúmeras casas de bingo do
Estado."
"Uma das vantagens obtidas
por Gratz (quando o governador José Ignácio estava sob
ameaça de impeachment) foi
envio de um projeto de lei, aprovado em tempo recorde, de criação da Loteres (Loterias do Espírito Santo), que substituiria a
Caixa Econômica Federal na
fiscalização dos bingos capixabas. Vale lembrar que a CEF havia fechado vários bingos por irregularidades administrativas
meses antes e que a Polícia Federal e o Ministério Público investigavam essas atividades na
época."
De L.K.M, de São Paulo:
"Essa praga assola de forma
nefasta a população das grandes metrópoles, notadamente de
pessoas da terceira idade, que,
pela ausência de outras atividades sociais afins, disponibilizam
suas já escassas economias nas
viciadas casas de bingo. Espero,
com seu alarde, outras manifestações, para que as autoridades
se manifestem antes que seja
tarde demais."
De T.V., de São Paulo:
"Parabéns por ter coragem de
escrever sobre as camufladas
consequências maléficas do jogo
compulsivo provocadas pelo
acesso fácil às centenas de bingos, principalmente nas grandes
cidades. O bingo fica logo ali,
sempre há um pertinho de casa,
do trabalho etc."
De B.O., de São Paulo:
"Você teve coragem para tocar
numa questão importante e delicada que muitos preferem fazer de conta que não enxergam
-perfeita sua definição de "praga urbana". Utilizando-se de
sua profissão de jornalista, você
conseguiu contribuir como ser
humano para o esclarecimento
de muitos leitores com relação a
essa coisa maldita que tantos
ainda acreditam ser apenas "diversão"."
De W.L., de São Paulo:
"Como membro dos jogadores
anônimos, pois também me viciei nessas famigeradas máquinas de bingo, venho agradecer
sua reportagem, pois assim mais
e mais pessoas tomarão conhecimento dessa vergonha que se
chama bingo."
Desastrado
Em períodos iniciais de governo, são normais os choques de
declarações pelo deslumbramento dos que ocupam cargos
relevantes pela primeira vez.
Mas o novo ministro de Ciência
e Tecnologia, Roberto Amaral,
extrapolou. Ignorou completamente as amplas discussões
ocorridas nos últimos anos em
relação ao tema e, ao aceitar a
casca de banana de repórteres e
defender o direito do Brasil dominar a tecnologia de fabricação de bombas, ignora a Constituição e os tratados que o país
assinou e coloca em risco o próprio futuro do programa nuclear brasileiro, um dos mais
consistentes programas tecnológicos do país.
Não tem a menor noção de como se comportar como ministro.
E-mail -
lnassif@uol.com.br
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