São Paulo, quarta-feira, 08 de janeiro de 2003

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EM TRANSE

Plano que injetará US$ 674 bi na economia vai elevar déficit; gasto é necessário em "tempos de guerra", diz presidente

Bush anuncia pacote econômico "de guerra"

MARCIO AITH
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, anunciou ontem seu controverso pacote de estímulo econômico visando injetar US$ 674 bilhões na economia americana nos próximos dez anos.
Criticado fortemente pela oposição democrata, o plano -que contém medidas para estimular o consumo e inflar o mercado de ações- deverá empurrar o déficit orçamentário da Casa Branca para mais de US$ 250 bilhões neste ano (sem contar o custo de uma eventual guerra contra o Iraque).
Discursando em Chicago em clima de comício, Bush disse que sua preocupação são os pobres e desempregados e eximiu-se da responsabilidade pelo déficit orçamentário.
Segundo ele, os estímulos do governo são necessários "em tempos de guerra".
"A recessão e o declínio das Bolsas americanas reduziram as receitas das empresas e criaram um déficit orçamentário", afirmou. "Em tempos de guerra, posso garantir que esse governo está gastando o que é necessário para ganhar a guerra", acrescentou.

Valorização das Bolsas
O ponto central do pacote é a eliminação do imposto pago pelos investidores quando recebem dividendos de suas ações. Segundo a Casa Branca, essa medida custará US$ 300 bilhões, beneficiará 35 milhões de acionistas, valorizará as Bolsas em no mínimo 10% e promoverá investimentos de US$ 20 bilhões.
Outras medidas do pacote são a antecipação para 2003 de cortes de impostos originalmente previstos para 2004 e 2005, o socorro a Estados em dificuldades, regras mais generosas para as empresas amortizarem o pagamento de seus equipamentos e a criação de um fundo que dará US$ 3.000 a cerca de 1,2 milhão de americanos desempregados.
A Casa Branca diz que o plano vai criar 2,1 milhões de postos de trabalho nos próximos três anos.
Dos US$ 674 bilhões que compõem o pacote de Bush, US$ 98 bilhões seriam gastos nos próximos 16 meses.

Críticas dos democratas
Os democratas dizem que o pacote é irresponsável e eleitoreiro. Segundo eles, as medidas favorecem os mais ricos e destinam-se a fortalecer o presidente Bush nas eleições presidenciais de 2004. O pacote deve ser aprovado pelo Congresso, onde o partido do presidente, o Republicano, tem maioria.
Presidenciável democrata, o senador John Edwards (Carolina do Norte) disse que o plano vai aprofundar a crise das contas do governo.
"O pacote não faz nenhum sentido se o objetivo é estimular a economia dentro de um parâmetro de responsabilidade fiscal", disse ele, referindo-se ao buraco que as medidas causarão no orçamento federal.
Os democratas também acusam Bush de proteger excessivamente a camada mais rica da população ao propor redução acelerada de impostos também para as faixas mais altas de renda -medida que o próprio presidente relutava em adotar.
Em 2001, quando o governo americano anunciou um programa de cortes gradativos de impostos no valor US$ 1,35 trilhão ao longo de dez anos, Bush foi muito criticado por ter incluído nesse programa aqueles que pagam a alíquota mais alta do imposto de renda.

Estímulos fiscais
Ontem, em seu discurso, Bush disse que a economia americana precisa "com urgência" de estímulos fiscais, embora os EUA, segundo ele, já não corram mais o risco de uma nova recessão.
"Não podemos ficar satisfeitos até que cada parte de nossa economia esteja saudável e vigorosa. Não descansaremos até que cada empresa tenha a possibilidade de crescer e cada pessoa que queira trabalhar possa encontrar um emprego", disse o presidente.


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