São Paulo, quinta-feira, 08 de janeiro de 2009

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VINICIUS TORRES FREIRE

Inflação do dólar: quem dá mais?


Previsões de inflação e de atividade industrial saem muito erradas. E como ficará o efeito do câmbio no IPCA?

A INDÚSTRIA espatifou-se em novembro, para a surpresa do pessoal de bancos e consultorias, que parece fora de sintonia com a economia real. Ontem, a inflação medida pelo IGP-DI da FGV indicou outra vez que o GPS dos economistas perdeu contato com os satélites, ficou sem norte. Previa-se, na média, deflação de 0,15%. Foi de 0,44%.
Isso é sinal de que a economia passou por choques e que, pois, modelos de previsão ficam ainda mais fora de prumo que de hábito. Assim, a biruta das estimativas gira também no debate sobre o efeito do dólar e da geada econômica sobre a inflação.
No Instituto Brasileiro de Economia (Ibre, centro de pesquisa da FGV), acredita-se que o repasse da alta do dólar para a inflação é menor do que o foi em 1999 (queda do real forte) e em 2002 (crise econômica e eleição de Lula). É o diagnóstico da "Carta do Ibre" de janeiro, texto que abre a revista "Conjuntura Econômica". O Ibre é dirigido pelo economista Luiz Guilherme Schymura. Na "Carta do Ibre", argumenta-se que em 1999 e 2002 o choque do câmbio provocou alta quase imediata no preço das matérias-primas (medido pelo IGP da FGV), o que não ocorreu em 2008. "Assim, ... não há uma onda inflacionária em formação. Pelo contrário, no geral os custos da indústria estão em desaceleração", diz o texto do Ibre.
Além do mais, o preço das commodities agrícolas e industriais cai.
Em 1999, o preço dessa cesta de commodities quase não variou do início da desvalorização do real até o final daquele ano. Em 2002, as commodities subiram. Em 2008, do pico das commodities, em julho de 2008, até dezembro, a queda foi de 45%.
Na "Carta", diz-se que a baixa das commodities deve continuar. De resto, a indústria ainda trabalha com preços de contratos de fornecimento antigos. Renovados, devem incorporar ainda mais baixas de preços. As empresas ora desovam estoques. A reposição dos estoques deve ocorrer a custo mais baixo. "Portanto, a pressão inflacionária vinda da indústria pode se reduzir ainda mais nos próximos meses", diz o texto.
No lado mais pessimista estão economistas como Alexandre Schwartsman, ex-diretor do BC, ora no Santander. Num estudo divulgado em 17 de dezembro, com Tatiana Pinheiro, avalia que os resultados da inflação corrente (de setembro a novembro) não servem como prognóstico para o repasse cambial.
Schwartsman e Tatiana elaboraram um modelo formal para estimar o efeito da alta do dólar. Levaram em conta, além do efeito do câmbio sobre o núcleo da inflação, o desvio do PIB em relação a seu potencial, expectativa de inflação e preço de commodities. Estimaram que o efeito do dólar começa a aparecer um trimestre depois do choque cambial, sendo mais intenso no trimestre seguinte -entre o quarto e o sexto mês (março e maio de 2009, pois). O repasse para a inflação (no ano posterior ao choque) seria de 10% da desvalorização -"se o padrão observado no passado permanece válido".
A dupla do Santander observa, porém, que há "atenuantes", digamos, nesta crise. O Banco Central teria mais credibilidade (a expectativa de inflação seria menor) e o preço das commodities ora cai, em dólares.
Mas o risco do repasse ainda seria alto, embora menor que em 2002.

vinit@uol.com.br


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