São Paulo, terça-feira, 08 de fevereiro de 2000


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LUÍS NASSIF

Futebol não é o mesmo

Nos últimos seis meses, a indústria de entretenimento nacional passou pela maior transformação de sua história, similar ao período do pós-guerra, quando deixou de ser exportador exclusivo de produtos primários e passou a produzir industrializados. A imagem é de diretores do Sport Club Corinthians Paulista, o clube que comandou a revolução.
Em um período fulminante, deixou de ser exportador de jogadores para ser investidor e passou a colocar duas marcas no restrito mundo das marcas mundiais: há três semanas, Corinthians e Clube de Regatas Vasco da Gama constam na lista dos melhores clubes do mundo da CNN com a revista inglesa World Soccer -em primeiro e quarto lugar, respectivamente. Recentemente, o campeonato mundial de clubes lançou a marca de ambos para 160 países de todo o mundo. Provavelmente jamais, na histórica recente, o país teve duas marcas com tal visibilidade mundial.
Em agosto, quando tratei da associação do Corinthians com o fundo americano HMTF (Hicks, Muse, Tate & Furst), sob o título "Uma revolução no futebol", nem de longe poderia imaginar a rapidez com que o processo iria se consolidar.
O fundo trouxe recursos e profissionalização. Em pleno campeonato mundial, o Corinthians teve dois zagueiros contundidos. Em questão de dias, o fundo providenciou recursos para a aquisição dos substitutos. Nesse período, o clube conquistou o título paulista, o nacional e um mundial.
A lógica desses fundos é a de fortalecimento da marca. Para tanto, interessa-lhes criar as melhores condições de infra-estrutura, que garantam vitórias e exposição. É um processo diferente daquele que está aproximando o Roma do Caxias. A intenção do clube italiano é adquirir o gaúcho e transformá-lo em uma base de exportação de jogadores brasileiros para a Europa. Deveria ser proibido.
Aliás, esse mesmo processo praticamente arrasou com o futebol africano. Empresários espertos passaram a prospectar o mercado africano e a amarrar com contratos baratos, e de longuíssimo prazo, os jovens jogadores mais promissores. Para evitar esse neocolonialismo, recentemente a Fifa determinou que os clubes que descobrem jogadores terão participação na primeira renegociação após sua venda.
Curiosamente, em um tema fundamental para o esporte brasileiro, o Ministério dos Esportes está quase totalmente ausente. A única manifestação do ministro Rafael Greca foi uma medida provisória proibindo fundos de investimento de investir em mais de um clube -presumivelmente para evitar manipulação de resultados. Na verdade, a medida foi para defender especialmente os interesses da Rede Globo, preocupada com a possibilidade de o fundo americano passar a dominar o mercado de transmissão de jogos pela TV paga e encarecer o pagamento de luvas aos clubes.
Trata-se de erro de enfoque. O grande mercado para o futebol brasileiro é o internacional. Quanto maior o fortalecimento do futebol brasileiro, maior o espaço a ser conquistado pela indústria de entretenimento nacional junto ao mercado mundial.
Se houvesse visão estratégica no Ministério dos Esportes, poderia se pensar até na criação de fundos para investir na promoção de times sem acesso ao mercado de capitais internacionais. E se cuidaria imediatamente de acabar com essa prática horrorosa dos bingos.

Responsabilidade fiscal
Para ser eficaz, a Lei de Responsabilidade Fiscal deveria atrelar a remuneração dos vereadores à receita própria dos municípios. Seria a melhor maneira de acabar com as concessões geralmente aprovadas pelas Câmaras.

Lei da Mordaça
O ponto essencial da Lei da Mordaça é o prazo definido para completar inquéritos. Vai acabar com essa história de abrir processos infindáveis, impedindo a punição dos culpados e a reparação dos inocentes.


E-mail: lnassif@uol.com.br



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