São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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CONTAS EXTERNAS

Aumento das exportações (reflexo da estagnação) melhorou índices, mas país está atrás de outros emergentes

Dados do BC apontam menor vulnerabilidade

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Indicadores calculados pelo Banco Central apontam para uma menor vulnerabilidade externa da economia brasileira. O crescimento das exportações, reflexo da desvalorização do real e da estagnação da economia, foi um dos principais fatores que explicam o movimento. Apesar da melhora, os números ainda são inferiores aos de outros países emergentes.
Periodicamente, o BC calcula 11 índices referentes à situação das contas externas do país (veja quadro ao lado). Eles comparam o tamanho da dívida externa brasileira e os gastos com juros com outros indicadores, como o tamanho das reservas em moeda estrangeira do governo e o total de exportações.
No ano passado, 9 desses 11 índices registraram melhora quando comparados com os resultados de 2002. Em relação a 2001, houve avanços em sete itens.
Números apurados em setembro de 2003, por exemplo, mostravam que os gastos com o chamado serviço da dívida externa (pagamentos de prestações somados às despesas com juros) representavam 70% das exportações brasileiras. Em dezembro de 2002, essa proporção estava em 84,4%. Ou seja, o pagamento da dívida externa brasileira compromete, hoje, parcela menor dos dólares obtidos com as exportações.
Já as reservas em moeda estrangeira do governo são suficientes para pagar o equivalente a aproximadamente um ano e um mês de serviço da dívida externa. Entre 2001 e 2002, os recursos eram suficientes para cobrir as despesas de pouco mais de oito meses.
"Houve uma melhora, mas os números ainda são piores do que a média dos outros países", diz Lisa Schineller, diretora da agência de classificação de riscos Standard & Poor's. Segundo Schineller, uma das responsáveis pela análise dos países da América Latina, os indicadores brasileiros continuam abaixo dos observados em outros emergentes.

Nota "B+"
Hoje a dívida externa do Brasil recebe da agência a nota "B+", que indica investimento de caráter especulativo. Senegal e Turquia são outros países que recebem a mesma classificação da Standard & Poor's.
Levantamento feito pelo próprio BC mostra, por exemplo, que os juros da dívida externa pagos pelo Chile equivalem a apenas 5,8% das suas exportações país. No caso do Brasil, a proporção está em 21,8%.
Apesar disso, Schineller diz que as perspectivas são boas. "As exportações cresceram, o saldo da balança comercial está melhorando. Embora um dos motivos disso seja o desaquecimento da economia, há sinais de que há avanços estruturais na economia brasileira", afirma, referindo-se ao aumento nas exportações de manufaturados nos últimos anos.
A estagnação da economia foi um dos fatores que explicam os recentes saldos comerciais elevados alcançados pelo Brasil. Com a estagnação, a procura por bens importados se reduziu, o que ajudou no equilíbrio das contas externas. No ano passado, por exemplo, o crescimento ficou próximo de zero.
O economista-chefe do BNP Paribas no Brasil, Alexandre Lintz, cita a forte desvalorização do real desde 2001 como um dos fatores que mais influenciaram a evolução das contas externas. "O fator chave nesse processo foi a forte depreciação do câmbio", diz.
Com a alta do dólar, os produtos brasileiros ficam mais competitivos no exterior e os bens importados ficam mais caros em reais, o que desestimula a sua procura. Lintz diz ainda que vários fatores externos contribuíram para a melhora nos indicadores brasileiros: o crescimento da economia norte-americana, a gradual recuperação da Argentina e uma elevação no preço dos produtos agrícolas no mercado internacional, o que favorece as vendas brasileiras.
Mesmo que a economia retome o crescimento neste ano, afirma Lintz, as contas externas não devem apresentar problemas, desde que se mantenha uma taxa de câmbio próxima dos níveis atuais, o que garantiria o bom desempenho das exportações. Também para Schineller, as perspectivas são boas: "A vulnerabilidade externa deve continuar se reduzindo gradualmente", diz a diretora da Standard & Poor's.



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