São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2004

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Cresce a apreensão na fábrica da Nestlé em SP

MAURÍCIO EIRÓS
DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Os 950 funcionários da fábrica da Nestlé em Caçapava (a 112 km de São Paulo) vivem hoje um sentimento de insegurança parecido com o dos 3.000 empregados da sede da Garoto, em Vila Velha (Espírito Santo). A empresa é a maior empregadora da cidade.
Segundo o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação de Taubaté, Caçapava e Pindamonhangaba, Adílson Alvarenga, 48, a Nestlé vem cortando postos de trabalho na cidade desde 1996. Naquele ano, a unidade empregava cerca de 2.400 pessoas.
"No início deste ano, a Nestlé demitiu cerca de cem funcionários alegando corte de gastos. Isso trouxe apreensão aos empregados, agora agravada com a notícia de que a compra da Garoto deve ser desfeita", disse o sindicalista, lembrando que, em 2002, não ocorreram demissões.
No entanto nem sempre foi assim. Esse mesmo sentimento de medo e apreensão vivido atualmente, relacionado ao receio de demissões, já havia sido experimentado pelos funcionários da fábrica em Caçapava em fevereiro de 2002, quando foi anunciada a aquisição da Garoto.
De acordo com o sindicato, na época os funcionários se dividiram em relação ao futuro.
Uma parte apostava que a compra da Garoto era boa para a Nestlé e poderia incrementar a fábrica do Vale do Paraíba. Outros acreditavam que a redução da produção em Caçapava estava ligada à aquisição da fábrica no Espírito Santo, que atraiu as atenções da empresa. Por esse raciocínio, a decisão do Cade poderia ser benéfica à unidade paulista.
"Não queremos que a empresa perca o investimento [na Garoto], mas, depois da compra [em 2002], houve quebra na produção", afirmou o sindicalista.
Alvarenga disse que muitas linhas de produção estão paradas e que há 150 funcionários excedentes na unidade de Caçapava.
Procurada pela reportagem, a Nestlé não se pronunciou a respeito do assunto.

Origem
A Nestlé se instalou em 1971 em Caçapava, cidade de pouco mais de 76 mil habitantes, de acordo com o Censo de 2000, onde 11.874 pessoas ocupam postos de trabalho assalariados. Nessa unidade, a multinacional produz a caixa de bombons "Especialidades".
Segundo o prefeito de Caçapava, Francisco Adílson Natali (PMDB), 64, a empresa tem isenção parcial de impostos e, por essa razão, possui uma participação pouco significativa na arrecadação da cidade.
A contribuição, para o prefeito, é feita por meio da geração de empregos e de renda.

Famílias
Alguns funcionários da unidade de Caçapava têm suas histórias de vida diretamente ligadas à Nestlé, como é o caso da família Freitas.
A empresa foi o primeiro emprego de Cláudio Telles de Freitas, 53, hoje aposentado. Na Nestlé, conheceu a mulher, Cleide, 43, que trabalhava na mesma seção de mecânica que ele.
Hoje, o filho do casal, Anderson, 24, exerce na fábrica a mesma função que foi de seu pai.
"Trabalhei 28 anos, fiz grandes amigos, conheci minha mulher e deixei uma raiz lá dentro, que é o meu filho, apesar dos problemas que existem na empresa", diz Cláudio Freitas.
Para eles, o clima atual na fábrica é de pressão e há menos união do que no passado.



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