São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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Lula teme ação especulativa, mas BC vê dólar sob controle

Presidente cobra Meirelles por alta do real e governo nega rumor de mudança no BC

Lula diz que situação do câmbio só melhora com mais investimentos e pede que ministros estimulem empresários


VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preocupado com a desvalorização do dólar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de sua equipe econômica explicações sobre um eventual risco de o país sofrer um ataque especulativo que possa derrubar o preço da moeda americana para perto de R$ 1,90.
Alvo direto das cobranças, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, informou a Lula que sua equipe já havia detectado início de reversão na queda do dólar e que o cenário atual não aponta para uma desvalorização tão acentuada da moeda, para um patamar entre R$ 1,90 e R$ 2,00.
Após nova intervenção do BC comprando dólares no mercado, a moeda fechou ontem com alta de 0,34%, a R$ 2,093.
As explicações de Meirelles ocorreram em reunião anteontem à noite, da qual participaram ainda os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento).
O encontro acabou alimentando ontem uma onda de rumores de que Meirelles deixaria o posto por causa de desentendimentos sobre os rumos da política cambial. Mantega negou: "Esse boato não tem fundamento. Ele está sendo alvo de uma especulação em função dessa questão cambial".
O ministro afirmou ainda que, "se ele fica ou não fica, aí estamos falando da reforma ministerial e você tem que perguntar ao presidente". No Planalto, a informação oficial era que Meirelles segue no cargo.
Os rumores sobre a suposta saída do presidente do BC circularam no mercado financeiro e, principalmente, entre políticos petistas em Brasília, que pressionam Lula para tirar Meirelles do governo.
Nos últimos dias, o ministro Luiz Marinho (Trabalho) e Ricardo Berzoini (presidente do PT) culparam a decisão do BC de reduzir o ritmo de corte de juros pela queda do dólar.
Na reunião de anteontem, Meirelles procurou se defender das críticas e disse a Lula que a queda do dólar estava relacionada à melhora da economia brasileira e do cenário internacional, principalmente depois que o Fed (BC dos EUA) sinalizou que não haveria mais alta dos juros americanos.
Segundo a Folha apurou, ele citou que não foi só no Brasil que o dólar caiu, mas em outros países como México e Turquia.
Meirelles não concorda com as críticas de que a culpa pela queda do dólar está na redução do ritmo de queda dos juros. Conforme relatou, se esse fosse o motivo, o dólar estaria caindo com força há mais tempo. Além disso, os juros futuros, importante parâmetro do mercado, também estão em queda.
Lula concordou com as explicações de Meirelles, mas sinalizou esperar do BC ações para evitar uma queda acentuada do dólar no curto prazo que possa prejudicar as exportações e a indústria.
Lula disse que uma solução definitiva para o câmbio virá com investimentos pesados das empresas brasileiras para competir com os importados. Isso abriria espaço para corte de alíquotas de importação, o que elevaria a compra de produtos no exterior e a procura de dólares para comprá-los, elevando sua cotação.
Para isso, Lula convocou seus ministros a conversar com empresários para estimular investimentos. "Se o empresário que quer investir no Brasil ficar só lendo os jornais, ninguém investe, eu também não investiria", disse Lula a sua equipe.
Afirmou ainda que o governo não pode ter medo do crescimento da demanda. Lula aposta exatamente no crescimento da demanda para estimular as empresas a investir. Até lá, para atender a alta no consumo, a saída é compensar com as importações.


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