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Lula teme ação especulativa, mas BC vê dólar sob controle
Presidente cobra Meirelles por alta do real e governo nega rumor de mudança no BC
Lula diz que situação do câmbio só melhora com mais investimentos e
pede que ministros estimulem empresários
VALDO CRUZ
LEANDRA PERES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Preocupado com a desvalorização do dólar, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva cobrou de sua equipe econômica
explicações sobre um eventual
risco de o país sofrer um ataque
especulativo que possa derrubar o preço da moeda americana para perto de R$ 1,90.
Alvo direto das cobranças, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, informou
a Lula que sua equipe já havia
detectado início de reversão na
queda do dólar e que o cenário
atual não aponta para uma desvalorização tão acentuada da
moeda, para um patamar entre
R$ 1,90 e R$ 2,00.
Após nova intervenção do BC
comprando dólares no mercado, a moeda fechou ontem com
alta de 0,34%, a R$ 2,093.
As explicações de Meirelles
ocorreram em reunião anteontem à noite, da qual participaram ainda os ministros Guido
Mantega (Fazenda) e Paulo
Bernardo (Planejamento).
O encontro acabou alimentando ontem uma onda de rumores de que Meirelles deixaria o posto por causa de desentendimentos sobre os rumos da
política cambial. Mantega negou: "Esse boato não tem fundamento. Ele está sendo alvo
de uma especulação em função
dessa questão cambial".
O ministro afirmou ainda
que, "se ele fica ou não fica, aí
estamos falando da reforma
ministerial e você tem que perguntar ao presidente". No Planalto, a informação oficial era
que Meirelles segue no cargo.
Os rumores sobre a suposta
saída do presidente do BC circularam no mercado financeiro
e, principalmente, entre políticos petistas em Brasília, que
pressionam Lula para tirar
Meirelles do governo.
Nos últimos dias, o ministro
Luiz Marinho (Trabalho) e Ricardo Berzoini (presidente do
PT) culparam a decisão do BC
de reduzir o ritmo de corte de
juros pela queda do dólar.
Na reunião de anteontem,
Meirelles procurou se defender
das críticas e disse a Lula que a
queda do dólar estava relacionada à melhora da economia
brasileira e do cenário internacional, principalmente depois
que o Fed (BC dos EUA) sinalizou que não haveria mais alta
dos juros americanos.
Segundo a Folha apurou, ele
citou que não foi só no Brasil
que o dólar caiu, mas em outros
países como México e Turquia.
Meirelles não concorda com
as críticas de que a culpa pela
queda do dólar está na redução
do ritmo de queda dos juros.
Conforme relatou, se esse fosse
o motivo, o dólar estaria caindo
com força há mais tempo. Além
disso, os juros futuros, importante parâmetro do mercado,
também estão em queda.
Lula concordou com as explicações de Meirelles, mas sinalizou esperar do BC ações
para evitar uma queda acentuada do dólar no curto prazo
que possa prejudicar as exportações e a indústria.
Lula disse que uma solução
definitiva para o câmbio virá
com investimentos pesados
das empresas brasileiras para
competir com os importados.
Isso abriria espaço para corte
de alíquotas de importação, o
que elevaria a compra de produtos no exterior e a procura
de dólares para comprá-los,
elevando sua cotação.
Para isso, Lula convocou
seus ministros a conversar com
empresários para estimular investimentos. "Se o empresário
que quer investir no Brasil ficar
só lendo os jornais, ninguém
investe, eu também não investiria", disse Lula a sua equipe.
Afirmou ainda que o governo
não pode ter medo do crescimento da demanda. Lula aposta exatamente no crescimento
da demanda para estimular as
empresas a investir. Até lá, para atender a alta no consumo, a
saída é compensar com as importações.
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