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VINICIUS TORRES FREIRE
O alvo é Meirelles, não o dólar
Câmbio é assunto sério, mas tamanho tumulto significa
que o PT voltou à carga contra
o BC; até quando dura a cena?
O CÂMBIO VIROU pretexto. Está
certo que a tropeçada do dólar foi de chamar a atenção.
Reavivou a discussão acerca de métodos e atitudes do Banco Central,
além das acusações de sempre entre
economistas padrão, os de banco e
aqueles ligados à indústria e os "desenvolvimentistas" etc., aspecto esse do debate que se tornou uma farofada econômica, aliás.
Mas o que era debate econômico
logo virou vozerio de lobbies e agora
é balbúrdia política. Decerto discussão econômica, lobbies e política são
em certa medida inextricáveis. Mas
os tropicões do dólar apenas não
renderiam tal tumulto. A discussão
transbordou para a disputa política
interna do governo, contagiada pela
rixa no PT e adubada pela decisão
sobre juros da semana retrasada.
Para dar mais combustível ao rumorejo, há o fato de que Lula deixou
seu ministério de "recuperação".
Ninguém ainda foi aprovado para a
segunda série do governo Lula, o segundo mandato. Em ambientes jecas, janelas abertas dão vazão a fofocas na vizinhança.
Ontem, a intriga transbordou de
vez para o corredor de fofocas do
mercado. O presidente do PT batera
no BC. O ministro do Trabalho batera e voltou a bater no BC. No Planalto, Lula fez uma reunião noturna
mal explicada em que se discutiram
o dólar e BC, na terça. Meirelles disse o habitual e esperado: os tropicões do dólar seriam transitórios, o
risco está caindo por todo o mundo
emergente, o apetite por mundial
por rentabilidade está forte etc.
Ontem, o ministro da Fazenda repassou o "script" habitual dessas minicrises. Cena um, Lula fica "magoado" com os juros e o câmbio do BC.
Cena dois, o petismo duro e puro atira tomates em Meirelles. Cena três,
Lula "ouve compenetrado e responsável" as explicações de Meirelles.
Cena quatro, o ministro da Fazenda
tira fotos com Meirelles, discursa
sobre a tranqüilidade e a continuidade dos pilares da política econômica, além de passar pitos discretos
na banda petista do ministério mantida ao largo das decisões econômicas, basicamente todo mundo.
E cai o pano. Cai?
Enquanto o PT não arreglar suas
contas, nesse período de dança das
cadeiras do ministério, pode parecer
útil dar rasteiras e empurrões a fim
de obter mais espaço político no futuro governo (pois o governo atual
morreu e o presente ministério está
no limbo). Isto é, ainda haverá mais
tiros no concerto.
Mas é difícil imaginar que Lula
abriria duas frentes de problemas na
área econômica por agora, mexendo
no Banco Central, quando ainda
tem longo caminho para ao menos
colocar o PAC de pé (para não falar
que, de pé, não se saberá o tamanho
real do pacote e seus efeitos).
Qualquer Banco Central teria dificuldade de lidar com a presente trajetória do câmbio, e a presente equipe do BC não está interessada em fazê-lo -nem poderia sem que declarasse suicídio técnico-econômico-político, dadas as expectativas que
criou a respeito de sua atuação.
Numa perspectiva politicamente
racional, seria preciso o PAC desandar (leva mais de ano para avaliar)
ou uma chacoalhada externa séria
para que a atual política do BC, com
esses ou outros quadros, fosse seriamente ameaçada pelo petismo duro.
vinit@uol.com.br
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