São Paulo, quinta-feira, 08 de fevereiro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

O alvo é Meirelles, não o dólar

Câmbio é assunto sério, mas tamanho tumulto significa que o PT voltou à carga contra o BC; até quando dura a cena?

O CÂMBIO VIROU pretexto. Está certo que a tropeçada do dólar foi de chamar a atenção. Reavivou a discussão acerca de métodos e atitudes do Banco Central, além das acusações de sempre entre economistas padrão, os de banco e aqueles ligados à indústria e os "desenvolvimentistas" etc., aspecto esse do debate que se tornou uma farofada econômica, aliás.
Mas o que era debate econômico logo virou vozerio de lobbies e agora é balbúrdia política. Decerto discussão econômica, lobbies e política são em certa medida inextricáveis. Mas os tropicões do dólar apenas não renderiam tal tumulto. A discussão transbordou para a disputa política interna do governo, contagiada pela rixa no PT e adubada pela decisão sobre juros da semana retrasada.
Para dar mais combustível ao rumorejo, há o fato de que Lula deixou seu ministério de "recuperação".
Ninguém ainda foi aprovado para a segunda série do governo Lula, o segundo mandato. Em ambientes jecas, janelas abertas dão vazão a fofocas na vizinhança.
Ontem, a intriga transbordou de vez para o corredor de fofocas do mercado. O presidente do PT batera no BC. O ministro do Trabalho batera e voltou a bater no BC. No Planalto, Lula fez uma reunião noturna mal explicada em que se discutiram o dólar e BC, na terça. Meirelles disse o habitual e esperado: os tropicões do dólar seriam transitórios, o risco está caindo por todo o mundo emergente, o apetite por mundial por rentabilidade está forte etc.
Ontem, o ministro da Fazenda repassou o "script" habitual dessas minicrises. Cena um, Lula fica "magoado" com os juros e o câmbio do BC. Cena dois, o petismo duro e puro atira tomates em Meirelles. Cena três, Lula "ouve compenetrado e responsável" as explicações de Meirelles.
Cena quatro, o ministro da Fazenda tira fotos com Meirelles, discursa sobre a tranqüilidade e a continuidade dos pilares da política econômica, além de passar pitos discretos na banda petista do ministério mantida ao largo das decisões econômicas, basicamente todo mundo. E cai o pano. Cai?
Enquanto o PT não arreglar suas contas, nesse período de dança das cadeiras do ministério, pode parecer útil dar rasteiras e empurrões a fim de obter mais espaço político no futuro governo (pois o governo atual morreu e o presente ministério está no limbo). Isto é, ainda haverá mais tiros no concerto.
Mas é difícil imaginar que Lula abriria duas frentes de problemas na área econômica por agora, mexendo no Banco Central, quando ainda tem longo caminho para ao menos colocar o PAC de pé (para não falar que, de pé, não se saberá o tamanho real do pacote e seus efeitos).
Qualquer Banco Central teria dificuldade de lidar com a presente trajetória do câmbio, e a presente equipe do BC não está interessada em fazê-lo -nem poderia sem que declarasse suicídio técnico-econômico-político, dadas as expectativas que criou a respeito de sua atuação. Numa perspectiva politicamente racional, seria preciso o PAC desandar (leva mais de ano para avaliar) ou uma chacoalhada externa séria para que a atual política do BC, com esses ou outros quadros, fosse seriamente ameaçada pelo petismo duro.


vinit@uol.com.br

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