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Crise avança com desemprego e já custa US$ 1,9 tri
Valor equivale ao que 21 países devem gastar a fundo perdido, gerando déficits recordes no pós-Segunda Guerra; EUA devem colocar mais US$ 1 trilhão em bancos e empresas
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Agravada por novos recordes
no desemprego, por intensa
onda protecionista e com gigantes financeiros ainda à beira
da falência, a maior crise mundial em 80 anos já tem um preço mínimo: US$ 1,9 trilhão.
Esse é o valor que os 21 maiores países do mundo vão despejar a fundo perdido em investimentos públicos para estimular suas economias. A cifra é um
recorde absoluto em termos de
incitamento fiscal conjunto e
equivale à totalidade do que o
Brasil produz em riquezas durante um ano e meio.
Os gastos públicos em infraestrutura, seguro-desemprego e subsídios, entre outros,
elevarão os déficits das principais economias aos níveis da
Segunda Guerra (1939-1945).
Eles não contabilizam outros
aportes nos bancos e empresas
-que também não entram na
conta do déficit, pois são feitos
mediante garantias "reais" em
ações ou títulos.
Mas, se a empresa socorrida
pelo Estado vier a quebrar definitivamente, a perda eventualmente será contabilizada.
Só nos Estados Unidos, a estimativa é que essas injeções
adicionais alcancem mais de
US$ 1 trilhão. Desse total, US$
335 bilhões já foram direcionados a quase 300 bancos e empresas, sem que o sistema tenha se estabilizado definitivamente. Nesta semana, o Departamento do Tesouro norte-americano anunciará como novas ajudas bilionárias serão
empregadas. A hipótese radical
da nacionalização de bancos
não está descartada.
Nos últimos dias, a crise ganhou nova dinâmica, com pesadas nuvens de más notícias encobrindo poucas réstias de desdobramentos positivos.
Agora, a crise se autoalimenta de mais desemprego e de
uma onda "neoprotecionista".
Ela se espalha rapidamente e
ensaia virar política oficial de
governos, dos EUA à Rússia, do
Brasil à China e à Índia.
Seu efeito será deprimir ainda mais o comércio global. Por
trás do protecionismo há uma
imensa preocupação com o desemprego e com insatisfações
políticas e sociais. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) prevê 51 milhões de novos desempregados neste ano
se o quadro se deteriorar.
Em meio às más notícias, o
desdobramento positivo mais
significativo até aqui foi a recuperação do chamado mercado
de "bonds" das empresas norte-americanas. São títulos vendidos pelas companhias em
troca de remuneração para que
elas possam financiar suas atividades no dia-a-dia.
No final de 2008, essas operações travaram, e o Fed (o
banco central dos EUA) teve
que assumir o papel de comprador de "bonds". Em janeiro,
os investidores finalmente voltaram a esse mercado nos EUA,
ao adquirir um total de US$ 373
bilhões.
Mas investidores privados e
bancos só se arriscam a comprar papéis de empresas de primeira linha. Nos países emergentes, milhares de companhias continuarão encontrando dificuldades crescentes para
se financiar em 2009.
EUA
Origem e epicentro da
crise, os EUA têm pela
frente problemas que
ainda devem piorar antes
de melhorar. Os principais são a queda nos preços dos imóveis, que lastreiam ativos "tóxicos", e
a fragilidade do sistema
financeiro. Além do novo
pacote fiscal, previsto em
US$ 780 bilhões, os EUA
darão uma cartada fundamental quando anunciarem outro plano de socorro bancário. Cerca de
US$ 335 bilhões já foram
transferidos, mas o sistema segue frágil.
Am. Latina
A queda do crescimento global e nos preços das
commodities e o desaquecimento interno contiveram a inflação na
América Latina e abriram
espaço para que os BCs
sejam mais agressivos no
corte de juros. México,
Colômbia e Brasil agiram
nesse sentido, e há expectativa de que acelerem as
reduções. A aposta é que
o mercado interno compense parte da queda na
demanda global. Mas a
expansão prevista para
este ano na região é de
apenas 1,1%.
Brasil
Além de ter iniciado
um processo mais agressivo de corte no juro básico (a última redução foi
de um ponto percentual,
para 12,75% ao ano), o
Brasil reforçou o caixa do
BNDES para contornar a
diminuição do financiamento externo e interno.
Do pacote estatal de
R$ 189,1 bilhões anunciado até agora, o banco levou R$ 119 bilhões. A avaliação é que a maior dificuldade das empresas
não diz respeito à demanda, mas a condições de financiamento.
Europa
Oito países já anunciaram pacotes fiscais, totalizando US$ 254 bilhões.
A crise afeta de modo desigual a região. Os mais
atingidos são os países
que não tinham padrões
econômicos como o alemão ou o francês até a introdução do euro, em
1999. Com a moeda, Espanha, Portugal, Irlanda
e Grécia, entre outros,
endividaram-se para
crescer. Agora, seus Estados e empresas pagam altas taxas na captação de
recursos em comparação
à França e à Alemanha.
Ásia
A China lançou um pacote fiscal de US$ 586 bilhões, ou 7% de seu PIB.
Mais de 20 milhões de ex-operários estão retornando ao campo após a queda
da demanda por produtos
chineses no mundo. O
crescimento chinês neste
ano deve cair à metade do
de 2007. A Índia também
já sofre forte contração. A
indústria cresce hoje ao
ritmo anual de 2,4%, ante
8,5% há um ano. O país
sofre com a diminuição
tanto das exportações
quanto do fluxo de capital
estrangeiro.
Japão
Entre os países avançados, o sistema financeiro
do Japão foi o menos afetado pela crise, e os bancos foram contidos no
aperto do crédito a empresas e consumidores.
Mas a segunda maior economia do mundo sofre os
efeitos da queda da demanda global. Milhares
de fornecedores de componentes a grandes exportadoras são afetados.
O mercado interno também não mostra força para crescer o suficiente a
fim de compensar a queda nas vendas externas.
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