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Estabilizar bancos é maior prioridade de Obama para evitar a rota da depressão
DE NOVA YORK
Os contribuintes norte-americanos já correm o risco de
perder cerca de US$ 80 bilhões
como resultado da primeira fase da ajuda estatal aos bancos.
O valor, equivalente a 10% do
pacote de estímulo fiscal do
país, é a diferença entre o que o
Tesouro norte-americano já injetou nos bancos e quanto valem hoje as ações e títulos que
recebeu em garantia, segundo
dados do Comitê de Finanças
do Congresso dos EUA.
Nesta semana, o Tesouro deve anunciar as regras do novo
pacote de ajuda ao sistema financeiro norte-americano. A
grande dúvida é como proteger
o dinheiro público, daí a hipótese radical da nacionalização
de algumas instituições.
Para o governo do presidente
Barack Obama, assim como o
de seu antecessor, George W.
Bush, a prioridade nesta crise é
estabilizar o sistema financeiro. Ele é a fonte de todo o financiamento que faz da economia
norte-americana a mais dinâmica do mundo.
A crise começou com a explosão da "bolha" de preços no
mercado imobiliário, inflada
exatamente pelo excesso de
crédito. Quando os preços das
casas despencaram (e continuam caindo), os bancos viram
o valor de suas garantias reais
(as residências) se contrair.
Hoje, há um recorde de 19
milhões de casas vazias nos
EUA, tomadas pelos bancos,
para alugar ou recém-construídas e não vendidas.
Os bancos também haviam
"empacotado" essas dívidas
(garantidas pelos pagamentos
mensais dos mutuários) em títulos, revendidos ao redor do
mundo. Quando os preços das
casas caíram e a crise se agravou, mutuários deixaram de
pagar os débitos ou perderam
seus empregos, fazendo desmoronar toda a cadeia.
O "efeito dominó" no rompimento do ciclo de financiamento atingiu outros países e o
mercado acionário, em que
muitas famílias guardam seu
dinheiro. Com os bancos em
crise, os consumidores e as empresas têm agora menos crédito para comprar e investir.
É isso que já provoca a primeira recessão em escala global
em quase um século. Nos EUA,
cerca de 80% dos bancos já
apertaram critérios para conceder financiamentos. Na zona
do euro, 62%.
A diminuição do crédito levou famílias e empresas a gastar menos e fará com que o conjunto das economias avançadas
se retraia em 2% neste ano, segundo projeção do FMI (Fundo
Monetário Internacional).
"Os números são extremamente fracos. A produção industrial se contrai rapidamente, e dificilmente os consumidores sairão às compras tão cedo", afirma James O'Sullivan,
economista do banco UBS.
Os pedidos às fábricas norte-americanas caíram pelo quinto
mês seguido em dezembro. Em
apenas um mês, o comércio
deixou de comprar US$ 21,7 bilhões das indústrias (os pedidos totais em dezembro foram
de US$ 362 bilhões).
Do lado dos consumidores,
só em janeiro houve um aumento de 34% nas chamadas
"concordatas pessoais" nos
EUA, quando 88,7 mil pessoas
pediram proteção judicial para
seus bens depois de "quebrar".
A queda persistente do consumo mês a mês também é a
maior desde a década de 1940.
"A atividade industrial está
entrando em níveis de depressão. Medidas extraordinárias
serão necessárias para que a
economia gire novamente", diz
Michael Jackson, executivo da
AutoNation, rede gigante de revendedores de veículos, uma
das áreas mais afetadas.
Em termos ortodoxos, EUA,
zona do euro, Reino Unido e Japão já dispararam quase todo o
arsenal disponível. O principal
deles foi uma ação coordenada,
a partir de outubro passado,
quando os bancos centrais começaram a cortar rapidamente
os juros básicos.
Isso equivale a deixar o dinheiro mais "barato" para consumidores e empresas. Mas o
estímulo ao gasto não ocorreu.
Ao contrário: a taxa de poupança dos altamente endividados
norte-americanos disparou ante o temor do desemprego (subiu de 2,8% para 3,6%).
O novo pacote de US$ 780 bilhões acordado na sexta nos
EUA e os demais já anunciados
pelo mundo são mais uma tentativa "extraordinária", e desta
vez heterodoxa, contra a crise.
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