São Paulo, domingo, 08 de fevereiro de 2009

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Estabilizar bancos é maior prioridade de Obama para evitar a rota da depressão

DE NOVA YORK

Os contribuintes norte-americanos já correm o risco de perder cerca de US$ 80 bilhões como resultado da primeira fase da ajuda estatal aos bancos.
O valor, equivalente a 10% do pacote de estímulo fiscal do país, é a diferença entre o que o Tesouro norte-americano já injetou nos bancos e quanto valem hoje as ações e títulos que recebeu em garantia, segundo dados do Comitê de Finanças do Congresso dos EUA.
Nesta semana, o Tesouro deve anunciar as regras do novo pacote de ajuda ao sistema financeiro norte-americano. A grande dúvida é como proteger o dinheiro público, daí a hipótese radical da nacionalização de algumas instituições.
Para o governo do presidente Barack Obama, assim como o de seu antecessor, George W. Bush, a prioridade nesta crise é estabilizar o sistema financeiro. Ele é a fonte de todo o financiamento que faz da economia norte-americana a mais dinâmica do mundo.
A crise começou com a explosão da "bolha" de preços no mercado imobiliário, inflada exatamente pelo excesso de crédito. Quando os preços das casas despencaram (e continuam caindo), os bancos viram o valor de suas garantias reais (as residências) se contrair.
Hoje, há um recorde de 19 milhões de casas vazias nos EUA, tomadas pelos bancos, para alugar ou recém-construídas e não vendidas.
Os bancos também haviam "empacotado" essas dívidas (garantidas pelos pagamentos mensais dos mutuários) em títulos, revendidos ao redor do mundo. Quando os preços das casas caíram e a crise se agravou, mutuários deixaram de pagar os débitos ou perderam seus empregos, fazendo desmoronar toda a cadeia.
O "efeito dominó" no rompimento do ciclo de financiamento atingiu outros países e o mercado acionário, em que muitas famílias guardam seu dinheiro. Com os bancos em crise, os consumidores e as empresas têm agora menos crédito para comprar e investir.
É isso que já provoca a primeira recessão em escala global em quase um século. Nos EUA, cerca de 80% dos bancos já apertaram critérios para conceder financiamentos. Na zona do euro, 62%.
A diminuição do crédito levou famílias e empresas a gastar menos e fará com que o conjunto das economias avançadas se retraia em 2% neste ano, segundo projeção do FMI (Fundo Monetário Internacional).
"Os números são extremamente fracos. A produção industrial se contrai rapidamente, e dificilmente os consumidores sairão às compras tão cedo", afirma James O'Sullivan, economista do banco UBS.
Os pedidos às fábricas norte-americanas caíram pelo quinto mês seguido em dezembro. Em apenas um mês, o comércio deixou de comprar US$ 21,7 bilhões das indústrias (os pedidos totais em dezembro foram de US$ 362 bilhões).
Do lado dos consumidores, só em janeiro houve um aumento de 34% nas chamadas "concordatas pessoais" nos EUA, quando 88,7 mil pessoas pediram proteção judicial para seus bens depois de "quebrar". A queda persistente do consumo mês a mês também é a maior desde a década de 1940.
"A atividade industrial está entrando em níveis de depressão. Medidas extraordinárias serão necessárias para que a economia gire novamente", diz Michael Jackson, executivo da AutoNation, rede gigante de revendedores de veículos, uma das áreas mais afetadas.
Em termos ortodoxos, EUA, zona do euro, Reino Unido e Japão já dispararam quase todo o arsenal disponível. O principal deles foi uma ação coordenada, a partir de outubro passado, quando os bancos centrais começaram a cortar rapidamente os juros básicos.
Isso equivale a deixar o dinheiro mais "barato" para consumidores e empresas. Mas o estímulo ao gasto não ocorreu. Ao contrário: a taxa de poupança dos altamente endividados norte-americanos disparou ante o temor do desemprego (subiu de 2,8% para 3,6%).
O novo pacote de US$ 780 bilhões acordado na sexta nos EUA e os demais já anunciados pelo mundo são mais uma tentativa "extraordinária", e desta vez heterodoxa, contra a crise.


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