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ARTIGO
Novos bancos precisam surgir
NIALL FERGUSON
DO "FINANCIAL TIMES"
GRANDE REPRESSÃO
seria um bom nome. A
realidade que está sendo reprimida é a de que o mundo ocidental está em crise devido ao endividamento excessivo. Muitos governos têm dívidas altas demais, e o mesmo se
aplica a muitas empresas e, o
mais importante, aos domicílios. A melhor prova de que vivemos em negação quanto a isso é a crença de que a crise pode
ser encerrada por meio da criação de ainda mais crédito.
Os EUA podem terminar
com déficit público superior a
10% do PIB neste ano. Os keynesianos renascidos parecem
ter se esquecido de que a receita de um estímulo fiscal financiado por meio de déficit público tinha mais chance de funcionar em uma economia fechada.
Mas estamos falando de um outro mundo, onde a falta de
coordenação e as práticas perdulárias dos governos têm mais
chances de gerar instabilidade
a promover crescimento.
Existe um caminho melhor a
seguir, mas ele implica avançar
na direção oposta. O objetivo
não deveria ser elevar as dívidas, mas reduzi-las. Duas coisas
precisam acontecer. Primeiro,
os bancos efetivamente insolventes precisam ser reestruturados -um termo preferível ao
antiquado "estatização".
Os acionistas existentes terão de aceitar o fato de que perderam dinheiro. Lamentável.
O governo assumirá o controle em troca de recapitalização, depois que o montante de
dívidas for bastante abatido. Os
detentores de bônus podem se
ver forçados a aceitar conversão de dívida em capital ou redução de 20% nos papéis.
O apoio estatal à sobrevivência de dinossauros bancários
moribundos é concebido para
evitar o desastre de uma extinção bancária generalizada e não
representa uma vitória tardia
para o socialismo.
As medidas não podem impedir a formação de novos bancos pelo setor privado. Portanto, a recapitalização precisa ser
um evento extraordinário, sem
garantias ou subsídios governamentais duradouros. É preciso
que exista um cronograma claro para uma "reprivatização",
talvez em dez anos.
O segundo passo de que precisamos é uma conversão generalizada dos títulos hipotecários norte-americanos em contratos de prazo mais longo e taxas de juros mais baixas.
A ideia de modificar os termos das hipotecas choca os
mais puristas por violar a santidade dos contratos. Mas há
ocasiões em que o interesse público exige que respeitemos o
espírito da lei mesmo que o violemos na prática.
Outra objeção é que a medida
recompensaria os imprudentes. Mas o risco moral só importa caso o mau comportamento apresente risco de repetição. Não prevejo que qualquer um de nós venha a solicitar, ou receber, uma hipoteca
com taxa de juros ajustável, pelo menos não por muitos anos.
A questão, portanto, é de
simples justiça. Uma solução
seria que as instituições de crédito hipotecário controladas e
garantidas pelo governo dos
EUA oferecessem a todos os
devedores o mesmo acordo.
Uma redução permanente
nos pagamentos mensais de hipotecas para a maioria dos domicílios americanos certamente faria mais para estimular a
confiança dos consumidores do
que todas as propostas do pacote de estímulo econômico, incluindo cortes de impostos.
Sem dúvida, os que sairão
perdendo com essas medidas
não o farão em silêncio. Mas os
benefícios da estabilização macroeconômica terão peso
maior que seus custos para os
acionistas e detentores de títulos de bancos e para os detentores de títulos lastreados por hipotecas.
Só uma Grande Reestruturação poderá pôr fim à Grande
Repressão. E ela precisa acontecer logo.
NIALL FERGUSON escreveu "The Ascent of Money: A Financial History of the World" [a ascensão do dinheiro: uma história financeira do mundo].
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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