São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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Investimento direto será menor em 99

da Reportagem Local

A crise de confiança na política econômica brasileira deflagrada pelo colapso da âncora cambial levou especialistas a reduzir suas estimativas para a entrada de investimento direto estrangeiro no país em 1999.
A Sobeet (Sociedade Brasileira para o Estudo das Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica) e o Cofecon (Conselho Federal de Economia) projetam agora um investimento direto (capital que segue para o setor produtivo e não para aplicações financeiras de curto prazo) entre US$ 10 bilhões e US$ 12 bilhões neste ano.
As projeções anteriores à crise cambial eram de US$ 15 bilhões, da Sobeet e do Cofecon, e de US$ 20 bilhões, do Banco Central.
Em 1998, o país recebeu um valor recorde de US$ 26,1 bilhões.
Além de construir e ampliar fábricas, desenvolver tecnologia, criar empregos e comprar empresas, o investimento direto estrangeiro reforça o caixa em moeda forte do Tesouro, ajudando o país a financiar o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos.
Na semana passada, duas empresas estrangeiras anunciaram o adiamento de projetos no Brasil: a coreana LG Electronics (fábrica de telefones celulares no valor de cerca de US$ 200 milhões, em São Paulo) e a mexicana Imsa (fábrica de produtos siderúrgicos, em parceria com a CSN, no valor de US$ 270 milhões, no Paraná).
Pedro da Motta Veiga, presidente da Sobeet, diz que esses adiamentos indicam uma tendência.
"Acredito que o investimento direto em 1999 será de US$ 10 bilhões a US$ 12 bilhões, mas, se chegar a US$ 13 bilhões, será muito bom."
Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Cofecon, diz que o investimento direto, na melhor das hipóteses, vai cair pela metade neste ano, para um valor ainda "considerável", entre US$ 12 bilhões e US$ 13 bilhões.
"Numa situação normal, o Brasil receberia entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões. O ano passado foi atípico devido às privatizações, principalmente da Telebrás. O investimento direto estrangeiro nas privatizações alcançou US$ 6,1 bilhões em 98."
James Wygrand, diretor da Control Risks, empresa de avaliação de riscos de investimento, diz que a crise cambial afeta o ritmo do investimento direto, mas não a decisão de investir.
Os setores de bens duráveis e de produtos de consumo vão adiar investimentos, mas haverá um "bolsão" de investimentos na área de infra-estrutura, principalmente nos setores de telecomunicações e de energia elétrica.
Wygrand diz que os investidores estão preocupados com a volta de modelos econômicos heterodoxos, tais como a indexação.
Porta-vozes das empresas transnacionais dos EUA, França e Alemanha acreditam que a redução da entrada de investimentos diretos no país em 99 é um fenômeno passageiro. O fluxo retomará o ímpeto dos últimos quatro anos quando o governo recolocar a política econômica nos trilhos, com a conclusão do ajuste fiscal e das reformas.
John Mein, presidente da Câmara Americana de Comércio, de São Paulo, diz que a incerteza econômica vai mudar a estratégia dos investimentos norte-americanos.
As empresas com capacidade de produção de excedentes para exportação devem aproveitar a desvalorização cambial.
Mas as empresas voltadas para o mercado interno vão adiar investimentos por causa da retração da demanda e da recessão.
José Carlos Grubisich, presidente da Rhodia, grupo químico e farmacêutico francês, no Brasil, diz que o impacto da crise cambial não afetará os investimentos das multinacionais que têm uma "visão estratégica" do Brasil.
A Rhodia anunciou que vai investir US$ 300 milhões no Brasil nos próximos três anos.
Grubisich diz que a Rhodia acredita nas perspectivas econômicas do Brasil, mas espera que, a curto prazo, o governo conclua o ajuste fiscal e tome medidas para manter o dólar entre R$ 1,50 e R$ 1,60.
Ingo Ploger, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha, de São Paulo, disse que os investidores alemães estão "perplexos" com a súbita mudança da política cambial e do comendo do Banco Central.
Segundo pesquisa da entidade, os empresários alemães acreditam que o ponto de equilíbrio da taxa de câmbio é de R$ 1,45 por dólar.
"A incerteza econômica adia a decisão de novos investimentos, mas a perspectiva da queda dos juros a médio prazo e a desvalorização dos ativos brasileiros em dólar podem reativar o interesse no país no segundo semestre deste ano." (ACS)



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