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CENÁRIOS
Perspectiva de inflação leva indústria e comércio a reavaliar previsão sobre faturamento real, aponta Bic Banco
Desvalorização cambial desanima empresas
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
As perspectivas de vários setores da indústria e do comércio ficaram piores depois que o
governo desvalorizou o real,
segundo levantamento do Bic Banco feito com 191 empresas de sete
setores.
Antes de o governo liberar o
câmbio, as empresas previam para
99 um faturamento real 0,5%
maior, em média, do que o de 98.
Para a projeção, elas consideraram
uma inflação anual de 2%.
Assim que o governo liberou o
câmbio, elas refizeram as previsões. Agora, as empresas dos setores agropecuário, bens de capital,
bens intermediários, bens de consumo duráveis e não-duráveis, atacadistas e varejistas acham que o
faturamento real não cresce.
Deve cair entre 3% e 4%, em média, e isso considerando uma inflação anual entre 6% e 7%. Na época
da pesquisa, a desvalorização do
real estava em torno de 25%.
Luiz Rabi, chefe do departamento econômico do Bic Banco, diz
que é bem provável que as empresas estejam até mais pessimistas do
que há dez dias, quando começaram a responder aos questionários, pois a desvalorização do real
já superou 50%.
Na sua análise, as empresas prevêem queda de faturamento real,
especialmente em razão da perda
do poder de compra do consumidor com a volta da inflação, do
ajuste fiscal, que resulta na diminuição de renda na economia, e da
retração dos investimentos.
Pela pesquisa do Bic Banco, o faturamento nominal das empresas
já cresce com a desvalorização.
Antes da mexida no câmbio, 76,8%
das empresas previam aumento do
faturamento nominal. Depois do
câmbio flutuante, 81% delas já
projetam o aumento do faturamento nominal.
Paulo Mallmann, diretor financeiro do Bic Banco, diz que o faturamento nominal deve crescer sobretudo em razão da alta dos preços e da expectativa do aumento
das exportações.
Pela pesquisa do Bic Banco, a
desvalorização do real não terá
grande impacto sobre o nível de
emprego. Antes da mudança no
câmbio, as empresas consultadas
previam, na média, uma redução
de 1,2% no quadro de funcionários. Depois, esse percentual caiu
para 0,9%.
Segundo o levantamento do banco, antes da mudança na política
cambial, 39,1% das empresas previam redução no nível de emprego.
Depois, 32,1%.
"O fato é que as empresas já previam demissões antes da mudança
e continuam prevendo. Esses números não mostram grandes alterações", afirma Rabi.
Exportação
Na pesquisa do Bic Banco, as
perspectivas de exportações é que
melhoraram. Antes da desvalorização do real, 84,5% das empresas
projetavam aumento das vendas
no mercado externo. Agora, 91,8%
prevêem que vão exportar mais.
Nos cálculos do banco, na média,
as empresas consultadas vão vender no mercado internacional
6,8% mais em 99. Antes da mexida
no câmbio, esse percentual era
5,1%.
"A desvalorização vai dar impulso ao setor exportador, mas isso
não será suficiente para compensar a queda da atividade de setores
que atendem ao mercado interno",
afirma Rabi. Mallmann acredita
que as empresas exportadoras podem até empregar mais.
O setor agropecuário, na análise
do banco, se demitir, vai ser menos
do que outros setores, pois é exportador e foi favorecido com a
desvalorização do real.
A indústria de bens duráveis
(eletroeletrônicos) já deve dispensar mais porque é muito dependente de insumos importados, que
encareceram. As fábricas de alimentos, pelas considerações do
banco, já sentirão menos os efeitos
da desvalorização.
Déficit
Para Fábio Pina, economista da
Federação do Comércio do Estado
de São Paulo (FCESP), recessão e
desemprego vão marcar o ano de
99, com ou sem o aumento das exportações.
"Com a inflação, diminui o poder de compra. "Mas, se o governo
acertar o déficit público, a balança
comercial e as contas correntes,
não será o pior dos mundos."
Para ele, o pior dos mundos é o
país ter de conviver com recessão,
inflação e câmbio descontrolados e
continuar a ver o gasto do governo
ser maior do que a receita. "Aí estaríamos voltando à década de 80",
afirmou.
Antes mesmo da desvalorização
do real, segundo o levantamento
do Bic Banco, as empresas já estavam cautelosas com os investimentos. Numa pesquisa feita no
início de janeiro com 234 empresas, 44% delas informaram que os
investimentos para 99 estavam
adiados ou cancelados.
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