São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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CENÁRIOS
Perspectiva de inflação leva indústria e comércio a reavaliar previsão sobre faturamento real, aponta Bic Banco
Desvalorização cambial desanima empresas

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

As perspectivas de vários setores da indústria e do comércio ficaram piores depois que o governo desvalorizou o real, segundo levantamento do Bic Banco feito com 191 empresas de sete setores.
Antes de o governo liberar o câmbio, as empresas previam para 99 um faturamento real 0,5% maior, em média, do que o de 98. Para a projeção, elas consideraram uma inflação anual de 2%.
Assim que o governo liberou o câmbio, elas refizeram as previsões. Agora, as empresas dos setores agropecuário, bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e não-duráveis, atacadistas e varejistas acham que o faturamento real não cresce.
Deve cair entre 3% e 4%, em média, e isso considerando uma inflação anual entre 6% e 7%. Na época da pesquisa, a desvalorização do real estava em torno de 25%.
Luiz Rabi, chefe do departamento econômico do Bic Banco, diz que é bem provável que as empresas estejam até mais pessimistas do que há dez dias, quando começaram a responder aos questionários, pois a desvalorização do real já superou 50%.
Na sua análise, as empresas prevêem queda de faturamento real, especialmente em razão da perda do poder de compra do consumidor com a volta da inflação, do ajuste fiscal, que resulta na diminuição de renda na economia, e da retração dos investimentos.
Pela pesquisa do Bic Banco, o faturamento nominal das empresas já cresce com a desvalorização. Antes da mexida no câmbio, 76,8% das empresas previam aumento do faturamento nominal. Depois do câmbio flutuante, 81% delas já projetam o aumento do faturamento nominal.
Paulo Mallmann, diretor financeiro do Bic Banco, diz que o faturamento nominal deve crescer sobretudo em razão da alta dos preços e da expectativa do aumento das exportações.
Pela pesquisa do Bic Banco, a desvalorização do real não terá grande impacto sobre o nível de emprego. Antes da mudança no câmbio, as empresas consultadas previam, na média, uma redução de 1,2% no quadro de funcionários. Depois, esse percentual caiu para 0,9%.
Segundo o levantamento do banco, antes da mudança na política cambial, 39,1% das empresas previam redução no nível de emprego. Depois, 32,1%.
"O fato é que as empresas já previam demissões antes da mudança e continuam prevendo. Esses números não mostram grandes alterações", afirma Rabi.

Exportação
Na pesquisa do Bic Banco, as perspectivas de exportações é que melhoraram. Antes da desvalorização do real, 84,5% das empresas projetavam aumento das vendas no mercado externo. Agora, 91,8% prevêem que vão exportar mais. Nos cálculos do banco, na média, as empresas consultadas vão vender no mercado internacional 6,8% mais em 99. Antes da mexida no câmbio, esse percentual era 5,1%.
"A desvalorização vai dar impulso ao setor exportador, mas isso não será suficiente para compensar a queda da atividade de setores que atendem ao mercado interno", afirma Rabi. Mallmann acredita que as empresas exportadoras podem até empregar mais.
O setor agropecuário, na análise do banco, se demitir, vai ser menos do que outros setores, pois é exportador e foi favorecido com a desvalorização do real.
A indústria de bens duráveis (eletroeletrônicos) já deve dispensar mais porque é muito dependente de insumos importados, que encareceram. As fábricas de alimentos, pelas considerações do banco, já sentirão menos os efeitos da desvalorização.

Déficit
Para Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP), recessão e desemprego vão marcar o ano de 99, com ou sem o aumento das exportações.
"Com a inflação, diminui o poder de compra. "Mas, se o governo acertar o déficit público, a balança comercial e as contas correntes, não será o pior dos mundos."
Para ele, o pior dos mundos é o país ter de conviver com recessão, inflação e câmbio descontrolados e continuar a ver o gasto do governo ser maior do que a receita. "Aí estaríamos voltando à década de 80", afirmou.
Antes mesmo da desvalorização do real, segundo o levantamento do Bic Banco, as empresas já estavam cautelosas com os investimentos. Numa pesquisa feita no início de janeiro com 234 empresas, 44% delas informaram que os investimentos para 99 estavam adiados ou cancelados.



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