São Paulo, segunda, 8 de fevereiro de 1999

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Matéria-prima fica até 145% mais cara

SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local

Um levantamento do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo) junto a 106 micro e pequenas empresas servirá de munição para que a entidade se una ao governo para barrar os aumentos de matérias-primas.
A esmagadora maioria das empresas, 91,8%, declarou que as matérias-primas que utilizam na produção sofreram aumento. Uma parte disso pode ser creditada à desvalorização do real, diz o presidente do Simpi, Joseph Couri. "Mas uma parte significativa é pura especulação", afirmou.
A sondagem com as empresas mostrou que as variações de preços partiram de 3%, alcançando até 145% em alguns casos. Praticamente a metade delas, 49%, está encarando reajustes de mais de 21%, sendo que 18% declararam que suas matérias-primas encareceram mais de 18%.
Considerando que o dólar ficou 51,2% mais caro desde a mudança da política cambial, Couri conclui que muitos dos aumentos são abusivos. O levantamento do Simpi não tem capacidade de captar a realidade de todo o universo das empresas, mas indica uma clara tendência entre a maioria das micro e pequenas empresas.
Mas esse é apenas um primeiro levantamento. Couri espera que mais empresas respondam aos questionários para que o movimento para barrar os aumentos atinja o maior número possível de estabelecimentos.
O perigo, alerta Couri, é a retomada da inflação. "E, se o processo não for invertido, haverá uma quebradeira de empresas."
O Estado de São Paulo tem 152 mil micro e pequenas indústrias, 5.000 delas são associadas ao Simpi. A entidade considera micro e pequenas empresas aquelas que têm menos de cem trabalhadores. As micros faturam até R$ 120 mil por ano e as pequenas, entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. Respondem por 25% do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, cerca de US$ 200 bilhões de produção por ano.
Elas somam 94% do número de empresas no país e geram 60% dos empregos industriais. Mas pagam salários mais baixos. Enquanto as grandes indústrias pagam, em média, 8,4 salários mínimos para cada trabalhador, nas micro e pequenas o empregado ganha, em média, 4,2 salários mínimos.
A capacidade de resistência aos aumentos das micro e pequenas empresas é bastante limitada. Couri afirma que os fornecedores das principais matérias-primas usadas por essas indústrias formam oligopólios que repassam aumentos com facilidade.
Na sondagem da entidade, constam 38 matérias-primas que tiveram aumento, muitos dos quais abusivos. Elas variam de resinas, tintas e parafina a cerdas de náilon, zinco e fios têxteis.
Na maioria das vezes, esses materiais são importados ou produzidos internamente por grandes grupos e vendidos para as micro e pequenas indústrias. Essas empresas normalmente se localizam nas fazes intermediárias e no final da cadeia produtiva.
"Se um empresário grita sozinho, ele morre. O fornecedor simplesmente deixa-o sem produto", diz Couri. Por isso ele quer uma ação do Simpi coordenada com a SDE (Secretaria de Direito Econômico) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Para o gerente de pesquisas econômicas do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Marco Aurélio Bedê, sondagens da entidade mostram que as taxas de juro altas têm um impacto tão destrutivo para as micro e pequenas indústrias quanto o reajuste de matérias-primas.
"A pressão de custos combinada à retração da demanda e à queda da rentabilidade é o pior dos mundos para essas empresas", afirmou Bedê. O cenário deverá contar, ainda, com a restrição do crédito, pois cresce o medo da inadimplência e os bancos ficam mais restritivos.
O primeiro conselho a esses empresário, diz Bedê, é: procurem ajustar o nível de produção ao que é demandado. Poderá ser necessário ajustar também o nível de empregos. O empresário deve evitar tomar empréstimos e, se tiver condições de exportar, que busque fazer isso o quanto antes.
O levantamento do Simpi mostra que 19,4% das empresas ouvidas exportam. Em um universo mais ampliado, são 10%.



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