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Matéria-prima fica até 145% mais cara
SILVANA QUAGLIO
da Reportagem Local
Um levantamento do Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo) junto
a 106 micro e pequenas empresas
servirá de munição para que a entidade se una ao governo para barrar
os aumentos de matérias-primas.
A esmagadora maioria das empresas, 91,8%, declarou que as matérias-primas que utilizam na produção sofreram aumento. Uma
parte disso pode ser creditada à
desvalorização do real, diz o presidente do Simpi, Joseph Couri.
"Mas uma parte significativa é pura especulação", afirmou.
A sondagem com as empresas
mostrou que as variações de preços partiram de 3%, alcançando
até 145% em alguns casos. Praticamente a metade delas, 49%, está
encarando reajustes de mais de
21%, sendo que 18% declararam
que suas matérias-primas encareceram mais de 18%.
Considerando que o dólar ficou
51,2% mais caro desde a mudança
da política cambial, Couri conclui
que muitos dos aumentos são abusivos. O levantamento do Simpi
não tem capacidade de captar a
realidade de todo o universo das
empresas, mas indica uma clara
tendência entre a maioria das micro e pequenas empresas.
Mas esse é apenas um primeiro
levantamento. Couri espera que
mais empresas respondam aos
questionários para que o movimento para barrar os aumentos
atinja o maior número possível de
estabelecimentos.
O perigo, alerta Couri, é a retomada da inflação. "E, se o processo
não for invertido, haverá uma quebradeira de empresas."
O Estado de São Paulo tem 152
mil micro e pequenas indústrias,
5.000 delas são associadas ao Simpi. A entidade considera micro e
pequenas empresas aquelas que
têm menos de cem trabalhadores.
As micros faturam até R$ 120 mil
por ano e as pequenas, entre R$ 2
milhões e R$ 3 milhões. Respondem por 25% do PIB (Produto Interno Bruto), ou seja, cerca de US$
200 bilhões de produção por ano.
Elas somam 94% do número de
empresas no país e geram 60% dos
empregos industriais. Mas pagam
salários mais baixos. Enquanto as
grandes indústrias pagam, em média, 8,4 salários mínimos para cada
trabalhador, nas micro e pequenas
o empregado ganha, em média, 4,2
salários mínimos.
A capacidade de resistência aos
aumentos das micro e pequenas
empresas é bastante limitada. Couri afirma que os fornecedores das
principais matérias-primas usadas
por essas indústrias formam oligopólios que repassam aumentos
com facilidade.
Na sondagem da entidade, constam 38 matérias-primas que tiveram aumento, muitos dos quais
abusivos. Elas variam de resinas,
tintas e parafina a cerdas de náilon,
zinco e fios têxteis.
Na maioria das vezes, esses materiais são importados ou produzidos internamente por grandes grupos e vendidos para as micro e pequenas indústrias. Essas empresas
normalmente se localizam nas fazes intermediárias e no final da cadeia produtiva.
"Se um empresário grita sozinho, ele morre. O fornecedor simplesmente deixa-o sem produto",
diz Couri. Por isso ele quer uma
ação do Simpi coordenada com a
SDE (Secretaria de Direito Econômico) e o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Para o gerente de pesquisas econômicas do Sebrae-SP (Serviço
Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Marco Aurélio
Bedê, sondagens da entidade mostram que as taxas de juro altas têm
um impacto tão destrutivo para as
micro e pequenas indústrias quanto o reajuste de matérias-primas.
"A pressão de custos combinada
à retração da demanda e à queda
da rentabilidade é o pior dos mundos para essas empresas", afirmou
Bedê. O cenário deverá contar, ainda, com a restrição do crédito, pois
cresce o medo da inadimplência e
os bancos ficam mais restritivos.
O primeiro conselho a esses empresário, diz Bedê, é: procurem
ajustar o nível de produção ao que
é demandado. Poderá ser necessário ajustar também o nível de empregos. O empresário deve evitar
tomar empréstimos e, se tiver condições de exportar, que busque fazer isso o quanto antes.
O levantamento do Simpi mostra
que 19,4% das empresas ouvidas
exportam. Em um universo mais
ampliado, são 10%.
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