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ANO DO DRAGÃO
Até os fundos DI já perdem para a variação de preços; analistas temem que investidor parta para o consumo
Inflação corrói poupança pelo 6º mês seguido
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
A resistência da inflação em recuar tem trazido grandes prejuízos para os investidores brasileiros. Em fevereiro, os ganhos da
caderneta de poupança completaram seu sexto mês consecutivo no
vermelho. Até os fundos DI já
contabilizam cinco meses de rentabilidade líquida (descontado o
IR) inferior à inflação oficial medida pelo IPCA (Índice de Preços
ao Consumidor Amplo).
Esse é o cenário do chamado juro real negativo, em que os ganhos dos investidores são corroídos pela alta dos preços.
No mês passado, a poupança
apresentou rentabilidade de
0,913%. Já os fundos DI -considerados os mais conservadores,
embora também ofereçam riscos- tiveram retorno de 1,49%.
Ambos tendem a perder para o
IPCA, que deve ter fechado fevereiro em 1,6%, segundo a projeção média do mercado medida
pelo relatório Focus do BC.
Consumo desenfreado?
Quando a rentabilidade da poupança e dos fundos começou a
perder para o IPCA, no ano passado, analistas alertavam para o risco de que, desiludidos com os ganhos de suas aplicações, os investidores partissem para o consumo. Mas faziam a ressalva de que
era possível que o BC conseguisse
controlar a inflação e a rentabilidade real se recuperasse.
Agora, com a aparente baixa eficiência da política monetária, as
expectativas de inflação seguem
em alta, e os riscos de que os investidores optem pelo consumo
assustam ainda mais.
"Por enquanto, as pessoas
acham que essa situação é transitória. Por isso, têm migrado da
poupança para fundos DI, nos
quais perdem menos. Mas, se a situação persistir, há o risco de que
partam para o consumo", afirma
Carlos Carvalho, sócio da Questus
Asset Management.
Segundo Marcelo D'Agosto, sócio da consultoria InvestMate, a
insatisfação de investidores com
os ganhos das aplicações financeiras tem se traduzido, por enquanto, em uma migração de recursos
da poupança para o mercado de
fundos [leia texto abaixo".
"Nos fundos, apesar do retorno
negativo recentemente, as perdas
são menores do que na poupança.
O temor é que, se os juros reais
continuarem negativos, os investidores decidam partir para o
consumo", afirma o especialista.
Histórico
A rentabilidade da poupança e
dos fundos DI já perde para o IPCA até em um período acumulado de 12 meses.
Entre março de 2002 e fevereiro
deste ano, as cadernetas garantiram aos poupadores retorno de
9,71% e os fundos DI deram
14,81% de ganho líquido aos investidores. Com base na projeção
do mercado para fevereiro, o IPCA acumulado no mesmo período deverá ser de 15,88%. Esse cenário de perdas seguidas dos investimentos para a alta dos preços
não acontecia no Brasil desde
1992, época da hiperinflação.
O especialista Mauro Halfeld,
professor de finanças da Universidade Federal do Paraná, lembra
que, se os investidores brasileiros
amargam perdas hoje, já faturaram alto com aplicações em juros
nos últimos anos.
Segundo cálculos, o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), taxa que baliza a rentabilidade dos fundos DI, tiveram, entre
julho de 1994 e janeiro deste ano,
ganhos brutos médios de 17,61%
acima do IPC (Índice de Preços ao
Consumidor), da Fipe, por ano.
Esse número seria ainda maior
não fosse o avanço da inflação no
segundo semestre de 2002.
Já a poupança apresentou retorno médio anual de 4,5% sobre o
IPC no mesmo período. "O investidor brasileiro terá de se acostumar com ganhos mais modestos.
A festa dos juros reais altos está
chegando ao fim", diz Halfeld.
Segundo ele, o possível bom resultado desse fenômeno é que aumente a demanda por ativos reais
-como imóveis e ações.
"Acho que os investidores partirão para ativos reais e terão de diversificar suas aplicações, assumindo riscos maiores, se quiserem ganhos altos."
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