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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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OPINIÃO ECONÔMICA

Razões e riscos do plano B

GESNER OLIVEIRA

A discussão surrealista em torno de um plano B, isto é, de um programa econômico alternativo ao do governo recém-empossado que poderia ser implementado a qualquer momento, revela a impaciência da sociedade em relação ao crescimento econômico.
Uma rápida retrospectiva do desempenho da economia brasileira nas últimas décadas ajuda a entender o fenômeno. Tome-se, por exemplo, o comportamento das taxas de crescimento do PIB e da inflação no período 1910-2002.
Em 47 dos 93 anos pesquisados, a economia cresceu a uma taxa superior a 5% ao ano. Apesar das oscilações, essa experiência de rápida expansão marcou sobretudo as décadas de 50, 60 e 70.
Em 30 dos 47 anos de crescimento rápido a inflação chegou ao patamar incivilizado dos dois dígitos. Da mesma forma, aliás, como perigosamente apontam, nesta semana, as expectativas compiladas pelo Banco Central para 2003. Em cinco anos de expansão acelerada a inflação superou os dois dígitos.
O problema é que a inflação não estaciona em dois dígitos. A tendência à indexação torna-se irresistível, pois uma ampla gama de setores quer legitimamente se proteger contra a perda de poder aquisitivo da moeda.
Quando isso ocorre e a economia é exposta a choques externos, como os dois aumentos do preço do petróleo nos anos 70 ou a atual pressão no óleo diante da expectativa da guerra do Iraque, a explosão inflacionária é inevitável.
Uma vez perdido o controle sobre os preços, a economia entra em recessão. Chega-se ao pior dos mundos com inflação e queda do nível de atividade, conforme mostram os números do início dos anos 90.
O enorme esforço do Plano Real permitiu debelar a crise superinflacionária e desindexar a economia. Porém a taxa de crescimento se manteve abaixo da experiência histórica do pós-guerra e certamente aquém das expectativas da sociedade.
O Brasil cresceu mais após o Plano Real nos anos de crise inflacionária. A economia registrou expansão de 2,8% ao ano em 1993-01, contra 1,6% ao ano em 1980-93. Porém, no plano legítimo das aspirações, prevalece o contraste com o período 1949-80, durante o qual o país cresceu cerca de 7% ao ano.
Daí a impaciência com a política macro de curto prazo e os rumores de uma mudança de rota simbolizados no misterioso plano B. O problema é que mudanças frequentes de estratégia tendem a gerar resultados negativos, aumentando a volatilidade da economia.
Essa última característica, a oscilação das taxas de crescimento, é igualmente nociva para a economia. A exemplo de outros países em desenvolvimento, o Brasil tem registrado grande variação nas taxas de expansão. Para a maioria dos subperíodos do século 20, verifica-se elevada dispersão das taxas anuais em relação à média do período.
Em parte esse fenômeno é atribuível às mudanças da própria política econômica que não persegue de forma consistente um determinado objetivo, reforçando as expectativas de que ao menor sinal de dificuldade haverá um novo pacote de medidas. Isso retira o ingrediente indispensável de credibilidade e estimula apostas contra as ações do governo.
Em vez de especular em torno de planos B ou C, convém explicitar e implementar de uma vez um plano A.


Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia (Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.

Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br



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