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OPINIÃO ECONÔMICA
Razões e riscos do plano B
GESNER OLIVEIRA
A discussão surrealista em
torno de um plano B, isto é,
de um programa econômico alternativo ao do governo recém-empossado que poderia ser implementado a qualquer momento,
revela a impaciência da sociedade em relação ao crescimento econômico.
Uma rápida retrospectiva do
desempenho da economia brasileira nas últimas décadas ajuda a
entender o fenômeno. Tome-se,
por exemplo, o comportamento
das taxas de crescimento do PIB e
da inflação no período 1910-2002.
Em 47 dos 93 anos pesquisados,
a economia cresceu a uma taxa
superior a 5% ao ano. Apesar das
oscilações, essa experiência de rápida expansão marcou sobretudo
as décadas de 50, 60 e 70.
Em 30 dos 47 anos de crescimento rápido a inflação chegou
ao patamar incivilizado dos dois
dígitos. Da mesma forma, aliás,
como perigosamente apontam,
nesta semana, as expectativas
compiladas pelo Banco Central
para 2003. Em cinco anos de expansão acelerada a inflação superou os dois dígitos.
O problema é que a inflação
não estaciona em dois dígitos. A
tendência à indexação torna-se
irresistível, pois uma ampla gama
de setores quer legitimamente se
proteger contra a perda de poder
aquisitivo da moeda.
Quando isso ocorre e a economia é exposta a choques externos,
como os dois aumentos do preço
do petróleo nos anos 70 ou a atual
pressão no óleo diante da expectativa da guerra do Iraque, a explosão inflacionária é inevitável.
Uma vez perdido o controle sobre os preços, a economia entra
em recessão. Chega-se ao pior dos
mundos com inflação e queda do
nível de atividade, conforme mostram os números do início dos
anos 90.
O enorme esforço do Plano Real
permitiu debelar a crise superinflacionária e desindexar a economia. Porém a taxa de crescimento
se manteve abaixo da experiência
histórica do pós-guerra e certamente aquém das expectativas da
sociedade.
O Brasil cresceu mais após o
Plano Real nos anos de crise inflacionária. A economia registrou
expansão de 2,8% ao ano em
1993-01, contra 1,6% ao ano em
1980-93. Porém, no plano legítimo das aspirações, prevalece o
contraste com o período 1949-80,
durante o qual o país cresceu cerca de 7% ao ano.
Daí a impaciência com a política macro de curto prazo e os rumores de uma mudança de rota
simbolizados no misterioso plano
B. O problema é que mudanças
frequentes de estratégia tendem a
gerar resultados negativos, aumentando a volatilidade da economia.
Essa última característica, a oscilação das taxas de crescimento,
é igualmente nociva para a economia. A exemplo de outros países em desenvolvimento, o Brasil
tem registrado grande variação
nas taxas de expansão. Para a
maioria dos subperíodos do século 20, verifica-se elevada dispersão das taxas anuais em relação à
média do período.
Em parte esse fenômeno é atribuível às mudanças da própria
política econômica que não persegue de forma consistente um determinado objetivo, reforçando as
expectativas de que ao menor sinal de dificuldade haverá um novo pacote de medidas. Isso retira o
ingrediente indispensável de credibilidade e estimula apostas
contra as ações do governo.
Em vez de especular em torno
de planos B ou C, convém explicitar e implementar de uma vez um
plano A.
Gesner Oliveira, 46, é doutor em economia pela Universidade da Califórnia
(Berkeley), professor da FGV-EAESP, sócio-diretor da Tendências e ex-presidente do Cade.
Internet: www.gesneroliveira.com.br
E-mail - gesner@fgvsp.br
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