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COMÉRCIO EXTERIOR
Futuro parceiro da Alca vira maior destino exportador em 2002
Brasil vende mais aos EUA do que à UE
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao mesmo tempo em que o governo e os chamados setores produtivos, em maior ou menor grau
de envolvimento no debate, se debruçam para avaliar os efeitos da
formação da Alca, o Brasil vê aumentar a participação entre os
mercados de suas exportações do
país com o qual travará a maior
disputa na mesa de negociações.
Em 2002, pela primeira vez desde os anos 80, os EUA passaram a
União Européia (entre os blocos
econômicos) como principal destino das exportações brasileiras.
Dos US$ 60,3 bilhões em exportações, 25,7% (ou US$ 15,49 bilhões) foram para o mercado norte-americano. Os países que formam a UE absorveram o equivalente a 25% (US$ 15,07 bilhões).
Em 2001, era o inverso: a parcela
que coube aos EUA nas exportações de US$ 58,2 bilhões fora de
24,7%, e a da UE, 25,5% (US$ 14,8
bilhões). O Mercosul, em 1995
destino de 14% das vendas, reduziu sua fatia no bolo para 5% ao final de 2002. O fôlego das exportações aos vizinhos do Cone Sul foi
retomado só nos últimos meses,
com os sinais de que o colapso
econômico da Argentina teve fim.
Levantamento da Funcex (Fundação de Estudos de Comércio
Exterior) aponta que, entre 1990 e
1998, as exportações para os EUA
seguiram a mesma evolução dos
demais tradicionais compradores
do Brasil. Mas, a partir de 1999, no
entanto, o mercado americano
"se descolou". Entre 1999 e 2002,
as vendas aos parceiros do Norte
acumularam alta de 73,6% -em
quantum (quantidade). Bem acima da média da expansão brasileira para todos os blocos, que ficou em 42,4%. No mesmo período, por exemplo, o volume exportado para a UE cresceu não mais
que 31,7%, e para o Japão, 18,2%.
A estimativa dos economistas
da entidade é que os EUA elevem
em meio ponto sua participação
na pauta de exportações brasileiras e que a UE perca meio ponto
percentual em 2003.
A Funcex usa dois argumentos
para explicar o ""descolamento"
americano. O mais forte é que,
embora tenha sofrido uma brusca
desaceleração entre 2001 e 2002, a
economia norte-americana ainda
cresce em níveis muito superiores
aos da UE e do Japão. No ano passado, o PIB da zona do euro teve o
mais baixo crescimento em nove
anos: 0,8%. O do Japão, segundo
estimativas da OCDE, encolheu
0,7%. Enquanto isso, mesmo com
o resfriamento da demanda interna, a economia americana cresceu 2,5% em 2002.
""O fato de o Brasil ter aumentado as vendas não significa que
barreiras tarifárias e não-tarifárias deixaram de existir", lembra
Fernando Ribeiro, da Funcex.
Natureza
O segundo item a que se deve a
aceleração nas vendas para os
EUA está na natureza dos produtos. Tradicionalmente, o Brasil
concentra suas exportações para
o mercado americano em manufaturados. O mesmo não acontece
com a Europa e o Japão, para os
quais são destinados produtos básicos (como carnes, alimentos e
minerais). "Os manufaturados foram os mais sensíveis à desvalorização do real, a partir de 99. Com
o manufaturado, o comprador
consegue negociar preço. No caso
das commodities, não, porque os
preços são determinados pelo
mercado mundial", diz Ribeiro.
Entre 1998 e 2002, o volume exportado de eletrônicos para os
EUA aumentou 291%; o de produtos alimentícios, 236%, e o de
têxteis, 218%.
Máquinas
O setor de máquinas serve como paradigma. Até 2001, as exportações para os EUA representavam 29% do faturamento total.
No ano passado, subiram a 35%
-contra 21% da UE. "Com o dólar em um patamar mais estável,
deveremos neste ano ter um aumento maior no volume financeiro, e não só no volume físico das
vendas", avalia Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq.
As estimativas da Abimaq são
que as exportações do setor aos
EUA aumentem entre 10% e 12%.
Para os demais blocos (Europa,
Ásia e Mercosul), entre 7% e 8%.
""Mas esse cenário não inclui
guerra, cujas consequências ninguém sabe mensurar", completa.
Para a Funcex, o fato de os EUA
absorverem sozinhos um quarto
das exportações não é causa de
alarme. ""Reflete apenas a situação
macroeconômica global. Tivéssemos uma pauta [de exportações"
menos diversificada e poucos
parceiros comerciais, seria preocupante. Mas não é esse o caso do
Brasil", diz Fernando Ribeiro.
Abertura do ano
No primeiro bimestre deste ano,
as exportações para os EUA somaram US$ 2,668 bilhões -aumento de 18,4% em relação ao
mesmo período de 2002.
No caso da UE, o valor exportado subiu de US$ 1,836 bilhão nos
primeiros dois meses de 2002 para US$ 2,39 bilhões em igual período de 2003 (mais 30,2%). Pelas
projeções da Funcex, haverá um
realinhamento ao longo dos próximos meses -ainda baseado no
melhor desempenho econômico
dos EUA-, que garantiria ao país
manter-se como principal destino
das vendas nacionais. Puxadas
pelo mercado argentino, as exportações para o Mercosul subiram 79,1% no primeiro bimestre.
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