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São Paulo, sábado, 08 de março de 2003

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COMÉRCIO EXTERIOR

Futuro parceiro da Alca vira maior destino exportador em 2002

Brasil vende mais aos EUA do que à UE

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao mesmo tempo em que o governo e os chamados setores produtivos, em maior ou menor grau de envolvimento no debate, se debruçam para avaliar os efeitos da formação da Alca, o Brasil vê aumentar a participação entre os mercados de suas exportações do país com o qual travará a maior disputa na mesa de negociações.
Em 2002, pela primeira vez desde os anos 80, os EUA passaram a União Européia (entre os blocos econômicos) como principal destino das exportações brasileiras. Dos US$ 60,3 bilhões em exportações, 25,7% (ou US$ 15,49 bilhões) foram para o mercado norte-americano. Os países que formam a UE absorveram o equivalente a 25% (US$ 15,07 bilhões). Em 2001, era o inverso: a parcela que coube aos EUA nas exportações de US$ 58,2 bilhões fora de 24,7%, e a da UE, 25,5% (US$ 14,8 bilhões). O Mercosul, em 1995 destino de 14% das vendas, reduziu sua fatia no bolo para 5% ao final de 2002. O fôlego das exportações aos vizinhos do Cone Sul foi retomado só nos últimos meses, com os sinais de que o colapso econômico da Argentina teve fim.
Levantamento da Funcex (Fundação de Estudos de Comércio Exterior) aponta que, entre 1990 e 1998, as exportações para os EUA seguiram a mesma evolução dos demais tradicionais compradores do Brasil. Mas, a partir de 1999, no entanto, o mercado americano "se descolou". Entre 1999 e 2002, as vendas aos parceiros do Norte acumularam alta de 73,6% -em quantum (quantidade). Bem acima da média da expansão brasileira para todos os blocos, que ficou em 42,4%. No mesmo período, por exemplo, o volume exportado para a UE cresceu não mais que 31,7%, e para o Japão, 18,2%.
A estimativa dos economistas da entidade é que os EUA elevem em meio ponto sua participação na pauta de exportações brasileiras e que a UE perca meio ponto percentual em 2003.
A Funcex usa dois argumentos para explicar o ""descolamento" americano. O mais forte é que, embora tenha sofrido uma brusca desaceleração entre 2001 e 2002, a economia norte-americana ainda cresce em níveis muito superiores aos da UE e do Japão. No ano passado, o PIB da zona do euro teve o mais baixo crescimento em nove anos: 0,8%. O do Japão, segundo estimativas da OCDE, encolheu 0,7%. Enquanto isso, mesmo com o resfriamento da demanda interna, a economia americana cresceu 2,5% em 2002.
""O fato de o Brasil ter aumentado as vendas não significa que barreiras tarifárias e não-tarifárias deixaram de existir", lembra Fernando Ribeiro, da Funcex.

Natureza
O segundo item a que se deve a aceleração nas vendas para os EUA está na natureza dos produtos. Tradicionalmente, o Brasil concentra suas exportações para o mercado americano em manufaturados. O mesmo não acontece com a Europa e o Japão, para os quais são destinados produtos básicos (como carnes, alimentos e minerais). "Os manufaturados foram os mais sensíveis à desvalorização do real, a partir de 99. Com o manufaturado, o comprador consegue negociar preço. No caso das commodities, não, porque os preços são determinados pelo mercado mundial", diz Ribeiro.
Entre 1998 e 2002, o volume exportado de eletrônicos para os EUA aumentou 291%; o de produtos alimentícios, 236%, e o de têxteis, 218%.

Máquinas
O setor de máquinas serve como paradigma. Até 2001, as exportações para os EUA representavam 29% do faturamento total. No ano passado, subiram a 35% -contra 21% da UE. "Com o dólar em um patamar mais estável, deveremos neste ano ter um aumento maior no volume financeiro, e não só no volume físico das vendas", avalia Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Abimaq.
As estimativas da Abimaq são que as exportações do setor aos EUA aumentem entre 10% e 12%. Para os demais blocos (Europa, Ásia e Mercosul), entre 7% e 8%. ""Mas esse cenário não inclui guerra, cujas consequências ninguém sabe mensurar", completa.
Para a Funcex, o fato de os EUA absorverem sozinhos um quarto das exportações não é causa de alarme. ""Reflete apenas a situação macroeconômica global. Tivéssemos uma pauta [de exportações" menos diversificada e poucos parceiros comerciais, seria preocupante. Mas não é esse o caso do Brasil", diz Fernando Ribeiro.

Abertura do ano
No primeiro bimestre deste ano, as exportações para os EUA somaram US$ 2,668 bilhões -aumento de 18,4% em relação ao mesmo período de 2002.
No caso da UE, o valor exportado subiu de US$ 1,836 bilhão nos primeiros dois meses de 2002 para US$ 2,39 bilhões em igual período de 2003 (mais 30,2%). Pelas projeções da Funcex, haverá um realinhamento ao longo dos próximos meses -ainda baseado no melhor desempenho econômico dos EUA-, que garantiria ao país manter-se como principal destino das vendas nacionais. Puxadas pelo mercado argentino, as exportações para o Mercosul subiram 79,1% no primeiro bimestre.


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