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REESTATIZAÇÃO?
Mark Smith, vice-presidente da Câmara de Comércio norte-americana, alerta para impasse no caso AES
EUA detectam retrocesso na privatização
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Mark Smith, vice-presidente da
Câmara de Comércio dos Estados
Unidos, afirma que o impasse entre a AES e o BNDES no Brasil está
"passando a percepção" aos investidores norte-americanos de
que o governo Lula está "retrocedendo, voltando atrás, no processo de privatização".
A Câmara de Comércio dos
EUA representa as 75 maiores
empresas americanas com investimentos no Brasil. "Não seria
bom para o Brasil perder esse tipo
de investimento", diz Smith. "O
governo Lula deveria manter aceso o sinal de que estão abertos ao
diálogo para resolver os problemas atuais."
O maior "problema atual" é entre a AES, controladora da Eletropaulo, e o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Soma US$ 1,13 bilhão ( cerca de R$ 4 bilhões), valor
da dívida que a energética está
tendo dificuldades de saldar junto
ao banco.
Leia entrevista que Smith deu
ontem à Folha em Washington:
Folha - Como o sr. avalia o atual
impasse entre o BNDES e a AES e
quais as consequências para as outras empresas americanas que têm
investimentos no Brasil?
Mark Smith - Em primeiro lugar,
gostaria de ver o problema resolvido da melhor maneira possível
para as duas partes. Mas a principal questão são as implicações diretas que serão geradas da análise
de como crises como essa são solucionadas pelo governo.
Folha - Que implicações?
Smith - O que temos hoje? Um
mercado muito desconfiado em
relação ao passado de Lula. Ele
tem feito um grande trabalho para mostrar que vai fazer exatamente o que disse durante a campanha eleitoral. Mas ainda há
muito medo em relação a ele. Em
momentos como esse, a realidade
não tem importância. O fato é que
há uma percepção de que o governo brasileiro não está aberto ao
diálogo e não está olhando para
uma saída criativa. A percepção é
que o Brasil está retrocedendo, está voltando para trás no processo
de privatização.
Folha - Essa percepção está se generalizando?
Smith - Gostaria que não estivesse, mas infelizmente esse é o perigo que está implícito nessa discussão. Idealmente, gostaríamos
de ver uma grande vontade política da administração Lula em encontrar uma solução criativa que
fosse favorável a todos.
Folha - Que outros sinais negativos o país tem dado?
Smith - Há uma série de problemas em áreas pesadamente reguladas, como o setor elétrico. Há
uma discussão em torno da criação de novos modelos. Os setores
elétrico e de telefonia estão em
crise. As empresas não conseguem reaver o dinheiro investido,
os consumidores estão pagando
caro pelos serviços oferecidos e as
agências regulatórias do governo
não estão trabalhando no sentido
que deveriam. A solução seria
ampliar o debate sobre o assunto.
Pensar em uma estrutura regulatória nova a partir de um debate
maior com as empresas. O governo deveria encontrar uma solução que permitisse às empresas
continuar no país. Não seria bom
para o Brasil perder esse tipo de
investimento. O governo brasileiro deveria manter aceso o sinal
que vinha enviando até aqui aos
investidores internacionais.
Folha - E qual sinal os srs. estão
recebendo neste momento?
Smith - O de que eles não tomaram uma decisão. Se o governo
brasileiro conseguir aparecer com
uma solução que permita ao investimento estrangeiro permanecer no país e ao BNDES receber o
que tem direito, essa é uma boa
solução. O sinal que será dado ao
resultado desse impasse será muito importante. Até aqui, o nível de
diálogo entre uma empresa como
a AES, que investiu milhões de
dólares, e o governo brasileiro,
particularmente o BNDES, infelizmente não tem sido tão robusto
como o nível da atual crise exigiria.
Folha - O Ministério de Minas e
Energia chegou a cogitar a retomada da companhia. O sr. considera
isso uma ameaça?
Smith - É mais do que uma
ameaça. É uma possibilidade. Está no contrato. Mas o melhor seria
que a AES conseguisse pagar as
suas dívidas e que mantivesse
seus investimentos. Para o governo brasileiro, o melhor seria não
ter de falar em retomar o controle
da companhia.
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