São Paulo, quinta-feira, 08 de março de 2007

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Indústria e centrais criticam corte menor no juro

Entidades vêem risco de comprometer crescimento

DA REPORTAGEM LOCAL

A redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, anunciada ontem pelo Copom, deve comprometer o crescimento da economia no primeiro semestre e mostra falta de sintonia da equipe econômica com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), segundo afirmam entidades empresariais e centrais sindicais.
"Há pouco mais de um mês, esperávamos que o Copom fosse reduzir a Selic em 0,5 ponto percentual, acrescentando otimismo ao então recém-divulgado PAC. No entanto o organismo frustrou essa expectativa, estabelecendo queda de apenas 0,25 ponto percentual", afirmou Paulo Skaf, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). "Precisamos chegar a dezembro com taxa máxima de 9,75% [de juros] ao ano, o que significaria juros reais de 6%. Ou não há PAC que resolva o gargalo do crescimento", disse.
Para Newton de Mello, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), mais uma vez o Copom se mostrou "tímido" nas decisões. Ele afirmou que uma redução "mais significativa dos juros contribuiria para diminuir o fluxo de aplicações financeiras de investidores estrangeiros em títulos brasileiros".
Segundo o empresário, as autoridades monetárias "estariam colaborando para melhorar a situação cambial, que está estrangulando o desenvolvimento industrial brasileiro, devido à apreciação do real".

Equivocada e medíocre
"[A redução] é decepcionante e frustra os trabalhadores. A decisão do Copom é equivocada, com pouco impacto para tirar o país da atual estagnação econômica, e compromete o primeiro semestre deste ano, que já caminha para um crescimento raquítico", afirmou Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
Na avaliação da CUT, a redução é "medíocre". "Em apenas dois dias, o Banco Central e seu Copom conseguiram se superar nas demonstrações de subserviência ao sistema financeiro. Ontem [anteontem] foi absurda a decisão de baixar a remuneração da poupança e das contas individuais do FGTS. Hoje [ontem], mais um corte pífio da taxa básica de juros", disse Artur Henrique, presidente da CUT.
Para as centrais, a política econômica adotada pelo governo Lula não cria condições para o aumento da produção e a criação de empregos.
A Associação Comercial de São Paulo informou que a redução era esperada, em decorrência das turbulências dos mercados internacionais, mas está "abaixo da desejada", segundo Guilherme Afif Domingos, presidente da entidade.
Para Orlando Diniz, presidente da Fecomércio-Rio de Janeiro, "essa mísera redução do índice manterá o país com uma taxa básica de juro nominal de mais de 10% e acima de 50% para a ponta, onde está o consumidor".

Coerência
O diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco, Octavio de Barros, considerou coerente a ação do Banco Central. Para ele, o mercado deve ficar atento à ata do Copom, que será divulgada na próxima semana, para entender se a equipe econômica vê espaço para aumentar o ritmo dos cortes dos juros.
"Pelo que percebo, a estratégia do BC é manter o atual ritmo, com o objetivo de evitar a todo custo aumentar os juros em 2008, pois os dados do quarto trimestre do ano passado são sinais inequívocos de que a economia brasileira está crescendo", ponderou ele.


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