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Bancos vêem risco de excesso de regulação
Executivos temem que, na tentativa de evitar crises como a do "subprime", autoridades regulatórias engessem serviços financeiros
Membros de conselhos de instituições sofrem críticas por não terem
questionado grandes retornos de operações
MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
JANAÍNA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO
Nos intervalos dos painéis da
reunião do IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla
em inglês) no Rio de Janeiro,
que se encerrou ontem, alguns
executivos comentaram em
"off" a preocupação de que autoridades regulatórias se excedam na criação de normas para
evitar novas crises como a do
"subprime" e acabem por engessar os serviços financeiros.
Eugene Ludwig, presidente
do Promontory Group, LLC,
ressoou o temor. "Os supervisores estão indo do lado errado." Ludwig, que preside um
aglomerado de empresas que
fornecem produtos e serviços
para instituições financeiras,
condenou a uniformização da
supervisão dos mercados, defendida, entre outras autoridades regulatórias, pelo BIS
(Bank of International Settlements). Para a instituição, que
funciona como um banco dos
bancos, com sede em Basiléia,
os bancos centrais deveriam
discutir regras comuns.
"Deveriam respeitar quem
faz o negócio", afirmou Ludwig
no encontro do Instituto de Finanças Internacionais, que
reúne 370 das maiores instituições financeiras de 65 países.
Ele recomendou às autoridades regulatórias "manter a coisa simples", minimizar a regulação. "Não fazem nenhum favor aos serviços financeiros ao
torná-los mais complicados."
O representante do Deutsche
Bank fez uma autocrítica.
"Fizemos novas estruturas
de crédito, mas não fizemos um
trabalho bem-feito. Precisamos fazer um mea-culpa: fizemos muito rápido", disse Hugo
Banziger, membro do Conselho de Administração do
Deutsche Bank e chefe da área
de risco do banco.
Risco
Banziger criticou membros
dos conselhos que não questionaram os grandes retornos.
"Não se perguntaram: para onde o risco está indo? Para onde,
não sabiam bem. Eram SIVs
["special investment vehicles",
veículos de investimento especial, que são empresas criadas
para abrigar operações de crédito fora dos balanços dos bancos], entre outras operações."
O executivo do Deutsche
Bank questionou ainda a qualificação de membros de conselhos dos bancos.
"As estruturas [novos produtos de crédito] são complexas.
É preciso treinar mais as pessoas", afirmou.
Para Banziger, é preciso que
se tenha conhecimento de todos os participantes do setor financeiro. "Uma visão holística
do mercado."
Roberto Setubal, presidente
do Banco Itaú, disse que normalmente o sistema financeiro
anda à frente da regulação.
"Ela vai sempre atrás da inovação. Não tem como ela correr
à frente de novos produtos.
Age, muitas vezes, depois de
uma crise."
"Vejo com normalidade as
normas regulatórias", acrescentou, "como forma de evitar
novas crises e de permitir que,
com criatividade, surjam novos
produtos que beneficiem os
usuários."
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