São Paulo, sábado, 08 de março de 2008

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Bancos vêem risco de excesso de regulação

Executivos temem que, na tentativa de evitar crises como a do "subprime", autoridades regulatórias engessem serviços financeiros

Membros de conselhos de instituições sofrem críticas por não terem questionado grandes retornos de operações

MARIA CRISTINA FRIAS
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

JANAÍNA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

Nos intervalos dos painéis da reunião do IIF (Instituto de Finanças Internacionais, na sigla em inglês) no Rio de Janeiro, que se encerrou ontem, alguns executivos comentaram em "off" a preocupação de que autoridades regulatórias se excedam na criação de normas para evitar novas crises como a do "subprime" e acabem por engessar os serviços financeiros.
Eugene Ludwig, presidente do Promontory Group, LLC, ressoou o temor. "Os supervisores estão indo do lado errado." Ludwig, que preside um aglomerado de empresas que fornecem produtos e serviços para instituições financeiras, condenou a uniformização da supervisão dos mercados, defendida, entre outras autoridades regulatórias, pelo BIS (Bank of International Settlements). Para a instituição, que funciona como um banco dos bancos, com sede em Basiléia, os bancos centrais deveriam discutir regras comuns.
"Deveriam respeitar quem faz o negócio", afirmou Ludwig no encontro do Instituto de Finanças Internacionais, que reúne 370 das maiores instituições financeiras de 65 países.
Ele recomendou às autoridades regulatórias "manter a coisa simples", minimizar a regulação. "Não fazem nenhum favor aos serviços financeiros ao torná-los mais complicados."
O representante do Deutsche Bank fez uma autocrítica.
"Fizemos novas estruturas de crédito, mas não fizemos um trabalho bem-feito. Precisamos fazer um mea-culpa: fizemos muito rápido", disse Hugo Banziger, membro do Conselho de Administração do Deutsche Bank e chefe da área de risco do banco.

Risco
Banziger criticou membros dos conselhos que não questionaram os grandes retornos. "Não se perguntaram: para onde o risco está indo? Para onde, não sabiam bem. Eram SIVs ["special investment vehicles", veículos de investimento especial, que são empresas criadas para abrigar operações de crédito fora dos balanços dos bancos], entre outras operações."
O executivo do Deutsche Bank questionou ainda a qualificação de membros de conselhos dos bancos.
"As estruturas [novos produtos de crédito] são complexas. É preciso treinar mais as pessoas", afirmou.
Para Banziger, é preciso que se tenha conhecimento de todos os participantes do setor financeiro. "Uma visão holística do mercado."
Roberto Setubal, presidente do Banco Itaú, disse que normalmente o sistema financeiro anda à frente da regulação.
"Ela vai sempre atrás da inovação. Não tem como ela correr à frente de novos produtos. Age, muitas vezes, depois de uma crise."
"Vejo com normalidade as normas regulatórias", acrescentou, "como forma de evitar novas crises e de permitir que, com criatividade, surjam novos produtos que beneficiem os usuários."


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