São Paulo, domingo, 08 de março de 2009

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Aperto no crédito ameaça pequena empresa

Recursos novos de bancos a empresas menores encolheram no mínimo 25% em janeiro; taxas de juros cobradas disparam

Com pouco acesso ao BNDES e a grandes bancos, empresas pequenas tentam renegociar as dívidas e os prazos com fornecedores e credores


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Maiores empregadoras do país, as pequenas e médias empresas enfrentam piores condições de financiamento com os bancos em 2009. Diante do aperto no crédito e da queda nas vendas, essas empresas tiveram de elevar a parcela do caixa para rolar as dívidas, que ficaram mais caras e curtas.
Como um todo, o setor privado terá neste ano vencimentos de R$ 380,5 bilhões em dívidas com os bancos, o maior volume já alcançado, segundo o Banco Central. Para o Sebrae, mais da metade desse volume são de empresas pequenas e médias.
São empresas com pouco acesso ao dinheiro do BNDES -só 10% dos desembolsos de 2008, equivalente a R$ 9,1 bilhões- e que são ou eram clientes de bancos pequenos, também prejudicados na crise.
Para essas empresas, o dinheiro novo dos bancos encolheu pelo menos 25% em janeiro, segundo o BC. As taxas de capital de giro, linha mais utilizada pelo segmento, saltaram de 33% ao ano, em agosto, para 36,8% em janeiro. No caso do desconto de duplicatas, as taxas dispararam de 47,5% para 61,1% de agosto a janeiro.
Com pouco dinheiro disponível, os bancos também priorizaram os créditos de maior volume -enquanto os novos empréstimos acima de R$ 10 milhões cresceram 28,46% de agosto até dezembro, os de menos de R$ 100 mil só se expandiram 12,7% no período.
Para honrar seus vencimentos, várias dessas empresas passaram a apelar a formas alternativas -e caras, com juros de 5% ao mês- de financiamento com as factorings, cujos desembolsos aumentaram mais de 20% e atingiram R$ 82,5 bilhões em dezembro.
"Os bancos não deixaram de atender as empresas grandes. Mas, como o cobertor é curto, há uma dificuldade de atender as pequenas. Uma parte dessa demanda migrou para o Banco do Brasil, que não consegue absorver tudo. As dificuldades estruturais das pequenas empresas são potencializadas neste momento adverso. Para quem já tinha dificuldade antes [da crise], a situação piorou", disse Carlos Alberto dos Santos, diretor financeiro do Sebrae.
"Quando essas empresas vão discutir com os bancos para tomar financiamento, elas não transmitem a segurança necessária para obter crédito com volumes, prazos e preços adequados. Quando teve a paralisação total do sistema, foram esses clientes que tiveram o limite cortado primeiro. Como as vendas em seguida não foram boas, aí entrou naquele círculo vicioso: vende pouco, o banco fica temeroso e corta rapidamente [o financiamento]", disse Fernando Blanco, presidente da Coface, maior seguradora de crédito do país. Na Coface, a sinistralidade de crédito dobrou desde setembro.
Sem dinheiro novo, as empresas em dificuldade partiram para negociar prazos e custos diretamente com fornecedores, os maiores interessados em mantê-las operando. Ou apelaram para as companhias mais sólidas que encabeçam os setores em que atuam, como Petrobras, Nestlé e Sadia. Essas empresas têm políticas de adiantamento de dinheiro para seus fornecedores e prestadores de serviços -ou seja, fazem o papel de intermediador financeiro nos setores em que atuam.
"Em condições normais, estaríamos vendo níveis de inadimplência gigantescos. E por que não vemos isso? Porque todo mundo está renegociando. Ou dá prazo ou vai para o pau [Justiça], que não interessa a ninguém", disse Blanco.
Com o fechamento do mercado para captações longas como debêntures, até empresas grandes passaram a se financiar com notas promissórias, com prazos curtos e taxas altas.
Empresa de origem espanhola, a OHL surpreendeu o mercado em 2007 ao levar as concessões da Régis Bittencourt e da Fernão Dias propondo pedágios baixos. À época, falava-se que conseguiria captar dinheiro no exterior com taxas menores do que a concorrência.
Para se financiar no ano passado, no entanto, a OHL teve de aceitar taxa de CDI mais 5% (16,5% ao ano) para captar R$ 200 milhões em promissórias de seis meses. A empresa pretende resgatar a dívida antes do vencimento, assim que receber empréstimo do BNDES, que deve cobrir 70% de suas necessidades de financiamento.
"Nós seguramos muito a emissão dessas promissórias para esperar o mercado melhorar. Mas não melhorou muito. Podemos lançar debêntures mais para o segundo semestre", disse Alessandro Levy, da OHL.
Assediada desde 2006 para abrir o capital na Bolsa, a cerâmica Eliane se financiava por promissórias desde meados do ano passado, com taxas de 17% (CDI mais 5,5%). O financiamento caro foi uma ponte até a formação de um fundo de recebíveis do Santander, com custo de 13% ao ano (CDI mais 1,5%). "Usamos a criatividade para fazer uma operação de longo prazo com custo menor", disse Ricardo Meira, diretor da Eliane.


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