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Aperto no crédito ameaça pequena empresa
Recursos novos de bancos a empresas menores encolheram no mínimo 25% em janeiro; taxas de juros cobradas disparam
Com pouco acesso ao BNDES
e a grandes bancos, empresas
pequenas tentam renegociar
as dívidas e os prazos com
fornecedores e credores
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Maiores empregadoras do
país, as pequenas e médias empresas enfrentam piores condições de financiamento com os
bancos em 2009. Diante do
aperto no crédito e da queda
nas vendas, essas empresas tiveram de elevar a parcela do
caixa para rolar as dívidas, que
ficaram mais caras e curtas.
Como um todo, o setor privado terá neste ano vencimentos
de R$ 380,5 bilhões em dívidas
com os bancos, o maior volume
já alcançado, segundo o Banco
Central. Para o Sebrae, mais da
metade desse volume são de
empresas pequenas e médias.
São empresas com pouco
acesso ao dinheiro do BNDES
-só 10% dos desembolsos de
2008, equivalente a R$ 9,1 bilhões- e que são ou eram clientes de bancos pequenos, também prejudicados na crise.
Para essas empresas, o dinheiro novo dos bancos encolheu pelo menos 25% em janeiro, segundo o BC. As taxas de
capital de giro, linha mais utilizada pelo segmento, saltaram
de 33% ao ano, em agosto, para
36,8% em janeiro. No caso do
desconto de duplicatas, as taxas
dispararam de 47,5% para
61,1% de agosto a janeiro.
Com pouco dinheiro disponível, os bancos também priorizaram os créditos de maior volume -enquanto os novos empréstimos acima de R$ 10 milhões cresceram 28,46% de
agosto até dezembro, os de menos de R$ 100 mil só se expandiram 12,7% no período.
Para honrar seus vencimentos, várias dessas empresas
passaram a apelar a formas alternativas -e caras, com juros
de 5% ao mês- de financiamento com as factorings, cujos
desembolsos aumentaram
mais de 20% e atingiram R$
82,5 bilhões em dezembro.
"Os bancos não deixaram de
atender as empresas grandes.
Mas, como o cobertor é curto,
há uma dificuldade de atender
as pequenas. Uma parte dessa
demanda migrou para o Banco
do Brasil, que não consegue absorver tudo. As dificuldades estruturais das pequenas empresas são potencializadas neste
momento adverso. Para quem
já tinha dificuldade antes [da
crise], a situação piorou", disse
Carlos Alberto dos Santos, diretor financeiro do Sebrae.
"Quando essas empresas vão
discutir com os bancos para tomar financiamento, elas não
transmitem a segurança necessária para obter crédito com
volumes, prazos e preços adequados. Quando teve a paralisação total do sistema, foram
esses clientes que tiveram o limite cortado primeiro. Como
as vendas em seguida não foram boas, aí entrou naquele círculo vicioso: vende pouco, o
banco fica temeroso e corta rapidamente [o financiamento]",
disse Fernando Blanco, presidente da Coface, maior seguradora de crédito do país. Na Coface, a sinistralidade de crédito
dobrou desde setembro.
Sem dinheiro novo, as empresas em dificuldade partiram
para negociar prazos e custos
diretamente com fornecedores, os maiores interessados em
mantê-las operando. Ou apelaram para as companhias mais
sólidas que encabeçam os setores em que atuam, como Petrobras, Nestlé e Sadia. Essas empresas têm políticas de adiantamento de dinheiro para seus
fornecedores e prestadores de
serviços -ou seja, fazem o papel de intermediador financeiro nos setores em que atuam.
"Em condições normais, estaríamos vendo níveis de inadimplência gigantescos. E por
que não vemos isso? Porque todo mundo está renegociando.
Ou dá prazo ou vai para o pau
[Justiça], que não interessa a
ninguém", disse Blanco.
Com o fechamento do mercado para captações longas como debêntures, até empresas
grandes passaram a se financiar com notas promissórias,
com prazos curtos e taxas altas.
Empresa de origem espanhola, a OHL surpreendeu o mercado em 2007 ao levar as concessões da Régis Bittencourt e
da Fernão Dias propondo pedágios baixos. À época, falava-se
que conseguiria captar dinheiro no exterior com taxas menores do que a concorrência.
Para se financiar no ano passado, no entanto, a OHL teve de
aceitar taxa de CDI mais 5%
(16,5% ao ano) para captar R$
200 milhões em promissórias
de seis meses. A empresa pretende resgatar a dívida antes do
vencimento, assim que receber
empréstimo do BNDES, que
deve cobrir 70% de suas necessidades de financiamento.
"Nós seguramos muito a
emissão dessas promissórias
para esperar o mercado melhorar. Mas não melhorou muito.
Podemos lançar debêntures
mais para o segundo semestre",
disse Alessandro Levy, da OHL.
Assediada desde 2006 para
abrir o capital na Bolsa, a cerâmica Eliane se financiava por
promissórias desde meados do
ano passado, com taxas de 17%
(CDI mais 5,5%). O financiamento caro foi uma ponte até a
formação de um fundo de recebíveis do Santander, com custo
de 13% ao ano (CDI mais 1,5%).
"Usamos a criatividade para fazer uma operação de longo prazo com custo menor", disse Ricardo Meira, diretor da Eliane.
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