São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Bolsa pede acionista atento, diz ombudsman

Embora conte com a proteção de órgãos reguladores, investidor deve fazer a sua parte buscando informações, diz Izalco Sardenberg

Para o novo ombudsman, mercado brasileiro "não é perfeito", mas amadureceu bastante e virou destaque no cenário internacional

DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde janeiro deste ano, o jornalista Izalco Sardenberg, 60, é o novo ombudsman da BM&FBovespa, com a função de resolver as queixas de todos os que se relacionam com a Bolsa -não só investidores mas fornecedores e empresas listadas também- e detectar demandas e preocupações. Na sua opinião, a relação dos pequenos acionistas com o mercado precisa ser uma via de mão dupla: as instituições devem protegê-los, e eles têm que se manter informados sobre sua vida financeira. Leia abaixo trechos da entrevista concedida à Folha.

 

FOLHA - A Bolsa brasileira tem ombudsman desde 2001. Do que se trata essa reformulação do cargo realizada no início deste ano?
IZALCO SARDENBERG
- No começo, o ombudsman atendia principalmente os investidores no mercado de ações no seu relacionamento com as corretoras, cuidando basicamente de questões como ordens de compra e venda que não foram executadas. A partir de 2010, o ombudsman passa a ser um canal direto de comunicação para qualquer público da Bolsa: empresas, fornecedores, imprensa. Além desse serviço mais tradicional, eu, como ombudsman, terei a função proativa de ouvir as preocupações desses públicos e levá-las à diretoria.

FOLHA - Como o senhor avalia o serviço de relação com investidores das empresas listadas na Bolsa? Os minoritários ainda reclamam muito de falta de transparência.
SARDENBERG
- Claro que existem problemas. Mas houve um avanço, sem nenhuma dúvida, substancial, nos últimos anos, em termos de governança corporativa. E os órgãos reguladores e outras entidades do mercado têm estado, sim, muito atentos para defender os interesses dos investidores individuais e impedir que sejam desrespeitados. Eles são importantíssimos para as empresas; para a Bolsa, são fundamentais. Hoje, um terço dos nossos investidores [em volume de transações] é de pessoa física.

FOLHA - Por mais que haja um esforço do Brasil de se colocar como um centro financeiro de nível internacional, o mercado local ainda não é maduro o suficiente, por motivos como as falhas do relacionamento das empresas com seus acionistas e a relativamente pequena participação da pessoa física.
SARDENBERG
- Acho que certamente temos um mercado hoje muito mais maduro do que há 15 ou 20 anos. Tanto é assim que, na crise internacional, o Brasil mostrou uma reação melhor porque o seu sistema regulatório estava muito mais estruturado do que o dos países desenvolvidos. A facilidade oferecida no país para transferência de dinheiro não se encontra por aí. A Bolsa também possui o Novo Mercado [que exige normas aprimoradas de governança corporativa] e um excelente sistema de garantias e controle de risco. Por isso, digo que tanto o mercado bancário como o de capitais estão muito evoluídos no Brasil. São perfeitos? Não. Sempre há o que ser feito, há onde avançar.

FOLHA - Um caso concreto em que o investidor precisaria da intervenção dos reguladores é o das ações antigas da Telebrás. A maior parte dos detentores desses papéis nem sabe que existem, e quem os procura passa sufoco para encontrá-los nos bancos custodiantes. O sistema não deveria ser mais organizado?
SARDENBERG
- É preciso ir atrás, essas ações não podem ter desaparecido. Se sumiram, é o caso de buscar uma solução nas instâncias competentes ou na Justiça. Na maior parte dos casos, os papéis estão lá, é que as pessoas não sabem porque não tinham conhecimento do mercado de capitais. Acho que hoje existe muito mais informação. Estamos falando em defesa do investidor, porém é preciso dizer que o investidor precisa tomar mais cuidado. Isso significa ler os extratos que recebe, acompanhar com atenção e carinho suas contas nos bancos. Ele costuma receber avisos sobre assembleias, mudanças, e nem abre. Então, vale para os dois lados. As instituições têm que proteger os investidores, porém eles também precisam fazer a lição de casa, precisam acompanhar os seus investimentos, porque esse é meio caminho andado para a segurança dos seus investimentos.


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