São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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França e Alemanha planejam Fundo Monetário Europeu

Para impedir novas crises como a da Grécia e proteger o euro, os dois governos querem que a UE crie uma instituição própria como alternativa ao FMI

FMI é visto como ingerência externa no bloco; em reunião com premiê grego, Sarkozy diz que fará o necessário para que país "não fique isolado"

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A BASILEIA

Nem FMI, nem pacote de resgate, nem empréstimo. Os principais sócios da zona do euro -a França e a Alemanha- planejam criar um Fundo Monetário Europeu para tirar países endividados como a Grécia do buraco, e a moeda comum, da alça de mira do mercado.
Segundo o "Financial Times", que cita autoridades nos dois governos, os detalhes de um plano para reforçar a cooperação econômica e o monitoramento entre os 16 países que adotam o euro foram apresentados pelo ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schäuble, no fim de semana.
"Não estamos planejando criar um concorrente para o FMI [Fundo Monetário Internacional], mas precisamos de uma instituição que mantenha o equilíbrio interno da zona do euro e que tenha à mão experiência e mecanismos de intervenção semelhantes", disse ao jornal "Welt am Sonntag".
O FME, cujo raio de ação seria restrito ao bloco, é a principal medida proposta, mas não a única -estão em pauta punições que vão da suspensão do direito de voto à exclusão de linhas de crédito da UE para quem estourar os gastos.
A ideia foi colocada em fevereiro pelos economistas Daniel Gros, do Centro para Estudos de Políticas Europeias (Bruxelas), e Thomas Mayer, do Deutsche Bank. Na época, Gros disse à Folha que a instituição poderia ser criada e se tornar operante em até seis semanas. "Você precisa de uma decisão do Conselho Europeu [de líderes da UE] para criar o fundo, depois pô-lo sob controle do grupo do euro e, por fim, usar a instrumentação de um organismo de implementação."
Para Gros, o mecanismo funcionaria melhor que outros da UE "porque seria automático e não precisaria de decisões em outras instâncias". Ademais, por ser um instrumento criado nos parâmetros europeus e com a contribuição de todos os países, o FME teria mais influência sobre os governos endividados locais do que o FMI, visto como ingerência externa.
Paris acenou positivamente ontem, quando o premiê grego, George Papandreou, se reuniu com Nicolas Sarkozy. O presidente francês foi mais incisivo sobre ajudar o país em crise do que Angela Merkel, que recebera Papandreou na sexta. Mas ele disse estar em total consonância com a chanceler alemã.
Uma ação para resgatar Atenas visa sobretudo fortalecer o euro, cuja cotação cai ante o risco de contaminação da região se a Grécia quebrar. "Se a Grécia precisar de ajuda, estaremos lá", afirmou Sarkozy. "Os principais atores no palco europeu estão decididos a fazer o que for necessário para a Grécia não ficar isolada."
O presidente francês também elogiou o governo do socialista Papandreou pela terceira leva de medidas fiscais em cinco meses, anunciada na semana passada. Com um deficit orçamentário em 12,7% do PIB que precisa cair a 2,8% até 2013, a Grécia quer economizar 4,8 bilhões neste ano.
O arrocho prevê subir impostos, congelar pensões e reduzir o 13º e o 14º salários. Apesar da greve geral convocada na quinta, pesquisa no país expõe uma população cindida: o apoio às medidas é de 46,6%, e a oposição, de 47,9%.


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