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RIQUEZA NO CAMPO
Alta do dólar e fim de estoques governamentais fazem explodir preços de produtos como milho, trigo e soja
Produtos agrícolas rendem mais que o ouro
MAURO ZAFALON
DA REDAÇÃO
Os produtos agrícolas deram
um banho de rentabilidade nos
últimos anos. Conseguiram vencer até mesmo o ouro, que sempre se destaca em períodos de turbulências internacionais ou de
guerras. Bom para os produtores,
ruim para os consumidores.
Ao contrário do que ocorria no
início do Real, os alimentos passaram a superar a taxa de inflação
no primeiro trimestre do ano.
Chamados de "âncora verde"
no início do Real, devido à pouca
variação, os agrícolas agora passam a ser os vilões da inflação.
Nem mesmo o início da safra
-que promete ser recorde- diminuiu as pressões.
As causas dos aumentos dos
produtos agrícolas são várias e
vêm tanto de problemas internos
de abastecimento como de pressões internacionais de demanda.
No mercado interno, um dos
principais problemas foi a alta do
dólar, o que tornou os produtos
brasileiros mais competitivos no
mercado internacional. Os preços
internos começaram a se alinhar
com os externos, em dólar.
Um caso típico é o do milho. O
início de exportações do produto
provocou elevação de até 168%
nos preços pagos aos produtores,
se considerados os valores do final de março de 2001 com os do
mesmo período do mês passado.
O ouro teve alta de 97%. Hoje, os
estoques governamentais estão
zerados e os preços agrícolas estão ao sabor do mercado. Outro
caso é do arroz, que, sem grandes
perdas de produção e sem aumento de consumo, ficou 90%
mais caro nos últimos dois anos.
No mercado interno, todos os
produtos que o governo zerou os
estoques tiveram expressiva elevação. Além da alta do arroz, o feijão subiu 395% nos últimos três
anos, se comparados os preços do
final do primeiro trimestre.
Segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas),
o arroz teve alta de 81% nos supermercados de São Paulo do início de 2001 ao final de março, enquanto o feijão subiu 122%.
A pressão para os consumidores veio também dos produtos exportáveis, que estão garantindo
crescente superávit na balança comercial nos últimos anos.
A soja, a líder atual da balança
comercial e que deverá render
US$ 8 bilhões ao país neste ano,
tem preços atuais 116% acima dos
de há dois anos. Essa valorização
se deve à elevação de 34%, em dólares, nos preços do produto na
Bolsa de Chicago.
Outro produto que foi fundamental no aumento dos custos
para os consumidores foi o milho.
Depois que os produtores descobriram o caminho do mercado
externo, a alta do produto é contínua. Os produtores recebem
atualmente, em média, R$ 20 por
saca do produto, 80% mais do que
no mesmo período de 2002.
Esse aumento salgado dos preços do milho afeta outra cadeia de
produção bem conhecida dos
consumidores: a de carnes. Avicultura e suinocultura são as mais
afetadas. Prova disso é que os preços atuais do frango, de R$ 1,50
por quilo na granja, superam em
45% os de há dois anos.
Os custos dos produtores agrícolas também acompanharam o
dólar e aumentaram. De uma forma geral, no entanto, houve forte
aumento de renda no campo.
Uma prova disso é que as terras
para o cultivo de soja no Paraná,
que em 2000 valiam de 400 a 500
sacas por alqueire, agora custam
de 1.000 a 1.200.
Outro sinal de ganho é que os
produtores pagam até 25% menos pelos implementos agrícolas,
quando cotados em sacas de soja.
Na compra de um Gol Special, os
produtores gastavam o correspondente a 900 sacas de soja em
março de 2001. Hoje, só 480 sacas.
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